Lojas Cem a bola da vez?

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Depois das últimas fusões de empresas de varejo, a rede paulista Lojas Cem se torna uma das mais cobiçadas pelos concorrentes

 

Natale Dalla Vecchia não tem sala própria. Divide uma com mais nove pessoas, todas de sua família: três irmãos, todos os seus filhos e um cunhado. Sua mesa não tem computador. Sobre ela, há um telefone, alguns documentos do dia a dia e uma máquina de escrever Elgin Brother, fabricada em meados da década de 70, cuidadosamente centralizada no tampo da mesa.

 

Ele não tem secretária ou office boy, não trabalha de paletó e gravata. Seu cartão não tem cargo nem e-mail – somente seu nome e o telefone geral da empresa. Seus interlocutores conversam com ele de pé, porque à frente da mesa não há nenhuma cadeira. É assim o ambiente de trabalho do acionista que, de fato, comanda a Lojas Cem, uma rede de 184 lojas com sede em Salto (SP). A empresa, depois das últimas fusões de grandes cadeias de varejo como Casas Bahia, Magazine Luiza e Ponto Frio, tornou-se um dos mais atraentes alvos do varejo brasileiro, por várias razões.

 

Entre elas, é claro, sua solidez financeira. Para se ter uma ideia disso, 70% das vendas são feitas com crédito próprio, em carnês, uma característica que existe desde a sua fundação, em 1952. Vestido com simplicidade, em calça bege e uma camisa polo amarela de gola vermelha, Natale não economiza sorrisos nem orgulho para falar da empresa que começou numa bicicletaria aberta por seu pai, mas que foi construída pelo trabalho dele e dos irmãos.
 


Ele admite que a Lojas Cem é cobiçada por muitos investidores e que não tem se negado a recebê-los para conversar. Às vezes, um a cada mês. Mas afirma, em voz clara e calma, que a empresa não está à venda. E nega a existência de qualquer negociação com o Magazine Luiza, que tem aparecido como o candidato mais forte à aquisição da Lojas Cem. Domingos Alves, o supervisor-geral da rede, completa a afirmação de Dalla Vecchia: “As últimas fusões não aconteceram por estratégia, mas por causa de dificuldades de administração.”  O assédio dos investidores não surpreende os acionistas, diz Dalla Vecchia.
 

 
Ele sabe que a empresa está bem, como uma mulher com dotes de sua família, e pronta para o casamento. “Pronta, sim, mas uma noiva dessas não casaria com qualquer um”, ele afirma. “Nós não temos intenção de vender a empresa”,  completa. Mas se um noivo muito rico quiser casar com essa noiva? Natale Dalla Vecchia parece pensar um pouco, mas não responde. Apenas sorri. Ele prefere, mesmo, falar sobre o futuro da sua rede. “Este ano vamos crescer mais 30% em vendas”, comemora. “Mas isso não é tudo. Como eu sempre digo, o que sustenta um negócio não é o faturamento, é o lucro”, completa o dirigente da Lojas Cem.
 


Um mês antes da fusão da Insinuante com a Ricardo Eletro, conta ele, “o pessoal da Insinuante esteve aqui nos visitando. Depois de meio dia olhando tudo, um deles apontou para o balanço e perguntou qual era o segredo dos nossos resultados. Eu respondi que somos uma empresa rica de sócios pobres. Aqui, nós só distribuímos 6% do lucro. O resto é reinvestido. É isso o que permite à empresa financiar a si própria e aos clientes.
 
 

Casa própria: cada loja da rede tem 1,4 mil metros quadrados de área,e o imóvel é sempre de propriedade da empresa
 


E permite que compremos tudo para pagamento a curto prazo”. E, acrescenta, é também assim que são feitas as expansões: utilizando seu próprio caixa, sem recorrer a bancos privados ou estatais. “Mas, para que seja assim, não temos casa em Miami nem jatinhos”, afirma. As expansões de que ele fala estão nos horizontes de curto e de longo prazos.
 


Dentro de um ano, por exemplo, tanto a área de administração quanto a de armazenamento, em Salto, estarão quase 70% maiores. “Nossa capacidade atual é para operar com até 250 lojas”, explica Dalla Vecchia. Mas, em dez anos, as 184 atuais já poderão ter se tornado quase 400. “Nosso ritmo de crescimento é de dez lojas novas e 20 reformas anualmente”, conta.
 
 
 
Um estilo de operação mais conservador, como o adotado pela Lojas Cem, é uma questão cultural, comenta o consultor de varejo financeiro Boanerges Freire, da Boanerges & Cia. “É bom lembrar que a Casas Bahia operava nesse modelo até cinco anos atrás”, diz. O modelo da Lojas Cem inclui a política de comprar terrenos e construir suas lojas, em vez de alugá-las.
 


Entre outros detalhes da estratégia estão, por exemplo, manter a distância de entregas limitada a 600 quilômetros e não ter frota própria. Outro mandamento é dar preferência à instalação de lojas em cidades com, no mínimo, 30 mil habitantes, e onde o domínio dos concorrentes possa ser desafiado. As lojas têm um estilo conservador e sem ostentação, como toda a família Dalla Vecchia. Além do exemplo espartano de Natale e seus irmãos, o sequestro de um dos sobrinhos, em 2001, tornou a discrição obrigatória para todos. 
 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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