Estratégia faz parte do processo de divisão da companhia em duas unidades independentes
Permitir que o celular seja usado como controle remoto do decodificador da TV e que a programação possa ser acessada por qualquer tipo de dispositivo a qualquer hora e em qualquer lugar.
Essas são apenas algumas das aplicações que a Motorola pretende desenvolver com a integração de suas unidades de telefones e de dispositivos para banda larga e TV por assinatura, um dos passos no processo de divisão da companhia em duas empresas independentes e de capital aberto. "Na medida em que cresce o uso de dispositivos portáteis com grande poder de processamento, o potencial para oferecer essas experiências combinadas dentro e fora da casa do cliente fica mais necessário. E isso é uma grande oportunidade para as operadoras", diz Robert McLaughlin, vice-presidente da área de mobilidade residencial da Motorola.
A unidade desenvolve produtos como modems de acesso à internet por tecnologia a cabo e pela rede de telefonia fixa e decodificadores de TV por assinatura. No segundo trimestre de 2010, ela teve uma receita de US$ 886 milhões, o equivalente a 16% do faturamento de US$ 5,41 bilhões da Motorola no período.
O resultado da unidade foi 13% menor do que o alcançado no mesmo período do ano passado, reflexo da retração das vendas nos Estados Unidos, Ásia e Europa. A América Latina foi a única região onde as vendas cresceram. De acordo com McLaughlin, o Brasil é um dos países mais importantes para a empresa. É aqui, inclusive, que está seu maior cliente em todo o mundo na área de modems, a Embratel.
Ao planejar o futuro, o executivo enxerga como oportunidades no país a chegada dos serviços de TV sobre a rede de internet das operadoras fixas (IPTV) e a liberação da venda de licenças de TV a cabo pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Segundo Marcos Takanohashi, diretor da área de produtos residenciais da Motorola no Brasil, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) também traz boas expectativas por conta dos benefícios fiscais previstos para a fabricação de equipamentos no país.
Hoje a companhia fabrica modems em sua planta de Jaguariúna, interior de São Paulo. Segundo McLaughlin, a produção local será mantida mesmo com a divisão da companhia em duas.
O processo, previsto para acontecer no primeiro trimestre de 2011 criará duas companhias: Motorola Mobility e Motorola Solutions, comandas pelos atuais coexecutivos-chefe da companhia. A primeira será voltada a TV por assinatura, banda larga residencial e celulares e será comandada por Sanjay Jha. A Motorola Solutions, com negócios de mobilidade para governo e empresas, será capitaneada por Greg Brown. De acordo com McLaughlin, a Motorola enviou, no fim de julho, todos os documentos necessários para avaliação do negócio pelo governo dos Estados Unidos.
No dia a dia, as empresas ainda trabalham de forma integrada, mas a cisão caminha a passos acelerados. Áreas como recursos humanos e marketing já têm definidos os profissionais que serão destinados a cada uma das empresas. No Brasil, a Motorola criou recentemente a estrutura de gestão por coexecutivos-chefe. Paulo Freitas ficou à frente da área de produtos móveis e Eduardo Stéfano de mobilidade.
De acordo com Stéfano, a Motorola Soluções já foi constituída como empresa no Brasil e há algumas semanas conseguiu o Processo Produtivo Básico (PPB), que permite a fabricação no país com isenções fiscais. Ainda não foi decidido se a empresa usará a estrutura do Motorola Mobility, ou de terceiros.
Para McLaughlin, o processo será benéfico para a Motorola. "Às vezes é bom ter companhias focadas em determinadas áreas", diz. A respeito da integração com a área de celulares, o executivo afirma que já existem alguns produtos que exploram esse potencial, mas que aproveitamento completo das possibilidade ainda levará um tempo para ser atingido. Entre as apostas estão a 3D e os sistemas que permitem a transferência de conteúdo entre diferentes dispositivos.
Em termos práticos, os resultados já começam a aparecer. Na semana passada, a Motorola anunciou o retorno à companhia de Daniel M. Moloney, executivo que tinha deixado a companhia no fim de março para comandar a Tecnhitrol, fabricante de produtos metalúrgicos para fabricantes de computadores e equipamentos de telecomunicações. "Como bom vendedor, Jha conseguiu convencer Moloney sobre a visão da companhia. E ela precisa de talentos como ele", diz McLaughlin.
Veículo: Valor Econômico