As padarias deverão repassar o aumento no preço do trigo nos próximos dias
Embora a recente alta na cotação do trigo ainda não tenha tido reflexos em todas as padarias de Belo Horizonte, com aumento do preço do pão francês, a tendência é de que haja reajuste nos próximos dias, afirmou o presidente da Associação Mineira da Indústria da Panificação (Amipão), Antônio de Pádua Moreira.
Hoje, o quilo do pão francês na Capital varia de R$ 5 a R$ 8,90 e, segundo Moreira, o aumento deve ficar entre 10% e 20%. Ele explica que o reajuste se deve à majoração no preço da saca de farinha de trigo (50 quilos), que subiu de R$ 60 para R$ 90, um salto de 50% em menos de três meses.
De acordo com ele, alguns empresários do setor em Belo Horizonte estão tentando segurar o preço do produto como forma de manter as vendas aquecidas. "Muitas panificadoras ainda não repassaram o reajuste. No entanto, acredito que essa situação será inevitável a curto prazo. O consumidor final certamente sentirá o aumento nos próximos dias", afirmou.
Conforme Moreira, além da farinha de trigo, outros itens também registraram alta. Segundo estimativa da Amipão, a farinha de trigo representa 33% da planilha de custos do pão francês. "A grande questão é que outros fatores, como mão de obra, aluguel de estabelecimentos e energia, também têm registrado elevação de custo. Ou seja, há todo um contexto pressionando o aumento do preço", disse.
Segundo ele, o problema não se limita a Minas Gerais. "O restante do país também está sofrendo reajuste no preço de todos os derivados do trigo. Isso se deve ao Brasil não ser autossuficiente na produção do grão e depender de mercadorias internacionais", afirmou.
Pressão externa - Problemas fora do país estão provocando o encarecimento do alimento. Desde junho, os Estados Unidos tiveram grandes dificuldades com safras de milho e trigo e países do Leste europeu, como Russia e Ucrânia - fontes cruciais no abastecimento do mercado brasileiro - tiveram 20 milhões de toneladas do produto comprometidas por secas e incêndios. Neste cenário, só no primeiro semestre deste ano o valor da tonelada passou de US$ 225 para US$ 300.
Em função dessa realidade, segundo Moreira, o trigo cultivado na Argentina passa a ser a opção mais viável para o mercado brasileiro. No entanto, a cotação do grão argentino deverá manter o mesmo patamar de preço praticado pelos países europeus, em decorrência do aumento de demanda do mercado externo.
O presidente da Amipão também é o proprietário da padaria Saint Antoine, com duas unidades na Savassi, região Centro-Sul da Capital. Ele disse que empresários do setor têm se empenhado em não repassar o aumento da farinha de trigo ao consumidor, embora não descartem um reajuste nos próximos dias. Na Saint Antoine o quilo do pão francês está sendo comercializado a R$ 8,5. "Se não houvesse outros agregados na planilha de custos, seria preferível não alterar o preço, no entanto a situação tem se complicado", afirmou.
Na Panificadora Romanina Ltda, com duas unidades em Belo Horizonte, ainda não houve reajuste no preço do quilo do pão francês, que vem sendo comercializado a R$ 6,90, conforme informou o diretor da empresa, Reinaldo Manoel.
Ele afirmou que o produto continua exercendo grande importância no resultado dos negócios. "Só no ano passado a venda de pães respondeu por cerca de 7% do faturamento da empresa e a expectativa é de que essa participação aumente em 2010", disse.
Ao todo a Romanina produz e comercializa 10 mil pães/dia. Segundo Manoel, no acumulado entre janeiro a agosto as vendas cresceram 12% sobre o mesmo período do ano passado. Para o empresário, o reajuste do preço será inevitável a partir de agora. "Há uma somatória de fatores que não permitem mais que os preços praticados até agora continuem estáveis", disse.
De acordo com o proprietário da Padaria Colombina, no bairro Floresta, na região Leste de Belo Horizonte, Danilo Guerra, o reajuste do preço do pão é inevitável. Ele disse que houve alta de 4% e, atualmente, o quilo do produto está sendo comercializado por R$ 8,89. "Antes do aumento da farinha de trigo conseguíamos preço final mais barato, mas isso tornou-se impraticável com a alta do preço do trigo somado aos altos encargos trabalhistas e ao preço da energia elétrica, por exemplo", disse.
Conforme Guerra, a venda de pães representa 50% dos negócios da Colombina e a comercialização do produto cresceu 5% no acumulado do ano até agora em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
Veículo: Diário do Comércio - MG