Cencosud, mais rápida que Walmart

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Varejo: Preço e contato direto com os chilenos Paulmann definiram a venda da rede Bretas

 

A rede chilena de supermercados Cencosud, que administra no Brasil a nordestina G.Barbosa, venceu a disputa contra a americana Walmart pelo controle da rede irmãos Bretas, com 15 postos de gasolina e 71 lojas em Minas Gerais, Bahia e Goiás e faturamento de R$ 2,1 bilhões em 2009. Segundo o vendedor, o empresário Estevam Duarte de Assis, o preço oferecido, de R$ 1,350 bilhão, e a facilidade de contato direto com a família proprietária da rede chilena, os Paulmann, foram fatores determinantes. A transferência da gestão acontece ainda neste mês.

 

"Da primeira conversa até agora, foram 90 dias. Tudo foi resolvido e o pagamento será concluído em quatro anos, já que uma parte ficará retirada para a apuração de possíveis passivos ocultos. A proposta do Walmart era menor e eles se movem muito lentamente. Tudo teria que passar por uma série de instâncias lá nos Estados Unidos. Eu não teria oportunidade de lidar direto com os donos". A família Walton, proprietária da Walmart, chegou a ser considerada a mais rica do mundo, no início da década.

 

A repercussão do negócio fechado em Minas Gerais e em Santiago foi positiva. Os papéis da Cencosud registraram ontem o maior preço dos últimos seis anos (ver gráfico). Procurada, a maior varejista do Chile não se pronunciou.

 

"Foram condições de venda excepcionais", disse José Nogueira, dono da rede de supermercados DMA, que passa agora a ser a maior de Minas Gerais. Vice-presidente da Associação Mineira de Supermercados, Nogueira assumiu ontem o comando da entidade com a renúncia de Assis. "Possivelmente me tornarei o foco agora das propostas", respondeu, ao ser indagado se já havia sido sondado, recentemente, pelo Walmart. Este, procurado pelo Valor, não se pronunciou.

 

A DMA faturou no ano passado R$ 1,8 bilhão em suas 88 lojas. É o oitavo maior grupo supermercadista do Brasil, logo após o Bretas. Usa as marcas Epa, Mart Plus e Via Expressa. "Sondagens sempre existem, mas não há nada concreto", diz Nogueira.

 

Na visão de Assis, caso novas aquisições aconteçam no mercado mineiro, empresas de capital externo serão as compradoras. "Não há no Brasil ninguém com capital suficiente para comprar uma rede de porte", diz Assis. O grupo Pão de Açúcar, a maior varejista do país, tem o francês Casino como sócio e chegou a olhar a operação do Bretas neste ano. O Pão de Açúcar confirmou, há três meses, a compra da Casas Bahia, a líder do varejo de eletroeletrônicos e móveis no país.

 

Segundo Nogueira, o preço padrão para um negócio como o do Bretas é o de um desembolso equivalente a metade do faturamento anual. "No caso do Bretas, mesmo projetando para 2010, o pagamento foi de no mínimo 55%", disse. Além disso, a família vendedora permanecerá com a propriedade dos imóveis comerciais da rede. A Cencosud passa a ser arrendatária e irá pagar 1,5% do faturamento de cada loja para os ex-donos. Da rede de lojas do Bretas, 65% eram próprias, segundo Assis.

 

O contrato assinado com a Cencosud não impede a antiga família de proprietários de permanecer no ramo. Segundo Assis, há uma cláusula que veta por 10 anos a participação societária dos antigos donos em supermercados que atuem em Minas Gerais, Goiás, Bahia e Distrito Federal. Nada proíbe, contudo, investimentos em praças de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. Também há uma interdição da contratação de executivos por um prazo mínimo de três anos. A Cencosud, que ontem preferiu não se pronunciar sobre a operação, tornou-se proprietária da marca "Bretas" e irá mantê-la. A negociação foi feita com a assistência do escritório Araújo Fontes e do advogado Vinicius Khalid.

 

Chamado de Deus ajuda na sucessão

 

Um dos motivos de natureza pessoal que levou Estevam Duarte de Assis a vender a rede de supermercados Bretas é surpreendente: "Vou me dedicar agora inteiramente a Deus", afirmou ontem. Segundo Assis, a primeira transferência de controle de uma grande rede varejista em Minas Gerais nos últimos dez anos foi "um chamado do Senhor". A operação também ajudou a família, de 12 irmãos, a resolver o problema da sucessão.

 

Fora o lado religioso, dois aspectos preocupavam a família proprietária da rede Bretas: a questão sucessória, uma vez que "há herdeiros suficientes para habitar uma cidade", segundo Assis, e a concentração de risco. "Tudo estava concentrado em supermercados. Agora, o grupo que irá administrar o patrimônio da família fará aplicações em imóveis, sobretudo hotéis e shopping centers", diz Assis. A empresa já conta com investimentos desta natureza em Montes Claros e Patos de Minas, no interior mineiro, e em Rio Verde (GO). A nova holding familiar, que deverá se chamar Grupo São Francisco, terá em seu estatuto a doação de 10% do lucro para trabalhos sociais ligados à Igreja Católica.

 

Assis é católico praticante. Sem filhos, mora em um apartamento em um bairro relativamente modesto de Belo Horizonte e circula pela cidade em um Fiat Palio. Tudo o que recebia do faturamento de R$ 2,1 bilhões da rede Bretas, exceto uma retirada de R$ 5 mil mensais, era destinado à Igreja. Seus parentes não exerceram tal capacidade de renúncia a bens terrenos, ainda assim uma fatia de 10% do lucro da rede Bretas era destinada ao dízimo da Igreja.

 

Com o que receberá da venda de R$ 1,3 bilhão do Bretas, que será dividido entre 12 irmãos e sobrinhos, Assis irá investir em um centro de formação profissional votado para terapias de regressão ao útero. Sua meta é formar sacerdotes católicos especialistas nesta modalidade alternativa de psicologia. "Já trouxe 200 padres para o meu centro e só este ano vou formar mais 50 terapeutas. Ampliar este trabalho será a minha missão", afirmou.

 

O empresário não dá muito detalhes sobre o que vem a ser a terapia da abordagem direta do inconsciente (ADI). "Eu precisava falar sobre isso por duas horas para você entender. Não tem como dar uma explicação ligeira. O trabalho dura 24 sessões, de uma hora cada, e você sai da terapia mais consciente do próprio eu", disse.

 

Veículo: Valor Econômico


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