Na cola da China

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Com uma semana de folga por ano e salários de US$ 40, o Vietnã se torna o segundo maior exportador têxtil dos EUA. Por que isso pode ser perigoso para as empresas?

 

Mas, quando uma das portas se abriu, cerca de 150 pessoas olharam assustadas em direção à luz intensa que vinha de fora. Para driblar os altos impostos do governo, a maioria das fábricas do Vietnã trabalha na maior discrição. Nada de letreiro ou recepção amistosa para uma visita guiada.

 

Apenas trabalhadores num ritmo frenético atrás de suas máquinas de costura. O trabalho não pode parar. Numa jornada de 12 horas diárias, com apenas 30 minutos para o almoço, a marca das 16 mil peças de jeans deve ser batida.

 

Apesar da lei do silêncio imposta, um quadro de normas com o símbolo da rede americana Sears pregado na parede dá um indício do destino dessa produção. Nos últimos anos, as roupas vietnamitas têm entrado no radar das empresas americanas.

 

Hoje é possível encontrar etiquetas “Made in Vietnã” em varejistas como Walmart e Target, assim como nos produtos das marcas Banana Republic e Levi's. A Comissão Americana do Comércio Internacional (USITC) considera, inclusive, que o país é um dos únicos capazes de concorrer com a China no setor têxtil.

 

O Vietnã já ocupa o segundo lugar em exportação de roupas aos Estados Unidos. Segundo Vu Duc Giang, diretor-geral do grupo têxtil e de confecção do Vietnã (Vinatex), no primeiro semestre deste ano, as exportações ao mercado americano chegaram a US$ 2,7 bilhões – crescimento de 20,6%.

 

Apesar dos números vultosos, a adoção de produtos vietnamitas nem sempre foi bem vista pelos consumidores americanos. Nada a ver com as cicatrizes causadas pela sangrenta guerra entre os Estados Unidos e o Vietnã entre 1964 e 1975.

 

A desconfiança em relação aos artigos vietnamitas deriva de um problema estrutural: para se tornar competitivo no cenário internacional, o Vietnã viola leis trabalhistas numa política extrema de baixo custo de produção.

 

Em Hanói, o salário médio no setor é de US$ 40 por mês, com seis dias de trabalho por semana e apenas sete dias de férias no ano, durante o Têt – ano novo lunar. Nas nações vizinhas, o salário já atingiu quase o dobro.

 

Além disso, é comum o uso de mão de obra infantil por ser ainda mais barata. O trabalho de crianças não é proibido no país, mas pode representar um inconveniente para a imagem dos importadores, como aconteceu com a Nike.

 

Em 2002, a empresa foi processada pelo ativista Mark Kasky por não proteger os direitos trabalhistas de seus funcionários no Vietnã, na China e Indonésia. A americana teve de pagar U$ 1,5 milhão para um grupo de monitoramento das condições de trabalho industrial, chamado Fair Labour Association. Após realizar quase 600 auditorias, a Nike reconheceu publicamente problemas como o excesso de horas de trabalho e o assédio moral de seus empregados.

 

Desde então, as marcas procuram se certificar do sistema de trabalho nas fábricas vietnamitas. A vantagem do preço baixo, entretanto, deixa muitas vezes essa questão em segundo plano.

 

Uma calça jeans comprada no Vietnã por US$ 5 é posteriormente vendida entre US$ 30 e US$ 40 no país de destino. As empresas estrangeiras, segundo Frederik Burke, advogado da agência Baker & McKenzie, identificam o país como uma das regiões prioritárias para expandir seus negócios, especialmente na atual situação em que as perspectivas para a economia global permanecem sombrias.

 

“O sucesso de muitas empresas dos EUA no Vietnã encoraja outros países e mostra que é um mercado onde poderiam prosperar”, diz Burke, também membro da Câmara Americana de Comércio no Vietnã. Os chineses que se cuidem.

 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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