Os preços da celulose de fibra curta, que se mantiveram estáveis neste mês, podem consumar em outubro a projeção de queda traçada por analistas há algumas semanas, diante do aumento maior do que o esperado nos estoques mundiais da matéria-prima. Segundo o Conselho de Produtos de Celulose e Papel (PPPC, na sigla em inglês), o volume estocado globalmente subiu para 34 dias em agosto, ante 29 dias em julho e 25 dias em junho, de volta ao nível médio histórico. Esse dado pode ser interpretado como indício de maior equilíbrio na relação entre oferta e demanda mundial, com potencial para pressionar as cotações válidas para o próximo mês.
Para o analista Leonardo Alves, da Link Investimentos, os números relativos à economia europeia e ao desempenho da China, um dos principais destinos da celulose brasileira, abaixo do esperado, se somam ao cenário de incerteza desenhado pela elevação dos estoques. "As empresas justificaram os reajustes deste ano com os estoques baixos. Esse argumento não poderá ser usado por enquanto", afirma o analista. "Pode haver pressão para queda dos preços em outubro". Em base sazonalizada, os estoques em agosto ficaram em 33 dias, exatamente no nível histórico.
Desde o início do ano, os produtores de celulose de fibra curta implementaram seis reajustes e um corte de preços, de US$ 50 por tonelada, válido a partir de agosto. Com isso, as cotações de referência da fibra curta negociada na Europa se mantiveram neste mês em US$ 870 por tonelada. Na América do Norte, o preço lista está em US$ 900 a tonelada e na Ásia, incluindo China, a tonelada vale US$ 800. Na avaliação de Alves, é possível falar em queda de US$ 30 por tonelada caso se confirme a acomodação na demanda.
Apesar do cenário menos otimista para as cotações no curtíssimo prazo, o Brasil continua se destacando no mercado global e avançando sobre outros países produtores. Em agosto, segundo balanço da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações da fibra - praticamente toda a celulose de mercado produzida no país é vendida para outros países - somaram 707,3 mil toneladas, uma alta de 2,4% na comparação com o mesmo período de 2009. Os dados detalhados do setor, que são compilados pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), devem ser divulgados entre hoje e amanhã. No acumulado do ano até julho, conforme a entidade, o Brasil exportou 4,842 milhões de toneladas da matéria-prima, uma alta de 2,8%.
Em 2009, o país manteve a quarta posição no ranking da RISI, consultoria internacional especializada no setor, entre os maiores produtores mundiais, com 13,7 milhões de toneladas, alta de 7,3% ante o volume produzido em 2008. No grupo dos 10 maiores, apenas o Brasil e Chile mostraram expansão. O fechamento de fábricas de alto custo e a transferência de operações para o Hemisfério Sul, onde as condições são mais favoráveis ao cultivo de celulose de eucalipto, explicam, em parte, a importância do país para a indústria mundial de celulose. Outra vantagem competitiva está no custo de produção da matéria-prima, o mais baixo do globo. Até 2020, a perspectiva da Bracelpa é a de que o país avance no ranking, ameaçando a vice-liderança dos chineses, com base em dados de 2009, na esteira da implementação de novas fábricas. Conforme a entidade, até aquele ano, o setor vai receber aportes de US$ 20 bilhões.
Veículo: Valor Econômico