Com os preços do trigo explodindo no mercado internacional - só ontem o contrato para dezembro subiu 6,4% na bolsa de Chicago para US$ 7,5550 o bushel -, começa a queda de braço entre moinhos e fabricantes de massas e derivados para definir seus reajustes.
A Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima) informou que já está pagando de 6% a 8% mais pela farinha de trigo brasileira desde o fim de julho, o que deve representar, segundo a entidade, um repasse de 5% no preço do macarrão ao longo deste mês. "Nossos estoques são curtos, de, em média, 15 a 30 dias. Além disso, a farinha de trigo representa 75% do custo do macarrão", justificou o presidente da Abima, Cláudio Zanão.
Com a valorização de ontem em Chicago, a commodity acumula alta de 57,3% desde 1º de julho, segundo o Valor Data. A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) não se pronunciou sobre o assunto.
De acordo com o Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo (Sindustrigo-SP), essa valorização gera uma necessidade de reajuste da ordem de 10% no preço da farinha nos próximos 30 dias, ainda que os moinhos tenham estoques até setembro. "As indústrias trabalham com custo de reposição de estoques. Acertamos hoje o preço do cereal que chegará em 30 a 45 dias no Brasil", disse Christian Mattar Saigh, vice-presidente do Sindustrigo-SP.
Ele afirmou que é possível que essa alta já tenha se iniciado em algumas regiões do país, justificando a informação da Abima de que as indústrias de massas já pagam, em média, 6% a 7% mais pela farinha de trigo.
Saigh disse, porém, não ver razões para alta de preços de massas e de outros subprodutos da farinha. "No ano passado, os valores da farinha recuaram 35%, sem uma correspondente queda nos preços dos seus derivados. Assim, não vejo razão para aumentar agora", disse o executivo.
Sem citar percentuais, o presidente da Abima afirmou que os preços do macarrão tiveram queda no ano passado e que, a necessidade de aumento de 5%, não significa que todos os fabricantes irão repassar esse percentual. "Pode ser que haja, dependendo da empresa um repasse menor, de 3%, ou nenhum aumento em algumas, para não haver risco de perda de competitividade na gôndola", disse Zanão.
De todo o consumo brasileiro de farinha de trigo, 50% vão para a produção de pão nas padarias, 30% para macarrão, biscoito e pão industrial e 20% para consumo doméstico e outros usos, segundo a Abima. O Sindicato de Panificação de São Paulo foi procurado ontem para comentar o assunto, mas seu presidente não estava disponível.
A alta súbita do trigo nas bolsas internacionais está repercutindo no mundo todo. Ontem, o "Financial Times" informou que a Premier Foods, uma das maiores empresas de alimentos do Reino Unido, indicou que os preços mais altos do trigo vão significar pão mais caro neste verão.
Analistas preveem que a alta do cereal pode estimular a inflação e impactar no crescimento dos setores mais dependentes do Estado na Rússia, com fábricas suspendendo produção e consumidores reduzindo a demanda, segundo a Bloomberg.
Veículo: Valor Econômico