Abia prevê que o crescimento na produção, de 5% este ano, cairá para cerca de 3,5% no ano que vem
A queda na produção de alimentos em agosto, que puxou para baixo os dados nacionais e regionais da indústria, poderá se acelerar com a crise mundial. A possível influência na inflação e nas demandas externa e doméstica, será um desafio para os próximos meses. O diretor de Economia da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Denis Ribeiro, acredita que o setor vai desacelerar o crescimento na produção, de cerca de 5% este ano, para algo em torno de 3,5% no ano que vem.
A queda de 7,4% em agosto ante igual mês do ano passado, contabilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi atribuída a produtos voltados para exportação, como suco de laranja e cana-de-açúcar, mas atingiu 63% dos itens desse setor. Segundo Ribeiro, os dados da Abia, ao contrário do IBGE, não mostram recuo no setor em agosto. Ele argumenta que, enquanto a associação computa dados referentes a produtos de ponta da cadeia produtiva, de maior valor agregado, os resultados oficiais referem-se sobretudo à agroindústria.
O diretor da Abia explicou que em curtíssimo prazo a preocupação das empresas está concentrada no crédito à exportação e no financiamento à nova safra. Segundo ele, a expectativa é que as providências anunciadas pelo governo sejam suficientes para garantir os recursos para produtores de matérias-primas e exportadores.
A preocupação com a crise, no longo prazo, volta-se aos efeitos que o dólar terá sobre a inflação e o poder de compra dos trabalhadores. De acordo com Ribeiro, a alta dos alimentícios afetou as vendas reais da indústria em agosto, que caíram 7,3%, mesmo com crescimento, segundo a Abia, de 0,8% na produção no período.
Segundo o IBGE, a indústria alimentícia representou o principal impacto negativo na produção industrial em agosto ante julho - comparação na qual retraiu 3,1% - e ante igual período do ano passado.
André Macedo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE, explica que a atividade de alimentos tem peso de 12% na produção industrial, o maior peso entre todos os setores. O de veículos automotores, por exemplo, não ultrapassa 10%.
Ele atribui o mau desempenho de alimentos em agosto a três produtos: açúcar, por causa do direcionamento da produção das usinas para o álcool; suco de laranja, em conseqüência da queda de preços internacionais, e carne, refletindo a falta de animais para abate. A castanha de caju, produzida no Nordeste, também é citada como destaque de queda.
O consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e professor da Unicamp, Julio Sérgio Gomes de Almeida, disse que o mau desempenho está estreitamente vinculado ao mercado doméstico e a uma possível queda no consumo de alimentos por causa da forte inflação desses produtos no primeiro semestre. Apesar da deflação em agosto e setembro, os alimentos acumulam alta de 9,3% no IPCA de janeiro a setembro.
Veículo: O Estado de S.Paulo