Furlan volta ao comando da Sadia, após perda milionária

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Ex-ministro será novamente presidente do conselho, em substituição a Walter Fontana

O ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, reassumiu ontem a presidência do conselho de administração da Sadia, em substituição a Walter Fontana Filho. O conselho decidiu chamar de volta à presidência o executivo e membro da família Fontana, que já havia ocupado o posto de 1993 a 2002.

 

A troca acontece 11 dias após a companhia ter anunciado uma perda de R$ 760 milhões com operações financeiras de alto risco. Na ocasião, o presidente-executivo da companhia, Gilberto Tomazoni, contou que as operações foram feitas à revelia do conselho de administração, que decidiu, ao tomar conhecimento, no dia 12 de setembro, liquidá-las imediatamente. O diretor-financeiro, Adriano Ferreira, o gerente financeiro, Álvaro Ballejo, e alguns operadores foram demitidos.

 

“Este é um momento muito sensível, mas os dirigentes tiveram uma atitude corajosa. A Sadia foi a primeira empresa a reconhecer as perdas (com derivativos de câmbio) e minha crença é de que o pior, para a Sadia, já passou”, disse Furlan. “Outras empresas achavam que o tempo melhoraria, mas o tempo só agravou o problema.”

 

Furlan terá como principal missão restabelecer a credibilidade da companhia, tida como bastante agressiva do ponto de vista de tesouraria. “Gostaria que considerassem isso como uma prática do passado. A partir deste momento, teremos a prática de uma empresa industrial que conquista mercados com agressividade. Estamos aqui para promover uma volta às origens.”

 

Segundo Furlan, desde o episódio, a empresa tem feito um “mutirão de recomposição do caixa” e hoje conta com R$ 1,5 bilhão. “Queremos manter um colchão de liquidez acima de R$ 1 bilhão.” Além disso, segundo ele, a empresa estuda as medidas legais cabíveis para apurar se quem assinou os contratos das operações com derivativos, tanto do lado da Sadia quanto do lado dos bancos, tinha autonomia para isso.

 

Furlan também determinou que a diretoria financeira volte a ser subordinada à presidência-executiva. Desde 2005, quando Walter Fontana deixou a presidência executiva e foi para o conselho, a diretoria financeira passou a responder diretamente ao conselho. Na época, o diretor-financeiro era Luiz Murat, afastado em 2006 por uso de informação privilegiada na tentativa de compra da Perdigão.

 

Furlan explicou que, em breve, a companhia tornará público o relatório da auditoria que a KPMG está fazendo sobre o caso, e que deve ser concluída até o final da próxima semana. “Tivemos uma apresentação preliminar e o que já se pode antever, com depoimentos assinados de todos os envolvidos, é que houve uma transgressão das regras emanadas pelo conselho. Eles assumiram um risco muito acima da autorização, que é de seis meses de antecipação da receita com exportação.”

 

A diretoria financeira, explicou Furlan, só levou o assunto ao conselho quando já era uma “gravidade” e, no mesmo dia, a “operação mais gravosa foi revertida, gerando, só ela, um prejuízo de R$ 300 milhões”.“Se tivessem avisado uns dias antes, teria dado para desmontar a operação, estancando as perdas. Mas acho que o diretor-financeiro achou que poderia recuperar os investimentos e não precisaria expor a operação”, afirmou Furlan.

 

As perdas financeiras, de R$ 760 milhões, superam o valor do lucro obtido em 2007 - de R$ 689 milhões - e devem levar o resultado de 2008 da empresa para cerca de R$ 250 milhões negativos. A empresa, que deve faturar R$ 12 bilhões, vive um momento de grande expansão e está abrindo seis novas fábricas no País este ano, que se somam às 15 já existentes. Furlan reiterou que os investimentos para 2008, de R$ 1,6 bilhão, estão mantidos.

 

A volta à rotina da Sadia fará Furlan deixar de lado alguns projetos públicos aos quais vinha se dedicando, como a Fundação Amazônia Sustentável, e também privados. “Estou sentindo o peso da mochila nos ombros”, afirmou. “Eu estava começando a ter aulas de tênis, mas já não vou amanhã (hoje) às 8 horas. O pior é que paguei outubro adiantado”, brincou.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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