Hortas que não dão chance ao desperdício

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Tradição em horticultura eles já têm e dão um passo além, em busca de minilegumes, ideais para o consumidor atual

 

As minihortaliças do agricultor Jorge Morikawa, de Embu das Artes (SP), chamam a atenção não só pelo tamanho, mas pela aparência impecável: têm coloração e formato uniformes, folhas viçosas e sem defeitos e são comercializadas em embalagens individuais, um diferencial e tanto no mercado de hortifrútis, setor que chega a perder 50% da produção nas etapas de manuseio e transporte. Além do visual, as minihortaliças cultivadas por Morikawa são conhecidas pela crocância e pelo sabor e pela boa durabilidade, em comparação a folhosas tradicionais.

 

Em área de 3 hectares, Morikawa cultiva itens como minialfaces - há variedades romana, lisa, crespa e mimosa, em versão verde ou roxa -, minirrepolho, minirrúcula, miniagrião e acelga chinesa, todas obtidas por meio de sementes importadas. "Estou há dez anos no mercado de hortaliças diferenciadas", diz o produtor, que, junto com as duas irmãs, Maria Lúcia e Yolanda, criou a marca Saladas Finas.

 

Ele diz que a marca se tornou conhecida graças ao espírito inovador da família. Há três anos, por exemplo, os Morikawa adotaram uma caixa de papelão individual para as hortaliças. Depois, passaram a embalar a produção em cumbucas plásticas. "Fomos os pioneiros em vender a alface embalada."

 

Há cinco anos, em uma de suas buscas por novidades, Morikawa conheceu uma empresa de sementes holandesa e se tornou o representante da marca no Brasil. "Testo as variedades e seleciono as que se adaptam."

 

O trabalho de expansão da marca no Brasil começou no fim do ano passado e, hoje, há dez produtores cultivando as minihortaliças. "Como a empresa tem uma marca a zelar, ela busca produtores organizados, que prezem sobretudo a qualidade da produção, da semente à embalagem."

 

Estufas. Os canteiros de Morikawa são todos protegidos - em estufas, túneis baixos para áreas com maior declive, áreas teladas ou por estrutura de aço galvanizado - e todo o cultivo recebe irrigação por microaspersão de baixa vazão para não danificar as folhas. O controle da temperatura e umidade é constantemente monitorado.

 

A adubação é à base de matéria orgânica - a intenção do agricultor é reduzir cada vez mais a aplicação de adubo químico e só usá-lo complementarmente - e o controle de pragas e doenças a cada dia ganha um aliado natural. "Adotamos um controle químico preventivo, apenas no início do ciclo, contra insetos como tripes e pulgão", diz.

 

Depois, ele lança mão de métodos naturais com ação repelente e inseticida, como ácido pirolenhoso, produtos à base de nim, óleo de casca de citros e controle biológico. "Ideal é associar vários métodos."

 

Ele diz que não usa mais fungicidas e que investe no equilíbrio nutricional das plantas para criar resistência e diminuir a incidência de ataques. "É como a gente. Bem nutridas, ficam menos suscetíveis a doenças."

 

Há dez anos, conta, o solo estava infestado de nematoides. O produtor fez a correção do solo, aplicou matéria orgânica e recuperou a estrutura do solo. "Não usei nematicida."

 

Mais plantas por metro. Se por um lado o manejo é exigente, por outro pode-se aumentar a densidade de plantas na horta. O canteiro de mínis suporta 25 plantas por metro quadrado, ante 12 a 15 plantas por metro quadrado em uma horta convencional. O ciclo das minihortaliças é praticamente similar ao de uma hortaliça convencional; adianta cerca de uma semana. Cerca de 70% da produção - o volume é de 1,5 milhão de unidades por ano - é vendida diretamente para consumidores finais, no varejão da Ceagesp, às quartas-feiras, sábados e domingos.

 

Os outros 30% abastecem empórios, restaurantes e atacadistas da Ceagesp. No varejão, a cumbuca com dois pés de alface custa R$ 3,50. "E não há perdas, a dona de casa aproveita tudo", diz, acrescentando que uma das características da linha de produtos com a qual trabalha é que basta um corte na base para a hortaliça desfolhar inteira.

 

Morikawa diz que, assim como ele, seus clientes também têm perfil inovador. "Muito viajam para o exterior, conhecem um produto e me pedem quando voltam", diz ele, que pretende cultivar minitomate, miniespinafre e minipepino.

 

Para diversificar, minitomates

 

Investir em um produto diferenciado foi o caminho que o fruticultor Adilson Dim Nakahara, de Mogi das Cruzes (SP), encontrou para diversificar a renda do sítio e ainda agregar valor. Há dois anos e meio, Nakahara, que é produtor de caqui, nêspera e ameixa, começou a cultivar minitomates, conhecidos pelo sabor adocicado e de grande apelo entre os consumidores, sobretudo crianças. "É um tomate que pode ser consumido como fruta, e que dura bem, pelo menos 15 dias sem refrigeração", diz. A semente é importada. Nakahara embala a produção em cumbucas de 300 gramas, que custam, para o consumidor final R$ 3,40, e em bandejas de 470 gramas. "Adotei a bandeja porque o tomate fica mais visível."

 

No cinturão, o pioneiro

 

Há 25 anos, produtor Luís Yano, de Mogi das Cruzes (SP), pesquisa novidades

 

Uma semente importada do Japão, Holanda, Estados Unidos ou Europa pode custar até 80% a mais, então o produtor tem que agregar valor, diz o agricultor Luís Yano, de Mogi das Cruzes (SP). Considerado o pioneiro no cultivo de hortaliças exóticas, Yano pesquisa novidades há pelo menos 25 anos. Este ano, já investiu no plantio de 76 variedades de alfaces importadas do Estados Unidos. "Uma empresa me forneceu as sementes para eu testar no campo", explica o agricultor, que plantou alface romana roxa, alface com folha repicada, alface crocante e minialface americana.

 

Agora, Yano está colhendo uma acelga de talo (swiss chard), que muitos confundem com ruibarbo, segundo ele. "Não é ruibarbo. É uma acelga com talo, de talo colorido, cujas sementes foram importadas do Japão. Estou plantando de três cores, amarelo, vermelho e alaranjado", conta. Para essa acelga especial, que é consumida nos EUA, Argentina e Japão, Yano reservou três pequenos canteiros de sua horta de 2,5 hectares, onde ele colhe radicchio, chicória frisé, minirrepolho e miniacelga chinesa.

 

"No Japão, essa acelga é preparada do mesmo jeito que o espinafre. Coloca na água quente, torce para retirar o excesso de água e serve com shoyu. O segredo para ela não perder a cor é cozinhar com um pouco de açúcar", ensina.

 

A novidade tem um sabor próprio, que nada lembra o gosto da acelga tradicional, segundo Yano, que fornece para Ceasas, feirantes, supermercados, chefs, restaurantes e empórios da capital. Em dezembro também começa a temporada de cruzeiros, mercado que exige qualidade e boa durabilidade das hortaliças, exatamente o foco da produção de Yano.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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