Lucro da companhia caiu no segundo trimestre e investimento em novas lojas do varejo alimentar pode ficar abaixo do previsto em 2010.
Em um semestre extremamente agitado para o mercado de móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, o Ponto Frio, uma das maiores varejistas do setor, abriu apenas duas lojas, em Santa Catarina e no Distrito Federal. A movimentação no varejo aconteceu não só nos pontos de venda, onde a demanda por TV deu um salto às vésperas da Copa do Mundo, mas do lado de dentro do balcão. Máquina de Vendas e Magazine Luiza, os maiores rivais da rede, protagonizaram operações de fusão e aquisição para fazer frente ao movimento encabeçado pelo próprio grupo Pão de Açúcar, que reuniu na Globex os ativos de Ponto Frio, Casas Bahia e Extra Eletro, formando o gigante do setor de eletromóvel no país. Mas, até o momento, o gigante parece adormecido para o mercado.
"É possível que o papel sofra uma pressão até setembro, enquanto a companhia não divulga o guidance [estimativa] da nova Globex", diz a analista Juliana Campos, da Ativa Corretora. A pressão começou ontem mesmo: a ação do Pão de Açúcar caiu 5,5%, para R$ 60,35, enquanto o Índice Bovespa subiu 0,20%. Foi a quarta maior queda do Ibovespa, só ficando atrás das empresas de telefonia.
O lucro líquido do grupo Pão de Açúcar no segundo trimestre caiu 37,4%, para R$ 82,5 milhões. De acordo com o diretor financeiro da companhia, José Antônio Filippo, a queda se deve à adesão do Ponto Frio ao Programa de Recuperação Fiscal (Refis) do Rio de Janeiro, que aconteceu no segundo trimestre. "As condições oferecidas para renegociação da dívida, cujo valor original era de R$ 140 milhões, foram bastante interessantes", disse. O valor bruto final pago pela companhia caiu pela metade, a R$ 70 milhões. Adquirido em junho de 2009, o Ponto Frio só foi incorporado ao balanço do grupo no terceiro trimestre do ano passado.
Os investimentos em expansão estão sendo revistos, disse Filippo. "Investimos R$ 400 milhões no primeiro semestre e temos, para a segunda metade do ano, R$ 800 milhões comprometidos." Com isso, é possível que o investimento em bens de capital fique "um pouco abaixo" do que havia sido anunciado no início de 2010, de R$ 1,6 bilhão. Segundo Filippo, a empresa enfrenta dificuldades para encontrar espaço para novas unidades. "Talvez seja difícil cumprir o cronograma", disse, ressaltando que o grupo não vai abrir mão da "disciplina" nos investimentos e que a meta é garantir rentabilidade.
Mas o que deixou alguns analistas apreensivos foi o adiamento das projeções da Globex. No anúncio do novo acordo de fusão entre Ponto Frio e Casas Bahia, em 2 de julho, a companhia informou que anunciaria planos dentro de um mês. O prazo foi revisto para a segundo quinzena de setembro, disse Filippo. "Assim a companhia terá visão melhor das sinergias." Nenhum dado sobre a expansão do Ponto Frio foi informado. "O crescimento das duas redes [Ponto Frio e Casas Bahia] será conjunto, cada uma com um foco diferente."
A receita líquida do Pão de Açúcar subiu 12,7% para R$ 5,6 bilhões no trimestre. Nas mesmas lojas, as vendas brutas cresceram 4,6%, já deflacionadas pelo IPCA. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) subiu 4,2%, para R$ 359,7 milhões.
Segundo Filippo, a queda na margem bruta deve-se à maior participação da bandeira Assaí nos resultados. "O 'atacarejo' proporciona um faturamento maior [em relação às outras operações], mas um lajida menor", disse. As vendas líquidas do Assaí cresceram 46,7%.
Já o Ponto Frio registrou prejuízo de R$ 77,2 milhões, contra R$ 25,4 milhões do segundo trimestre de 2009. Segundo a empresa, houve aumento das vendas a prazo e do endividamento. Houve ainda uma mudança na política de descontos de recebíveis, que passaram a ser reconhecidos no próprio mês do desconto.
Veículo: Valor Econômico