Segundo pesquisadora, cerca de 400 empresas investem em cursos próprios para treinar seus funcionários
Cada companhia gasta cerca de R$ 11 mi anuais em treinamento, o que significa uma média de R$ 1.586 por empregado
O mineiro Márcio de Jesus, 38, diretor da Algar Telecom em Franca, interior de São Paulo, passa pelo menos duas semanas do mês em viagens para reuniões com parceiros e funcionários no oeste paulista.
Apesar da agenda atribulada, durante uma semana por mês, Jesus troca as salas de reunião pelas salas de aula para treinamentos corporativos, rotina que se repete mesmo depois de cursar um MBA numa escola tradicional de negócios de São Paulo.
"Já nos acostumamos à cultura de separar alguns dias para os cursos", diz.
Os treinamentos são aplicados pela UniAlgar, centro de ensino do Grupo Algar em Uberlândia (MG). Por ano, são formados 5.000 funcionários, com investimentos de R$ 8,5 milhões.
O Grupo Algar não representa um caso isolado. Iniciativas de educação corporativa cresceram muito ao longo da última década.
"Enquanto no Brasil na década de 90 apenas 10 empresas tinham iniciativas do tipo, hoje elas chegam a 400", diz Marisa Éboli, especialista em educação da FEA-USP.
São empresas como Petrobras, Votorantim, Natura, AmBev e GE, que buscam capacitação em disciplinas como gestão de pessoas, plano de negócios, formação de lideranças e melhora de processos internos.
Os cursos também servem para adicionar alguns requisitos técnicos aos funcionários, como no caso da Ernst & Young, que criou sua universidade em 2007.
A empresa conseguiu aprofundar o treinamento de contabilidade internacional, aplicada de forma superficial pelas escolas de negócios brasileiras.
CURSO SOB MEDIDA
Em levantamento realizado com 54 companhias no Brasil, a professora Marisa Éboli identificou que a maioria dos investimentos vem de empresas nacionais, privadas e com faturamento acima de R$ 1 bilhão.
Os modelos de cursos são divididos entre educação presencial e à distância e, em média, cada companhia investe anualmente cerca de R$ 11 milhões em treinamentos, o que significa R$ 1.586 por funcionário.
"A origem dos cursos é variada. Pode nascer internamente -a partir de uma necessidade pontual de negócios- ou de forma externa, a partir de parceiros de negócios ou fornecedores", afirma a professora.
Foi o que aconteceu com a Bematech, empresa do ramo de sistemas para automação do varejo.
A companhia criou em 2003 a Universidade Bematech, coletânea de cursos para capacitar revendedores e redes de assistência técnica. Três anos depois, abriu os treinamentos para os funcionários internos.
Embora muitas adotem o rótulo de "universidades corporativas", nem todo treinamento pode ser classificado dessa forma.
"Apenas sistemas de desenvolvimento pautados em competências específicas e permanentes", diz Éboli.
Veículo: Folha de S.Paulo