O grupo mineiro DMA Distribuidora, controlador da rede de supermercados Epa, está numa situação muito cômoda neste momento. O que não é nada bom para quem ainda tem algum interesse em se expandir por meio de aquisições na região Sudeste.
A venda da varejista Bretas, empresa muito próxima dos donos do Epa (as famílias dos dois grupos são antigas conhecidas) não só traz de volta os holofotes para a companhia dos Nogueira, os mineiros que criaram a cadeia Epa na década de 50, como deixa evidente um detalhe crucial, pouco visível até então.
A rede pode avaliar propostas de interessados, mas ela tem deixado claro, nos últimos dias, que não há muita pressa em se desfazer da operação. "Podemos ouvir propostas, como já aconteceu muitas vezes e achamos que isso pode até crescer. Mas a sensação é que temos a faca e o queijo nas mãos", brinca um acionista da WRV Empreendimentos, grupo investidor que se uniu à família Nogueira em 2000.
É uma resistência inicial à venda que não se explica pelo fato dessa ser uma família tão apegada ao negócio (algo muito comum no varejo brasileiro). A questão é que a venda da varejista Bretas (parceira da Epa na área de negócios hoteleiros) não deve colocar pressão maior nos negócios do grupo DMA. A companhia controla as bandeiras Epa, Via Brasil e Mart Plus, com R$ 1,8 bilhão de receita em 2009.
Com mais de 80 lojas, a empresa atua em regiões onde os donos da rede Bretas (ver abaixo) nunca colocaram os pés. Praticamente não há concorrência direta. Se a família Nogueira concentra suas lojas em cidades da região metropolitana de Belo Horizonte e do Espírito Santo, o Bretas tem focado a atuação em grandes e médios municípios do interior de Minas Gerais e cidades de Goiás. Os modelos de varejo são diferentes. O grupo DMA tratou de segmentar a operação em formatos diferentes para públicos diferentes.
O Bretas diversificou menos e tem foco maior nas chamadas lojas de vizinhança. Quando os chilenos do Cencosud ampliarem ganhos de eficiência e, eventualmente, partirem para uma guerra de preços declarada, isso não colocaria a DMA em uma posição tão delicada.
Caso o flerte entre o grupo DMA e as redes Pão de Açúcar ou Walmart volte a acontecer - ambas já deixaram claro no passado que se interessam pelo ativo - será por outras razões. "As redes nacionais poderão se mexer para tentar 'proteger' a região Sudeste da entrada de novos players", disse Carlos Alberto Figueiredo, sócio diretor da RetailConsulting. "Mas o mais provável é que as grandes redes acelerem uma aproximação porque sabem que a região de Minas Gerais e Espírito Santos ainda pode ser muito mais explorada".
No entanto, segundo ele, um fator pesa de forma contrária a esse movimento: o fato de alguns líderes do varejo estarem em reestruturação. O Carrefour teve o comando trocado no Brasil e passa por uma auditoria nas contas, solicitada pela matriz. O Walmart enfrenta uma reengenharia de sua operação, o que acaba afetando movimentações mais complexas, como uma aquisição de peso.
Veículo: Valor Econômico