Câmbio leva fabricantes a reprogramarem produção

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A disparada da cotação do dólar nos últimos dias representa cada vez mais um problema para os fabricantes de eletroeletrônicos, especialmente os de linha marrom (televisores, DVDs, rádios, entre outros). Se até esta semana o a discussão estava centrada na necessidade de reajuste dos preços, pressionados pelos componentes importados, a questão deve chegar às linhas de produção nos próximos dias. A Semp Toshiba e a CCE, por exemplo, já marcaram férias coletivas de dez dias para seus funcionários a partir do dia 20 de outubro por conta da alta do dólar, segundo informações de Valdemir Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus.


 
"Isso não estava programado. Normalmente essa parada acontece apenas no final do ano", disse Santana. "É por causa da questão do dólar", afirmou o presidente do sindicato. Segundo Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Eletoreletrônicos, as incertezas em relação ao câmbio estão deixando as indústrias confusas em relação aos reajustes a ser aplicados. "O varejo não sabe por quanto comprar e a indústria não sabe por quanto vender", explicou Kiçula. O presidente da Eletros afirmou que os varejistas estão assustados com a situação. "Se for repassar a diferença do dólar a indústria teria que reajustar 50%", disse. Mas isso não deve acontecer. Para ele, provavelmente, o aumento dos preços deve ficar entre 5% e 10%. "Todo mundo está apreensivo com a situação", afirmou.

 

Segundo informações de pessoas próximas a Semp Toshiba, a empresa chegou a negociar com os clientes um reajuste de 10% nos preços durante a última segunda-feira. No entanto, ao final do mesmo dia, diante das incertezas, voltou atrás e suspendeu o reajuste. Até o final do dia de ontem nem mesmo os funcionários da fabricante tinham acesso aos novos preços e as vendas continuavam paralisadas.

 

Para Antônio Silva, presidente da Federação das indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), o impacto do dólar alto não deve ser forte nesses últimos meses de 2008. "Mas as empresas já estão fazendo um estudo para se adaptar a partir de janeiro", disse. Segundo ele, a federação não tem conhecimento do fato de que as férias coletivas das empresas foram convocadas em virtude da crise. Além da Semp Toshiba e da CCE, a fabricante de motocicletas Honda, também instalada em Manaus, convocou férias coletivas para o próximo dia 20. Procuradas, apenas a Semp Toshiba negou a informação até o fechamento desta edição.

 

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, disse que a dificuldade em conseguir fechar contratos de adiantamento de crédito e de crédito à exportação, além das taxas mais altas é hoje uma das principais preocupações do setor. Além disso, informou o empresário, em alguns casos o desconto de títulos em bancos está custando mais, "de 1,5% ou 1,7% para até 3%", o que também impacta no preço futuro a ser negociado com os clientes, dependendo da dependência que as empresas têm desse tipo de operação.

 

Alcino Bastos, gerente geral da filial brasileira da Okuma, que vende no Brasil tornos e centros de usinagem importados da matriz norte-americana, informou que as negociações estão paradas e não só no Brasil. "A incerteza é muito grande não dá para estabelecer preços." Alguns clientes, informou estão postergando o fechamento do contrato de câmbio na tentativa de conseguir taxa melhor em curto prazo. Bastos informou que por enquanto a empresa também está aguardando para tomar qualquer decisão quanto a esses adiamentos para quitar parcelas. Bastos disse que não só a Okuma como outros importadores estão dando um prazo para ver em que patamares o dólar ficará mais estável. O executivo informou que não houve qualquer cancelamento de encomendas, mas negócios previstos para ser fechados esta semana foram adiados.
Uma fabricante de malhas que preferiu não ser identificada informou que fiações como Paramount Lansul e Fides não estão fechando preço para negócios futuros esta semana pela dificuldade quanto ao impacto do dólar em suas importações. As companhias confirmaram que aguardam para saber como ficará a moeda norte-americana.. "Consultas para entregas futuras estão em aberto, caso contrário teríamos de repassar alta de 50%. Não acreditamos que o dólar ficará nesse patamar. Pode estabilizar a R$ 1,90 ou R$ 2", afirmou o presidente da Paramount Lansul, Fuad Mattar. Juliana Rappa, da área administrativa da Fides também informou que a companhia está atendendo os pedidos já colocados, mas não tem como fechar preços futuros.

 

O diretor comercial da Lupo,Valquírio Cabral, disse que a empresa tem sofrido pressão de custos devido ao dólar e não há tempo hábil para buscar o produto fora em plena demanda de final de ano. O presidente da fabricante de tecidos Cedro e Cachoeira, Aguinaldo Diniz Filho, disse ter feito uma negociação com os clientes para evitar a parada. "Negociar hoje está muito mais arriscado", afirmou. Na avaliação do empresário, o dólar está em patamar "descabido"

 

O presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Blumenau e Região (Sintex), Ulrich Kuhn, estima uma queda das exportações brasileiras de têxteis de 20% nos próximos seis meses. Segundo ele, a recessão americana e seus reflexos mundiais estão instalados e as empresas exportadoras vão sofrer mais. "Já tínhamos uma queda gradativa das vendas externas em função do câmbio. Agora estamos num paradoxo porque o dólar subiu, mas ninguém está usando a aparente vantagem.

 


Veículo: Gazeta Mercantil


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