Carrefour investiga contas no Brasil

Leia em 4min

Matriz demite diretoria da filial brasileira e contrata KPMG para auditar o balanço

 

A subsidiária do Carrefour no Brasil é alvo de uma auditoria de seus resultados financeiros, a pedido da matriz, na França. A medida foi tomada por conta da necessidade de fazer "ajustes contábeis" nas contas da rede varejista, a segunda maior rede supermercadista do país, com R$ 25,6 bilhões de faturamento no ano passado.

 

Em São Paulo, auditores da KPMG, responsável pela análise dos números do grupo no mundo, foram contratados para verificar a necessidade de computar perdas que , até então, a companhia não havia relatado no último balanço encaminhado à matriz, na França.

 

Procurada pelo Valor, a rede varejista na França confirmou a informação, assim como o fato de o grupo já ter começado a contabilizar perdas da filial brasileira nos resultados globais da companhia no mundo neste ano. No Brasil, a empresa não se manifestou.

 

Em nota encaminhada ao Valor, a porta-voz da empresa em Paris, Hélène Saint-Raymond, informa que a varejista "decidiu contabilizar encargos extraordinários por conta de descontos não recebidos e [pela necessidade de] dar baixas contábeis no estoque" da rede no país. Foram decisões tomadas em meio a mudanças no comando do Carrefour no Brasil.

 

Em maio, quando a KPMG foi contratada, a companhia começou a demitir empregados do alto escalão no país. No total, cinco executivos, inclusive da área financeira e do comercial, foram demitidos nos últimos quatro meses.

 

O ex-presidente da cadeia no Brasil, Jean-Marc Pueyo, que havia comandado a filial por sete anos, foi transferido para a França em julho para assumir uma função executiva, mas deixou a empresa no início de agosto. Pueyo não foi localizado em sua residência no Brasil.

 

Questionada, a matriz não faz relação direta entre as mudanças no comando no Brasil e a necessidade de ajustes no balanço da filial. Informa que o time de administração mudou devido "ao pobre desempenho de nossos hipermercados no Brasil."

 

A porta-voz do Carrefour, em Paris, observa, em mensagem por e-mail enviada ao Valor, que "até o momento, não temos nenhuma evidência de qualquer má conduta" e que as conclusões da auditoria externa serão comunicadas quando estiverem disponíveis.

 

Último relatório de resultados mundiais da rede, publicado na França em 30 de agosto, revelam que os ajustes que estão sendo feitos nas contas da filial brasileira reduziram o lucro da operação na América Latina de janeiro a junho. A varejista não informa o tamanho da redução.

 

Informa que já contabilizou no balanço mundial custos não esperados de € 69 milhões no Brasil, relativos a baixas contábeis verificadas em inventário das lojas neste ano. Esse valor foi constatado pela equipe de auditoria da KPMG.

 

Para todo o ano de 2010, a expectativa é que esses perdas extraordinárias atinjam € 80 milhões, segundo informou, semanas atrás, o chefe da área financeira da rede no mundo, Pierre Bouchut, em conferência com analistas de bancos.

 

Relatório de análise do Credit Suisse diz que a notícia é uma "surpresa negativa" e que isso reitera a avaliação de desempenho do Carrefour abaixo da média do mercado. É fato que a cadeia varejista francesa está, há anos, em processo de reestruturação de seu modelo de hipermercados no mundo.

 

Com a saída de Jean-Marc Pueyo do cargo de presidente do Carrefour no Brasil, o CEO mundial da rede, Lars Olofsson, ligou para o executivo Luiz Fazzio, que estava há apenas sete meses na empresa (ele cuidava da área comercial e logística de supermercados), para que ocupasse a cadeira de CEO no Brasil.

 

Fazzio comandou as operações da C&A no Brasil de 2002 a maio deste ano e trabalhou no grupo Pão de Açúcar e no Makro.

 

"Fazzio tinha sido convidado para trabalhar no Walmart e foi pego de surpresa. Agora, ele tem trabalhado nesse assunto dos ajustes praticamente todos os dias", diz uma fonte próxima ao executivo. Quando isso aconteceu, o Carrefour já havia feito, entre os meses de maio e julho, uma série de mudanças no comando da rede.

 

Foram demitidos quatro executivos do Carrefour: Manoel Antonio de Araújo, diretor comercial de alimentos; Pedro Daniel Magalhães, diretor financeiro; Roberto Britto, ex-presidente do Ponto Frio e diretor geral do Atacadão; e o francês Eric Reiss, diretor de hipermercados. Procurados pelo Valor, eles não retornaram as ligações.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Cresce gasto com educação corporativa

Segundo pesquisadora, cerca de 400 empresas investem em cursos próprios para treinar seus funcionários &...

Veja mais
Leite "high-tech"

A Itambé investe em tecnologia para se tornar mais competitiva. A empresa vai destinar R$ 12 milhões na su...

Veja mais
Caixa amarela ganha novo recheio

A Caixa Amarela da Chocolates Garoto ganha novo recheio: duas unidades do Talento Bombom. Com esta nova versão, q...

Veja mais
Drogal inaugura uma nova filial no interior paulista

Com a ideia de oferecer duas opções aos clientes, aumentar assim o poder de fidelização com ...

Veja mais
Varejo segmenta operações para atingir todos os públicos

A onda de segmentação no comércio nacional avança e as redes varejistas aumentam a cria&cced...

Veja mais
Francesa BIC prevê crescimento de 16% em sua operação brasileira

A multinacional francesa BIC projeta crescimento de 16% no Brasil este ano. Segundo o presidente da empresa, Horá...

Veja mais
Como lançar descontos e incentivos

Ajustes contábeis que precisam ser feitos pelas redes varejistas em seus balanços, com base em acordos com...

Veja mais
Uma rivalidade de séculos na ponta do lápis

Esqueça tudo o que você sabe sobre rivalidades entre empresas. Apple contra Microsoft, Ford e General Motor...

Veja mais
Calorias de verão

Depois de lançar sorvete em massa para o mercado de food service, a Diletto quer seduzir o consumidor final com d...

Veja mais