A grande aposta da Havaianas para 2011 nos Estados Unidos são as alpargatas, os sapatos feitos de tecido que, no Brasil, normalmente têm solado de corda. A versão da marca tem o mesmo solado da "flip-flop". Ao lado dos tênis vulcanizados, reforçam a empreitada com os sapatos fechados para aumentar as vendas durante os dias mais frios do ano. Para o presidente das Havaianas para os Estados Unidos, Afonso Sugiyama, o americano tem "baixo grau de atenção para novidades porque vê algo novo na rua a cada momento". Para vencer o tédio do consumidor, a marca busca formas de atingir seu público alvo: os fashionistas locais. Com esse intuito - e para aumentar o número de homens que consomem a marca - patrocinou o desfile do estilista Michael Bastian durante a semana de moda de Nova York (que termina hoje). Na última terça, durante a apresentação, os modelos usavam os duas versões de Havaianas concebidas por ele. Uma delas é toda camuflada, enquanto a outra tem desenhos de mergulhadores. As peças vão custar US$ 48 e estarão apenas nas lojas dos Estados Unidos que já vendem Michael Bastian, como Saks e Barneys. Para capturar os ainda mais descolados, mantém uma parceria com a loja virtual Threadless, com a qual fez seis modelos de chinelos com estampas iguais as das camisetas.
O espaço dedicado ao showroom das Havaianas apresenta a varejistas a coleção global da marca, que tem 250 tipos, mais outros 100 que são modelos de exportação. Toda a coleção lançada no Brasil vai também para Nova York, mas algumas só estão lá para marcar território, uma vez já que quase nunca são escolhidas. "Aqui eles não gostam de estampas florais berrantes - que fazem sucesso no verão brasileiro -, nem de rosinhas ou verdinhos. Tanto nas multimarcas quanto na única loja própria da marca nos Estados Unidos (em La Palma, na Califórnia), os bestsellers são os modelos lisos de tons neutros e escuros, como preto, cinza, marrom e bege, e a coleção slim (de tiras mais finas)." Essa preferência tem uma explicação: enquanto no Brasil o uso de chinelos está associado à praia, nos Estados Unidos as pessoas as usam como peças casuais, com jeans ou vestidos no dia a dia. E 60% do público é feminino. "Temos planos de abrir mais lojas. Certamente serão em grandes capitais, como Nova York, Miami ou San Francisco."
O verão novaiorquino tem se mostrado ameno perto dos trinta e tantos graus que se vê no Brasil. Mas de Wall Street ao bairro descolado do Village é quase tão comum quanto em Ipanema ver homens e mulheres com chinelos de dedo. Até mesmo um ou outro usando um modelo das Havaianas com a bandeira do Brasil na tira. "Certamente não eram americanos, mas brasileiros ou europeus", diz com firmeza Sugiyama. "O americano não valoriza o 'made in Brasil'. Eles gostam de perceber que Havaianas é uma marca ligada à moda e que tem tradição." Se o caminho é esse, nada de paredes pintadas de verde e amarelo no escritório que a marca mantém em Nova York, onde trabalham cerca de 30 pessoas. E fica ao lado de uma vizinhança de estirpe no mesmo quarteirão, como as lojas da Chanel, Diesel e Longchamp. Em um loft típico da região em que está instalado, o Soho, o local tem cerca de 300 m2, pé direito alto, paredes brancas e quadros com imagens de campanhas publicitárias que a AlmapBBDO do Brasil faz para a marca. Mas, claro, com alusão ao que os americanos reconhecem como, como o táxi amarelo ao lado do chinelo. A sede americana da marca foi aberta em março de 2007 para estreitar o relacionamento com varejistas, onde a marca está em cerca de quatro mil pontos de venda.
Veículo: Valor Econômico