Gestão: Companhia vai centralizar produção de medicamentos em GO
Bergamo, da Hypermarcas: "Não saio do escritório antes das nove e meia da noite. Ganhamos agilidade ficando por aqui"Na hora do almoço, uma das salas de reuniões da Hypermercas, no escritório central da empresa na zona sul da capital paulistas, se transforma em uma espécie de restaurante familiar. Na mesa, o pessoal da área de marketing, planejamento e finanças quase sempre almoça junto. A tela usada para mostrar gráficos e projetos divide o espaço com as cubas de aço que aquecem a comida. Claudio Bergamo, presidente da Hypermarcas, diz que ganha tempo com isso.
"Para comer na rua a gente leva um tempão. Não saio do escritório antes das nove e meia da noite, e ganhamos mais agilidade ficando por aqui". O que é tratado nas conversas informais do almoço tem, nas últimas semanas, sido um dos principais focos de ação da empresa, considerada a maior companhia de capital nacional do setor de bens de consumo do país, com produtos nas áreas de alimentos, higiene pessoal, limpeza doméstica e medicamentos. O faturamento neste ano pode chegar a R$ 3,8 bilhões, segundo estimativa de analistas.
A equipe de executivos da Hypermarcas tem trabalhado na tentativa de desenhar projetos e tomar iniciativas para crescer mais rapidamente de forma orgânica.
Com R$ 5 bilhões investidos na aquisição de mais de uma centena de marcas nos últimos dois anos, a companhia se transformou na maior compradora de ativos de empresas de consumo dos últimos anos. "Aquisição é uma parte do negócio que meia dúzia de pessoas aqui dentro acompanham. Vamos muito além disso", diz Bergamo.
Em discussão hoje, nos corredores da companhia, estão alguns desses projetos em andamento. A Hypermarcas vai criar um centro de pesquisa e desenvolvimento em Alphaville, na Grande São Paulo, onde serão investidos R$ 10 milhões. O local terá três mil metros quadrados, está em processo de reforma e acomodará uma nova equipe. A executiva Sônia Tuccori foi contratada há quatro meses para o cargo de diretora de P&D em Alphaville. "Vamos levar o consumidor para dentro da empresa, mostrar as marcas relançadas, fazer estudos e análises de comportamento do consumidor. Queremos desenvolver o que ainda não criamos", diz Marcio Santos, diretor executivo de operações da área de consumo da Hypermarcas.
A empresa também criará uma estrutura fabril única para a produção de medicamentos sem prescrição médica (OTC). O plano é finalizar, ao término do ano de 2011, a maior ampliação já realizada na unidade do grupo em Anápolis (GO), que pertence à Neo Química, companhia da área de OTC adquirida pela Hypermarcas em 2009. Serão investidos no local pouco mais de R$ 110 milhões, segundo o governo goiano.
A unidade fabril, que deve receber R$ 60 milhões do investimento, reunirá linhas de produção de todas as marcas do grupo no segmento, como Rinosoro, Benegrip e Lisador. É um negócio que rendeu à empresa R$ 600 milhões (valor líquido) dos R$ 1,4 bilhão faturados de janeiro a junho de 2010.
O restante do montante investido (R$ 50 milhões), está sendo aplicado na criação de um centro de distribuição de medicamentos ao lado da fábrica. O espaço será o maior centro de logística e estocagem de uma fabricante de produtos OTC na América Latina. Duas unidades da área de medicamentos da empresa, localizadas em Barueri e São Paulo, devem parar de operar. Isso inclui a planta da DM Farmacêutica, comprada em 2007.
Além disso, a empresa ainda se prepara para bater um recorde. Ela espera lançar e relançar cerca de 400 itens neste ano. Isso equivale a mais de um novo produto nas prateleiras ao dia. Em 2009, houve um lançamento a cada dois dias. Nessa conta, estão mercadorias que antes não existiam como a lâmina de barbear Monange e o desodorante Avanço Mob, que chegam às lojas nas próximas semanas. Também houve mudanças em produtos de linha, como os da Bozzano.
O grupo precisa ganhar musculatura com as marcas compradas e focar na integração. "A concorrência está feroz e há uma forte demanda por novidades entre consumidores, principalmente entre a classe D, atendida pela linha de produtos da Hypermarcas", diz o gerente de área da Planner Corretora, Ricardo Martins.
A máquina de integrar, entre caixas e salas sem paredes
Grandes empresas que crescem rapidamente por meio de aquisições acabam sendo questionadas pelo mercado sobre a sua capacidade de integrar estruturas. A Hypermarcas, do empresário João Alves de Queiroz Filho, criou uma espécie de Unilever em miniatura, e por isso acabou no centro dessa discussão nos últimos tempos. Com 135 marcas nas prateleiras e R$ 1,4 bilhão de vendas líquidas em 2009, ela criou uma máquina de incorporar fábricas, pessoal e, principalmente, ideias.
Isso está vivo no escritório central da empresa. No quinto andar de um edifício na avenida Juscelino Kubitschek, na zona sul da cidade de São Paulo. Na sala sem divisórias do comando, as equipes de marketing e de planejamento trabalham lado a lado. É possível tratar em tempo real de projetos entre as equipes, sem muita perda de tempo. Apenas o presidente, Claudio Bergamo, tem uma sala com paredes nesse espaço.
Na divisões entre as equipes, a empresa se valeu da criação de organogramas em forma de "espelhos". A área de marketing possui quatro executivos, cada um responsável por uma área da empresa: farma, higiene pessoal e beleza, limpeza e alimentos. No comercial, também há quatro áreas idênticas. E elas "conversam" entre si. A cada aquisição, a nova estrutura comprada precisa ser absorvida por essa estrutura de comando.
A cada ciclo, que equivale a cerca de três meses, a empresa publica ao mercado o nível de integração dos seus ativos e marcas. E consegue classificá-los em quatro fases. Na fase inicial estão empresas recém-compradas. Nesse caso, a Hypermarcas não chega a mudar nada. "A equipe da Hypermarcas nunca muda nada, do dia para a noite, logo que compra algo. Antes disso, eles analisam o que há na empresa em termos de gestão", diz Ricardo Martins, gerente de área da Planner Corretora.
São necessários, em média, dois anos para cada marca comprada atingir a fase quatro. Neste momento, a maioria dos negócios estão entre as fases dois e três, comandadas pelo grupo que decide tudo em salas sem divisórias e em mesas com produtos prontos para testes a qualquer hora.
Veículo: Valor Econômico