Ainda é necessário que sejam criadas políticas para a formação de um preço rentável.
Os preços do café arábica mantiveram o ritmo de valorização ao longo de setembro tanto no mercado brasileiro como na Bolsa de Nova York (ICE Futures). No acumulado do mês passado o café alcançou a terceira maior média mensal registrada desde 1996.
A média de preços para o produto em Minas Gerais foi de R$ 328,23, por saca de 60 quilos. O valor ficou 4,6% maior que a média obtida em agosto. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Já na Bolsa de Nova York, os contratos futuros com vencimento em dezembro fecharam setembro a 182,90 centavos de dólar por libra-peso, avanço de 0,5% em relação ao dia 1º de setembro.
Para o presidente da Comissão Nacional do Café (CNC) da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, devido à perspectiva de menor produção do grão na próxima safra, devido à bienalidade negativa dos cafezais, a tendência é que os preços do café continuem nos patamares atuais, o que já é suficiente para cobrir os custos de grande parte dos produtores.
"Os produtores de café que conseguiram reduzir a utilização da mão de obra nos cafezais já conseguem retirar uma parcela de lucro com as negociações. Porém a margem fica comprometida se considerarmos os investimentos em equipamentos e na depreciação das fazendas. Para que o produtor realmente tenha lucro com a produção é necessário que sejam criadas políticas para a formação de um preço rentável e sem variações negativas expressivas", disse Mesquita.
Oferta - De acordo com o levantamento do Cepea, a perspectiva de redução da oferta mundial de café é um dos fatores que tem contribuído para a manutenção dos preços em patamares elevados quando comparados aos praticados em 2009. A bienalidade negativa da cultura na safra 2011/2012 já está preocupando exportadores, uma vez que a produção brasileira deverá ser insuficiente para suprir as demandas interna e externa.
Com relação ao mercado, desde meados de agosto, as negociações têm ocorrido com prazo de entrega e pagamento estendidos. Segundo o Cepea, o motivo dessas negociações seria a descapitalização de compradores, que teriam gastado mais dinheiro do que o esperado para as aquisições de arábica devido aos altos preços da variedade.
Em princípio, o aumento do prazo de entrega tinha agradado os produtores, que podiam garantir os bons preços vigentes no momento do fechamento da venda por um período mais longo. Porém, atualmente, esse tipo de fechamento está desagradando boa parte dos vendedores, devido ao preço no final de setembro já superior ao negociado anteriormente. Outra desvantagem das negociações a prazo é que grande parte dos produtores está com necessidade imediata de caixa, tornando as vendas com prazo inviáveis.
Mesmo com a retomada dos preços da saca de café os investimentos nos tratos culturais nos cafezais mineiros ainda estão abaixo do recomendado. De acordo com Mesquita, a descapitalização do setor nos últimos anos comprometeu a aplicação dos cuidados adequados nas fazendas produtoras. Os principais impactos são a redução da qualidade e da potência produtiva dos cafeeiros.
Nova York - De acordo com Mesquita, uma das soluções para equilibrar os preços do café em patamares rentáveis e proporcionar condições dos produtores em planejar os investimentos futuros na cultura são as negociações de contratos de café do Brasil na Bolsa de Nova York.
A tentativa de inserir o café brasileiro naquela bolsa é antiga, mas vem ganhando força devido à melhora da qualidade do produto nacional e a quebra de safra nos principais concorrentes (Colômbia e países da América Central), o que possibilitou o aumento da comercialização do produto mineiro e nacional no exterior.
A redução da oferta dos demais cafés tem aumentado o interesse dos compradores pela possibilidade de entrega do café brasileiro na bolsa americana. De acordo com Mesquita, na última semana o Comitê de Café da ICE recomendou que cafés lavados e semilavados cultivados no Brasil fossem entregues na bolsa.
Atualmente os produtores brasileiros operam com os contratos futuros em Nova York, mas necessitam liquidar financeiramente as operações antes dos vencimentos, já que não dispõem, como outros produtores da América Central, por exemplo, da opção de entregar o café fisicamente como pagamento pela operação. "Nossa expectativa é conseguir ingressar na Bolsa de Nova York, porém a questão ainda será avaliada pela diretoria da bolsa", disse Mesquita.
Veículo: Diário do Comércio - MG