O BRASIL OCUPARÁ QUASE 55% DO MERCADO GLOBAL. A CONTRIBUIÇÃO DO AÇÚCAR NO SALDO COMERCIAL SERÁ DE US$ 10 BI
O rombo das contas externas do Brasil já está próximo de US$ 30 bilhões em 2010. Estamos levando um tombo, entre outros fatores, pelo aumento das importações. Somente no primeiro semestre o saldo comercial foi 45% menor do que o do mesmo período de 2009 -o pior dos últimos oito anos.
Precisamos reverter esse quadro. Ajudaria na busca de maior equilíbrio se conseguíssemos produzir e exportar mais e, assim, trazer mais dólares, ajudando na geração de renda e na consequente distribuição da mesma.
O açúcar representará em 2010 o "ouro branco". A exportação deve chegar a 25 milhões de toneladas, ante 17 milhões em 2009. Quando este sábado terminar, teremos vendido US$ 50 milhões em açúcar ao exterior.
É provável que a contribuição somente do açúcar no saldo comercial chegue a US$ 10 bilhões. O Brasil ocupará quase 55% do mercado mundial. Porém, não são somente boas as notícias, pois poderíamos melhorar.
O leitor que lê esta análise provavelmente não sabe que existem aproximadamente cem navios na fila para carregar açúcar em Santos.
Cada navio na fila, por dia, representa custo de US$ 25 mil a US$ 90 mil a ser pago pelo exportador, ou seja, por todos nós. Caminhões também estão parados há dias em fila, e lamentavelmente representam ainda 85% do transporte do açúcar.
O açúcar tem mercado promissor, principalmente para uso industrial (sorvetes, sucos, doces, chocolates) em países de renda crescente e onde seu consumo per capita ainda é baixo.
O dragão chinês começou a comprar fortemente do Brasil (neste ano já foram 600 mil toneladas). Os principais concorrentes não conseguem competir com nossos custos e nossa qualidade, mesmo com esses problemas de plataforma logística.
Os preços externos devem melhorar (apesar da incógnita da safra e da produtividade da Índia), devido ao consumo de açúcar e das vendas de carros flex (já são 11,2 milhões, 37% da frota), consumindo a cana via etanol.
Fora isso, a atual seca trará prejuízos na safra atual de cana (10%, ou até mais, a depender das chuvas) e na próxima, contribuindo para aumentar os preços. O açúcar deve continuar forte pilar de geração de renda e sustentação da balança comercial.
Para concluir, um recado aos candidatos e aos governos (federal, estaduais, Ibama, Ministério Público, entre outros agentes). No momento em que ideias são mostradas na TV, todos falam em distribuição de renda.
Para a agenda 2011/14, a pergunta que fica é: como ajudar esses setores a conseguir menores custos, menos entraves, menos filas, menos burocracia, para que possam cumprir seu papel privado de gerar produtos competitivos, exportações e renda?
Muitos esquecem que, sem geração de renda, não existe distribuição sustentável de renda. Neste ano, o açúcar dará grande contribuição para a geração de renda. Nosso muito obrigado.
Veículo: Folha de S.Paulo