Falta de liquidez externa só veio agravar o cenário para o setor em Minas, que passa por mau momento.
O cenário de falta de liquidez internacional, aliado aos altos custos de produção, deve fazer com que a cafeicultura no Estado, maior produtor brasileiro com 51% da safra deste ano, perca áreas de plantação. A estimativa é de especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, que revelaram que os prejuízos dos produtores neste ano devem trazer redução da safra em 2009.
O gerente do Pólo de Excelência do Café, sediado em Lavras (Sul de Minas), Ednaldo José Abrahão, informou que a falta de liquidez internacional só veio agravar o cenário para a cafeicultura, que já passava por um momento difícil, com custos de produção superiores à cotação do café.
Além de ter elevação entre 60% e 70% só com os insumos, principalmente adubos, nos últimos 12 meses, o produtor também teve os custos com mão-de-obra, que chegam a responder por 50% dos custos de produção em cada saca, muito elevados nos últimos anos.
Abrahão disse que até a valorização do dólar, que contribuiria para elevar a cotação do café, veio em um momento de crise no mercado internacional. "Com a desaceleração da economia mundial, queda da demanda, há redução nos preços das commodities e continua sendo um desestímulo produzir café", avaliou.
Expectativa- Segundo o gerente, para 2009, a expectativa é ainda pior. "O produtor que já vinha tendo prejuízos deve reduzir a área plantada e até mesmo abandonar algumas terras. Assim, para o ano que vem o país não deve conseguir atender a demanda interna somada à externa e deve abrir frente para que outros países ampliem a produção de café", analisou.
O diretor do Conselho Exportador de Café (Cecafé), Guilherme Braga, informou que o mercado esportador está praticamente paralisado. "Com restrições de crédito, ausência de referências no mercado e também de compradores, não há como completar as negociações, tamanha é a insegurança no mercado internacional", revelou.
Braga informou que apesar de ainda contar com contratos, que normalmente são firmados com prazos de antecedência que variam entre 90 e 120 dias, que devem vigorar até dezembro, novos acordos não estão sendo realizados, o que deve comprometer os negócios em 2009.
O diretor do Cecafé informou que o preço da libra/peso do café no mercado internacional caiu de US$ 1,38 para US$ 1,15 nos últimos dez dias. Cada saca de café tem 132 libras/peso. "Mesmo com os bons fundamentos do café o momento de incertezas se reflete sobre os negócios", observou. Além disso, ele destacou a ampliação dos juros sobre os financiamentos para os exportadores, em sua maioria composto pelos Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACCs), que subiram, nos últimos meses, de 6% para 15% ao ano.
O superintendente comercial da Cooxupé, Lúcio Dias, ressaltou que, apesar de contar com reservas e linhas específicas de crédito, os negócios estão sendo influenciados pela crise. "Os custos de produção estão muito altos e os juros dos financiamentos também, o que se reflete de forma negativa sobre as vendas", explicou.
Veículo: Diário do Comércio - MG