O dólar em baixa já vem gerando reflexos no desempenho do mercado de luxo brasileiro. De acordo com analistas do mercado, através da desvalorização da moeda norte-americana o comércio que necessita de importações tem garantido mais opções e estoque aos clientes. O otimismo nas importações deverá concretizar a expectativa de 22% de alta nos produtos trazidos ao País.
Ontem o dólar comercial fechou cotado a R$ 1,6640 na compra e R$ 1,6660 na venda, estável em relação ao fechamento anterior. O dólar já acumula desvalorização de 1,54% em outubro, frente à baixa de 3,70% registrada no mês passado. No ano, a desvalorização acumulada da moeda norte-americana chega a 4,32%.
Em 2009 o mercado de luxo brasileiro faturou US$ 6,23 bilhões, o que representa um crescimento de 4% em relação ao ano anterior. A expectativa este ano é de que o setor alcance US$ 7,59 bilhões. Os dados são da pesquisa "O mercado do Luxo no Brasil - ano IV", realizada pela MCF Consultoria & Conhecimento e pela empresa de pesquisa GfK Brasil.
A boa expectativa, para Isabelle Mascetti, consultora de mercado da Cor Inovação é que o brasileiro agora terá mais opções e mais dinheiro para gastar. "Temos hoje um público com potencial aquisitivo e com confiança na economia, e temos lojas que oferecem mais opções de produtos e apostam na inovação. O bom preço do dólar deve gerar um aumento na casa dos 22% na quantidade importada pelo Brasil ano passado", afirmou.
Em contrapartida, a consultora lembra que o dólar em baixa também incentiva um outro tipo de consumo: o feito fora do País. "Os brasileiros estão consumindo no exterior.
Eles foram o melhor tíquete médio de consumo de todo o território americano no ano de 2009, mantendo a liderança isolada em Miami e em Nova Iorque", continuou a consultora.
Hoje em dia, os ricos somam apenas 10% dos brasileiros, mas devem chegar a 16% da população até 2014, apontam estimativas. Em números, são 20 milhões de endinheirados, pertencentes às classes A e B (com renda entre R$ 5.000 e R$ 10 mil), que devem chegar a 31 milhões nos próximos seis anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao acompanhar este crescimento, o mercado de luxo se adapta para bem receber os chamados novos-ricos.
"Dividimos a classe de novos-ricos em dois segmentos fortes, os clientes mais jovens, que procuram qualidade, inovação e singularidade e os ricos emergentes, que fazem parte da classe A e B e já conseguem consumir coisas antes restrita aos milionários", afirmou Janaína Buscarino, analista de mercado e consultora da EBV Mercado de Luxo.
Apostando nesse crescimento do poder de aquisição dos ricos emergentes, o grupo Moët Hennessy Louis Vuitton (LVMH), que é o detentor de diversas marcas de luxo, como Christian Dior, Givenchy, Kenzo e Acqua di Parma, anunciou recentemente uma nova frangância para o consumidor brasileiro. "O Brasil é foco da LVMH, e, como parte da nova estratégia mundial do grupo, vai ser o único das Américas a lançar o perfume Fan di Fendi. A nossa expectativa é essa fragrância ser uma das cinco mais procuradas no Natal e consolidar a imagem da marca no mercado de luxo", declarou Renato Rabbat, diretor do grupo LVMH.
Loewe, que também entra na divisão, é líder no seletivo mercado espanhol e atualmente está presente em mais de 30 países. O principal lançamento para 2010 é a fragrância Aire Loco, que chega ao mercado em novembro.
Segundo Rabbat, o objetivo do grupo é trazer ao Brasil o hábito de consumir produtos como acontece na Europa. "O nosso desafio está em implementar ações que sejam de referência e dar o destaque que a marca tem no mercado europeu", afirmou.
Iniciativas como esta, de acordo com Janaína Buscarino, não são novidade. "As grandes marcas de luxo do mundo já perceberam claramente o potencial brasileiro e a segurança do crédito para venda de produtos mais caros. O curso natural do luxo mundial é investir em países como o Brasil porque hoje o Brasil é um novo-rico, e o mercado não ignora esse potencial", disse.
Expansão
O aumento da renda dos brasileiros e a melhora da conjuntura econômica, com maior oferta de crédito, foi o fator essencial para expansão do mercado de luxo, que projeta um crescimento de 30% nos próximos anos, segundo Antônio Pirella, diretor de Atendimento da GfK Brasil, empresa de pesquisa de mercado.
"O mercado está mais acessível, mas continua sendo o dos sonhos. Os setores que têm despontado são o de moda, com o crescimento dos shoppings [de luxo] e das ruas personalizadas, o de carros de luxo e o de cosméticos", diz.
"A condição de pagamento diferenciada praticada no Brasil em cartão de crédito aumenta a base de consumo", finaliza o diretor.
Mercado mundial
O bom momento do comércio de luxo também tem reflexos mundiais. Na França, por exemplo, marcas como Louis Vuitton, Cartier e Yves Saint-Laurent (YSL) anunciaram a retomada das vendas depois do período de instabilidade financeira europeia.
Números anunciados na última semana demonstram fortalecimento do setor, que registrou crescimento de até 40% no acumulado do ano. O grupo francês LVMH, número-um mundial da indústria do luxo, anunciou ter atingido um crescimento de 23,6% em suas vendas no terceiro trimestre de 2010, movimentando U$ 5,11 bilhões. "O bom momento da indústria do luxo no mundo todo logo terá reflexos no Brasil, que já é visto como um país emergente e de grande potencial de expansão", explicou o presidente da MCF Consultoria & Conhecimento, Carlos Ferreirinha, expert no assunto.
No acumulado do ano, o crescimento das vendas da holding, que administra marcas como Louis Vuitton, Givenchy, Christian Dior, Veuve Clicquot e Tag Heuer, chegou a 19%, somando U$ 14,2 bilhões.
Veículo: DCI