Não há dúvidas de que as relações nas cadeias produtivas da agricultura e da pecuária mudaram muito. Cada vez mais, os setores veem as relações entre produtores e indústrias processadoras se transformarem. A concentração das indústrias ocorre nos setores de laticínios, de carnes e de grãos.
Pelo lado dos produtores, a concentração também está acontecendo. Os pequenos têm tido muitas dificuldades em se manter competitivos.
As margens de lucro ficaram menores, fazendo com que a escala de produção e suas economias de custo ficassem mais decisivas.
Na ponta final, os supermercados se concentraram na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil. Menos empresas comprando de menos indústrias que, por sua vez, compram de menos produtores.
Há menos de duas décadas, além de haver mais indústrias, alguns setores eram protegidos por mecanismos regulatórios do governo.
Era o caso do café e da cana-de-açúcar quando IBC (Instituto Brasileiro do Café) e IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) regulavam o preço pago ao produtor.
A mudança atingiu também a citricultura. Em 1995, havia cerca de 23 mil citricultores no cinturão citrícola de São Paulo, enquanto as indústrias eram menos de dez.
Hoje, a quantidade de citricultores é da ordem de 8.000 a 9.000 e apenas três indústrias são responsáveis por mais de 90% da laranja industrializada na mais importante região produtora do Brasil e do mundo.
A relação entre produtores e indústria tem sido muito ruim há anos. Hoje, pode-se dizer que há uma deterioração de difícil superação entre as entidades que representam os dois principais elos de produção da cadeia.
Entretanto, está em curso uma nova tentativa de estabelecer um mecanismo de entendimento entre citricultores e industriais.
O chamado Consecitrus, a exemplo do que ocorre no setor sucroalcooleiro, através do Consecana, pretende fazer o papel de regulação das relações comerciais no setor.
As primeiras reuniões estão acontecendo na Sociedade Rural Brasileira, com o aval da presença da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e apoio da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo).
No bojo do Consecitrus está a busca de um mecanismo mais justo de transferência do preço final do suco, vendido em todo mundo, para o produtor de laranja.
PESQUISA
Entretanto, muitos outros temas devem ser contemplados nesse novo fórum, como a limitação do plantio das indústrias; defesa fitossanitária e pesquisas eficientes, além de levantamento de informações e estatísticas confiáveis e regulares.
O sucesso do Consecitrus está diretamente ligado às intenções legítimas dos dois principais lados, mas também à atuação de pessoas dispostas a se descolar do passado, com o objetivo de construir uma nova fase de diálogo visando à viabilização econômica e financeira de um dos mais importantes produtos na agroeconomia.
Veículo: Folha de S.Paulo