Depois de ocuparem o posto de eletrônico mais desejado pelos brasileiros, as câmeras digitais ficaram fora dos holofotes nos últimos anos por conta da explosão nas vendas de computadores e de TVs de tela fina. Mas sair dos destaques do noticiário, não significa que o mercado de câmeras encolheu, ou se estagnou. Ao contrário.
O crescimento nas vendas ficou na faixa dos 30% entre 2006 e 2008. No ano passado, devido à crise financeira mundial, a expansão foi de apenas 3%. Em 2010, mesmo com a Copa Mundo, momento em que as atenções voltam-se para os televisores, o crescimento nas vendas pode ficar entre 30% e 50%, segundo os fabricantes. Os mais otimistas chegam a falar na venda de 6 milhões de máquinas até dezembro. "O Natal deste ano será das câmeras digitais", diz Carlos Paschoal, gerente geral de imagem digital da Sony.
Segundo pesquisa da consultoria GfK Retail e Technology, as câmeras são o segundo aparelho eletrônico mais importante para o brasileiro, atrás apenas do celular e à frente das TVs de LCD e plasma. Para Henrique de Freitas, gerente sênior de vendas e marketing da área de imagem digital da Samsung, esse fenômeno está muito relacionado ao grande sucesso das redes sociais no país. "Orkut, Facebook, YouTube, todas essas redes giram em torno do compartilhamento de conteúdo de imagem e vídeo gerados por celulares e câmeras digitais", avalia o executivo.
A disputa entre celulares e câmeras digitais, aliás, acabou não tendo o desfecho que muitos analistas previam no passado. A ideia de que os celulares substituiriam as câmeras não se concretizou. "O celular não tirou mercado porque o consumidor não confia nele para levar em momentos importantes, como uma viagem, por exemplo", diz Alessandro Batista, analista de produtos ópticos da Panasonic.
Com recursos cada vez mais avançados e preços menores, as câmeras estão penetrando mais e mais entre os consumidores da classe C. Este ano, a presença do equipamento pode aumentar seis pontos percentuais, chegando a 15% dos domicílios. Mas não é só no número de casas que a presença de câmeras digitais está aumentando. De acordo com Emerson Stein, diretor geral da Kodak, o crescimento também acontece entre as pessoas que moram em cada casa. "Hoje, não se fala mais da máquina da casa. Cada pessoa quer ter a sua própria", explica o executivo. Segundo Paschoal, só um milhão de unidades serão compradas por quem já tem uma máquina. A maior parte das vendas é para quem nunca teve uma câmera.
Um dos trunfos da indústria para fazer com que as máquinas ganhassem tanta popularidade foi a fabricação local. Há quatro anos, quando lançou sua primeira câmera feita no Brasil, a Kodak tinha um preço de R$ 700 para o equipamento, o mais básico de sua linha. Hoje, uma máquina da mesma categoria, mas com funções bem mais avançadas, custa R$ 400. "Com a fabricação local ficamos mais perto do consumidor e pudemos trazer produtos mais adequados à realidade dele", diz Stein. De acordo com o executivo, 90% do que a empresa vende no país é fabricado aqui.
Resolução entre 9 e 13 megapixels, reconhecimento de face e sorrisos, e zoom óptico de três vezes são os elementos básicos para uma câmera hoje. A facilidade de integração com redes sociais também tem sido uma demanda cada vez mais constante. Alguns modelos ainda permitem que o computador seja dispensado para tarefas como edição e até armazenamento de fotos, pois já vêm equipados com software que permite fazer alguns ajustes e também com espaço suficiente para guardar milhares de arquivos. Nas apostas dos fabricantes estão ainda recursos mais avançados, como identificação de onde a foto foi tirada, por meio de GPS, conexão sem fio, fotos panorâmicas e até a possibilidade de recurso em 3D.
Como as características que os consumidores procuram nas máquinas são particulares de cada mercado e variam muito com o passar do tempo, as estratégias dos fabricantes começam a vislumbrar mais investimentos no desenvolvimento local de produtos. A Sony, por exemplo, pretende ampliar para 30% em 2011 o número de câmeras projetadas no Brasil.
As lojas especializadas em eletrônicos ainda são o local favorito do brasileiro para comprar uma câmera digital. Mas assim como nas vendas de computadores, o segmento vem perdendo espaço para hipermercados, supermercados e lojas de departamento, o chamado autosserviço.
Segundo a GfK, nos primeiros cinco meses do ano, lojas como Walmart, Carrefour e Lojas Americanas ganharam 3,1 pontos percentuais de participação nas vendas, chegando a 22% do total do mercado. Com mais capacidade de negociação com os fabricantes, as redes contribuem fortemente para a redução nos preços das máquinas digitais. Entre janeiro e maio, a queda foi de 5%, de acordo com a GfK. Um grupo de 39 fabricantes foi responsável por 480 modelos disponíveis no varejo em maio, segundo a consultoria. Três empresas concentram mais da metade das vendas.
Veículo: Valor Econômico