Alimentos: Nova manteiga de cacau é produzida após 5 anos de pesquisa
Imagine uma caixa de bombons em uma mercearia qualquer do Nordeste. Sem ar condicionado, às três da tarde, o chocolate está a ponto de derreter, sob um calor beirando os 40°C. À noite, a temperatura cai, para a casa dos 20°C. O chocolate, então, mostra um aspecto esbranquiçado, que desagrada a qualquer um na hora de abrir o pacote de bombons. É o efeito da manteiga de cacau, que com a variação da temperatura, migra do interior do chocolate para a sua superfície.
"Esse é o motivo de 50% das reclamações dos serviços de atendimento ao consumidor de nossos clientes", diz Susanne Lamprecht, gerente de desenvolvimento de negócios da Cargill, empresa que fornece chocolate, manteiga de cacau e liquor para 30% das indústrias chocolateiras do país, como Nestlé, Kraft Foods e Mars.
Para tentar evitar esse branqueamento, a Cargill desenvolveu uma nova manteiga de cacau, que, segundo a empresa, aumenta de cinco a 30 vezes a resistência do chocolate, conforme o tipo de produto (ao leite, branco, com recheio ou sem recheio, com amêndoas). "O objetivo desse novo produto é aproveitar o crescimento da região Nordeste e ajudar o consumo de chocolates a aumentar naquela região", diz Susanne. A nova manteiga consumiu cinco anos de pesquisas e investimento de R$ 5 milhões da unidade brasileira da Cargill.
O consumo per capita de chocolate no Nordeste é o menor entre todas as regiões do país, segundo a Nielsen. No ano passado, ele foi de 360 gramas. É quase quatro vezes menos do que se consome na Grande São Paulo, localidade onde cada habitante consome em média 1,234 quilo da iguaria. "O branqueamento do chocolate é um dos fatores que explicam esse baixo consumo", diz a executiva.
A nova manteiga de cacau da Cargill passa por um processo físico que altera a ordem de suas moléculas. "Mas esse processo, que é exclusivo da Cargill, não muda nem o gosto, nem o cheiro, nem o ponto de derretimento, nem qualquer outra propriedade do chocolate preparado com a [nova manteiga de cacau] Nextter", diz Susanne. Ela explica que o branqueamento ocorre quando o chocolate sofre mudanças bruscas de temperatura. Quando o chocolate passa do calor para o frio, ou vice e versa, a manteiga presente no produto vai à superfície, provocando o aspecto esbranquiçado.
O preço da nova manteiga deverá ficar um pouco acima do da manteiga comum, mas ainda não é possível especificar quanto. "Isso depende da escala de venda", diz Susanne. O novo produto será apresentado à indústria a partir de amanhã, na Food Ingredients South America 2010, feira que reúne fornecedores de ingredientes para a indústria de alimentos e bebidas, até quinta-feira, em São Paulo.
Veículo: Valor Econômico