Trigo e açúcar disparam nas bolsas em julho

Leia em 5min 30s

Seca na Europa derruba produção do cereal; atraso em embarques nos portos do Brasil afeta preços


 
Clima, dólar e incertezas em relação ao suprimento foram os principais fundamentos a nortear o mercado de commodities agrícolas em julho. Quase de forma generalizada, os preços das commodities negociadas nas bolsas de Chicago e Nova York subiram, à exceção do algodão.

 

Considerando os preços médios mensais, os destaques de alta em julho foram trigo e açúcar. Conforme os cálculos do Valor Data, o trigo subiu 25,27% no mês, levando em conta a segunda posição em Chicago. O açúcar se valorizou 13,64% na mesma comparação em Nova York.

 

A alta do trigo pode ser explicada principalmente pelo clima adverso nas regiões produtoras da Europa e Leste Europeu, que sofrem com a longa seca, sobretudo Rússia e Ucrânia, mesma situação do Canadá. Na Rússia, a previsão é de uma quebra de 24% na safra de trigo, que deve cair para 47 milhões de toneladas. O resultado deve ser um recuo de 10 milhões nas exportações de todos os grãos do país, segundo o governo russo. "A maior parte desse volume deve ser de trigo e o mercado já precificou esse rumor", diz Glauco Monte, consultor de gerenciamento de risco da FCSTone.

 

"Esse momento da safra traz muita especulação para as commodities de uma forma geral. Certamente, o fator clima continuará direcionando o mercado nos próximos meses", acrescenta.

 

A alta do trigo puxou também os preços da soja e do milho, principalmente a partir da segunda quinzena. "Com menos no trigo na Europa, há uma substituição de trigo por milho na ração", afirma Renato Sayeg, da Tetras. Além disso, trigo, milho e soja estão "linkados" em muitos fundos de investimentos, então sobem juntos. A segunda posição da soja subiu 5,06% em julho e a do milho, 8,17%.

 

Para Sayeg, no entanto, a principal razão para a alta da soja é a desvalorização do dólar ante uma cesta de moedas em julho. Esse cenário estimula o investimento em commodities de uma maneira geral, que ficam mais atrativas na exportação. Afora o dólar a demanda chinesa também influenciou, segundo Sayeg. Ele afirma que a estimativa do governo da China é que o país vá importar 5,6 milhões de toneladas do grão em julho.

 

Numa análise sobre as commodities agrícolas negociadas em Nova York, Rodrigo Costa, da corretora Newedge, diz que aumentou o apetite pelo risco."O semestre começou com mais fichas sendo colocadas na mesa. Aquela tensão que existia deu espaço a um apetite maior ao risco. Sentimos que houve uma entrada maior de dinheiro no mercado e acabou puxando as bolsas americanas, que trouxeram junto com elas as commodities agrícolas", afirma.

 

A principal razão para a alta do açúcar foram as incertezas em relação ao suprimento. Como o Brasil é o único com disponibilidade do produto hoje, filas de navios de importadores se formaram nos portos brasileiros à espera de embarque de açúcar.

 

O café também subiu de forma expressiva em Nova York em julho. O preço médio da segunda posição valorizou-se 8,18% em relação à média de junho.

 

Segundo Rodrigo Costa, o diferencial de preços entre os cafés provenientes da América Central e Colômbia ainda estão bastante elevados em relação aos preços médios da bolsa de Nova York, o que garante firmeza ao mercado. Outra razão é que em julho a pressão vendedora por parte do Brasil, que colhe neste momento uma de suas maiores safras, não foi tão grande quanto o esperado pela maioria dos analistas. "O enfraquecimento do dólar abriu o espaço para que as indústrias torradoras da Europa fixassem seus preços de compra", diz Costa.

 

Para o analista, apesar dos ganhos expressivos de julho, ainda existem incertezas sobre o potencial do mercado de manter essa tendência ao longo do restante do semestre. Com a preocupação dos governos com seus déficits e sinais de que a economia mundial crescerá em um ritmo ainda lento, o mercado não sabe até quando essa tendência de alta se manterá.
 


Alta do cereal já preocupa os moinhos brasileiros


 
O setor moageiro de trigo no Brasil já está em alerta diante da explosão dos preços do cereal. As indústrias que importam estão se deparando com altas superiores a 30% em comparação com cotações feitas há 30 dias. A maior valorização está sendo observada nos Estados Unidos, um dos grandes exportadores do cereal. O país é a principal alternativa de fornecimento neste momento em que não há oferta de trigo argentino.

 

Segundo levantamento do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), em 29 de junho a tonelada do cereal americano posto FOB (Free on Board) no Golfo do México era de US$ 178. Ontem, a mesma tonelada estava valendo US$ 240, alta de 35%. Na Argentina, onde há pouca disponibilidade do cereal, o ganho acumulado nos últimos 30 dias foi de 15%, segundo o sindicato.

 

Christian Mattar Saigh, vice-presidente do Sindustrigo, diz que a necessidade de aquisição de trigo importado é de cerca de 400 mil toneladas por mês. Apesar de alguns moinhos estarem relativamente abastecidos, essa não é a realidade de 100% do setor e haverá necessidade de se buscar trigo no mercado externo entre este mês e início de outubro, quando entra a safra brasileira.

 

Ele afirma que uma solução possível é colocar no mercado, por meio de leilões governamentais, as cerca de 1 milhão de toneladas do cereal da safra passada. "Apesar de ser de menor qualidade, esse volume pode ajudar na mistura com o cereal superior", diz Saigh.

 

Para realizar mais leilões, no entanto, o executivo pondera que é preciso que o governo libere aos moinhos os recursos represados referentes aos leilões passados. "De tudo o que foi feito de PEP em 2009/10, o governo restituiu o setor em apenas 30%. Precisamos desse capital de giro para novas aquisições".

 

Com um consumo de cerca de 10 milhões de toneladas, o Brasil é um dos maiores importadores mundiais de trigo. Neste ano, a produção interna deve atingir 5 milhões de toneladas, segundo estimativa do Sindustrigo. (FB
 


Veículo: Valor Econômico


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