La Serenísima renasce e olha para o Brasil

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Pascual Mastellone, aos 80 anos, comanda recuperação do maior grupo do setor lácteo argentinoLa Serenísima, talvez a marca mais querida da Argentina, é a maior indústria de derivados de leite do país, criada em 1929 pela família Mastellone. Mas a história empresarial dos Mastellone parecia estar com os dias contados em meados do ano passado. A empresa vinha do maior prejuízo desde a fundação, devia US$ 230 milhões e tudo indicava que sua venda à francesa Danone era a única alternativa à falência. Em meio a uma quase comoção nacional, Pascual Mastellone, aos 80 anos, assumiu o desafio de salvar a empresa. À moda antiga, conversou com credores, empenhou sua palavra e fechou acordo para adiar o pagamento da dívida para 2016/2018. Depois, criou uma nova linha de produtos.

 

O plano funcionou e o grupo já obteve lucro equivalente a R$ 40 milhões no primeiro semestre, vendeu 70% do leite consumido na Argentina e deve faturar R$ 1,7 bilhão neste ano. Agora, Mastellone quer internacionalizar o grupo, começando pelo Brasil.

 

Empresa, que acumulava perdas e quase foi vendida, volta a ter lucro e investe em mais valor agregado

 

Nenhuma marca é tão querida pelos argentinos quanto La Serenísima, a maior indústria de leite e derivados do país vizinho, criada por um casal de imigrantes italianos que fazia mozarela e ricota nos fundos de casa.

 

Mesmo assim, a história empresarial da família Mastellone parecia estar com os dias contados, em meados do ano passado. A empresa vinha do maior prejuízo em oito décadas de existência, acumulava dívidas de US$ 230 milhões e tudo indicava que sua venda à francesa Danone era a única saída para não fechar as portas. Em meio à comoção nacional pela crise da companhia, o ex-presidente Néstor Kirchner chegou a avisar publicamente que os controladores "podiam contar com apoio do governo".

 

Sem ajuda oficial e contrariando as expectativas do mercado, às vésperas de completar 80 anos e na presidência da Serenísima desde 1952, Pascual Mastellone, o mais velho dos seis filhos do casal de imigrantes, recusou as propostas de desfazer-se do controle acionário e assumiu o desafio de recuperar a empresa. À moda antiga, conversou com os credores e empenhou sua palavra. Acabou fechando um acordo que adiava o pagamento de 98% da dívida para o triênio de 2016 a 2018.

 

Apostou em uma nova linha de produtos com maior valor agregado, que inclui queijos especiais e leites flavorizados, para aumentar a rentabilidade. E se dedica a um plano de acelerar a internacionalização da companhia, com foco no Brasil. Aos funcionários, comunicou que decidira profissionalizar a gestão da Serenísima, mas gradualmente e seguindo no comando - por mais nove anos! "Se Deus me der saúde e me acompanhar, estarei à frente da empresa até 2018", disse Don Pascual, como é chamado por todos, ao Valor.

 

"Muitos me perguntaram por que eu havia decidido continuar. A verdade é que, acima de todas as coisas e ainda nos momentos mais complicados, prevaleceu o coração. Não me imagino fazendo outra coisa", completou o empresário, que assumiu a La Serenísima aos 21 anos, após a morte prematura do pai.

 

Com a reestruturação financeira e um reposicionamento no mercado, o resultado líquido negativo de 110 milhões de pesos no primeiro semestre de 2008 deu lugar a um lucro de 80 milhões de pesos (cerca de R$ 40 milhões) no mesmo período de 2010. A empresa deverá alcançar um faturamento de 4,2 bilhões de pesos (US$ 1,05 bilhão) neste ano - 30% a mais do que o registrado no exercício anterior.

 

Na Argentina, a La Serenísima processa e vende 70% de todo o leite consumido no país. São 5,5 milhões de litros por dia que entram em suas sete unidades industriais. Mas a rentabilidade é tradicionalmente baixa e os custos têm subido em ritmo bastante veloz. Em um ano, o preço do leite bruto passou de 0,80 peso para 1,40 peso por litro. "E 55% do nosso custo de produção é matéria-prima", diz Ernesto Arenaza, diretor comercial da empresa e braço-direito de Don Pascual.

 

Para driblar as margens baixas, a nova aposta é em leites combinados com frutas, achocolatados e, principalmente, queijos - a média de lançamentos tem sido de pelo menos um por mês. "O segmento em que mais podemos crescer é o de queijos", acrescenta Arenaza. Desde junho, as vendas aumentaram 45% em volume. A estratégia é ganhar participação relevante em um segmento disputado hoje por mais de 870 produtores.

 

Para explorar o mercado de iogurtes e sobremesas, La Serenísima encontra um obstáculo: em 1996, fechou uma aliança para produzir, comercializar e distribuir produtos da Danone. Tem exclusividade, mas não pode competir no mesmo segmento. Qualquer consumidor brasileiro levaria um susto ao percorrer os supermercados argentinos: linhas como Activia, Danoninho e Danette saem com rótulo da Serenísima. As duas companhias concordaram em que era a marca de maior impacto.

 

No levantamento anual que a consultoria I+E faz para o jornal "Clarín", La Serenísima ganhou pela segunda vez consecutiva o prêmio de marca mais admirada pelos argentinos. Arenaza acredita ter a explicação: "A qualidade dos nossos produtos não é um clichê e temos mais de 25 mil controles diários. Sempre dissemos a verdade, nunca ocultando problemas, sejam financeiros ou de abastecimento. Temos 80 mil pontos de venda, o que constrói uma imagem sólida. E, nos momentos mais complicados, o que ajudou a segurar a marca foi a Danone".

 

Em um sábado no início de agosto, Don Pascual comemorou seu aniversário de 80 anos com 4,4 mil convidados. Na fábrica em General Rodríguez, um pequeno município nas imediações de Buenos Aires, só havia familiares, funcionários e fornecedores. O único político era o prefeito da cidade - mais ninguém. Na segunda-feira, ele já voltava à rotina habitual: acordar às 5h30, fazer uma caminhada, ler os jornais, tomar café e seguir para o escritório. Espera ser assim até o fim de 2018.

 

Veículo: Valor Econômico


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