João Carlos Jacobsen, presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa) e vice da Abrapa: na Bahia, crescimento garantido da produçãoA forte alta dos preços do algodão, que na bolsa de Nova York alcançaram máxima histórica na semana passada, está colaborando para inflar as vendas antecipadas da produção brasileira do ciclo 2010/11. Na média do país, estima-se que 45% da safra que será cultivada a partir de novembro deste ano e colhida em junho do ano que vem já esteja negociada. Em algumas regiões, como no oeste da Bahia, esse percentual já está em 60% e poderá chegar a 80% nos próximos meses.
O percentual atual de venda antecipada é equivalente a um volume de 750 mil toneladas da pluma. Ou seja, 45% de uma colheita esperada de 1,65 milhão de toneladas, ante as 1,12 milhão de toneladas da realizadas nesta temporada, cuja colheita foi encerrada em setembro, segundo cálculos da Safras & Mercado.
No segmento, a expectativa é que a colheita de 2011 seja resultado de uma área plantada entre 20% e 30% maior e de um clima favorável, além do uso de mais tecnologia, diz Miguel Biegai Júnior, da Safras.
Segundo a primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2010/11, o incremento da área plantada de algodão será entre 21,9% e 29,1%, o que equivale a um acréscimo de 182,7 mil a 243,1 mil hectares.
Mas o avanço da área plantada pode não ocorrer na dimensão esperada. Pelo menos em Mato Grosso, maior produtor nacional da pluma, a intenção era de cultivo de 750 mil hectares de algodão, mas por causa do atraso do plantio de soja, devido à estiagem, há chances de os cerca de 200 mil hectares que seriam cultivados no regime de safrinha, após a colheita da soja precoce, serem reduzidos a zero.
Com isso, a área total de algodão em Mato Grosso cairia para algo próximo a 540 mil hectares, diz Pierre Marie Jean Patriat, presidente da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat). "Se as chuvas atrasarem mais uma semana, essa área pode recuar ainda mais e voltar para 510 mil hectares", diz o dirigente. Para Haroldo Cunha, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), não haverá redução na área mato-grossense de algodão porque a a cultura avançará nesta safra 2010/11 em parte da área destinada à soja.
Na Bahia, onde o algodão é cultivado apenas na safra principal, o crescimento da área plantada está garantido, diz João Carlos Jacobsen, vice-presidente da Associação Brasileira de Algodão (Abrapa) e que encerra neste mês seu mandato como presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa).
O acréscimo será de 20%, diz Jacobsen, de 260 mil hectares para 305 mil hectares, praticamente uma volta ao patamar de 2008, quando a Bahia atingiu sua área máxima de 310 mil hectares. O aumento da área não está sendo afetado pela estiagem, que também atinge o oeste baiano, além do Centro-Oeste. Isso porque o plantio começa em 15 de novembro e vai até 20 de dezembro.
A segurança do produtor de que vai conseguir aumentar sua área na Bahia contribuiu para que no Estado o índice de comercialização antecipada da safra seja o mais alto do país. "O produtor já está com 60% da sua área vendida, em média, a 75 centavos de dólar por libra-peso. Acredito que com esses preços recordes, o potencial é de que em alguns meses esse percentual atinja o limite máximo, que é de 80%", afirma Jacobsen. Ter 20% não vendido até antes da colheita é uma margem de segurança mínima para quebras de safra.
A confiança do produtor de que a rentabilidade do algodão será elevada na próxima safra, não se estende às temporadas seguintes, diz Biegai. A commodity em Nova York atingiu na semana passada o maior preço desde que começou a ser negociada na bolsa americana, há 15 anos. No entanto, os contratos para julho de 2012 apontam níveis de preços menores, da ordem de 84 centavos de dólar por libra-peso, e de 80 centavos de dólar por libra-peso no porto brasileiro. "O mercado está prevendo que com esses preços atuais recordes, acima de US$ 1 a libra peso, a produção mundial vai crescer, e o preço, recuar", diz Biegai.
Veículo: Valor Econômico