Blu-ray cresce, mas DVD ainda é o preferido

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Fabricantes se surpreendem com persistência de antigo padrão

 

Com o lançamento do Blu-ray, formato de mídia em alta definição para a reprodução de imagens e áudio, imaginou-se que o fim do DVD estaria próximo. Se em alguns países esse roteiro já está sendo encenado, o mesmo ainda não acontece no Brasil.

 

Ao iniciar a produção de aparelhos com a tecnologia Blu-ray no país, no quarto trimestre de 2009, os fabricantes esperavam que ocorresse uma forte demanda. Com uma larga escala de produção os preços poderiam cair. Entretanto, as indústrias foram surpreendidas por um movimento inesperado do mercado em 2010: as vendas de tocadores de DVD cresceram.

 

Levantamento realizado em agosto pela consultoria GfK Retail and Technology Brasil revela que as vendas dos aparelhos de DVD cresceram 9% no acumulado de oito meses, em comparação com igual período de 2009. A produção também subiu de 2,82 milhões para 2,6 milhões de unidades, com alta de 8,4%, de acordo com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).

 

A GFK não informa qual era a projeção de queda para os DVDs no ano, mas a diretora de negócios da consultoria, Gisela Pougy, observa que o Brasil está na contramão do mercado mundial. Um estudo global da empresa indica que as vendas caíram 7% em mercados externos no ano passado, enquanto os aparelhos Blu-ray cresceram 145%.

 

"No Brasil, é possível que os consumidores que ascenderam à classe C tenham optado por comprar o DVD por ser uma tecnologia de preço mais baixo, mas não há confirmação dessa tese", diz Gisela. Para ela, grande parte dos consumidores ainda não conhece os benefícios do Blu-ray, o que poderia contribuir para inibir a compra de um aparelho mais caro.

 

O preço médio dos aparelhos de DVD caiu 13% no Brasil, de janeiro a agosto, para R$ 180, comparado a 2009. Mas é possível encontrar modelos básicos até por menos de R$ 100.

 

Mesmo com a queda no preço dos aparelhos de Blu-ray, as vendas ficaram abaixo das projeções do setor

 

Por outro lado, o preço médio do Blu-ray diminuiu 48% no período analisado, saindo de R$ 1.318 para R$ 682. Mesmo com o aumento de 300% nas vendas, o produto não avançou sobre o padrão rival porque a base instalada era pequena. "As indústrias esperavam uma explosão de vendas com essa queda de preços, o que não aconteceu", diz a diretora da consultoria.

 

A redução de preços foi provocada principalmente pelo início da produção local pela Samsung, LG Electronics, Sony, Panasonic e Philips. Este ano foram produzidas 154,7 mil unidades de aparelhos Blu-ray no país ante 101,12 mil durante todo o ano passado, segundo dados da Suframa.

 

No mercado de aparelhos de vídeo, o Blu-ray passou a ter uma participação de 3,3% neste ano, ante 1% em 2009. Os aparelhos de DVD detém atualmente 96,1%, comparado a 99% há um ano. Os modelos de DVD de alta definição, que antes não figuravam nas estatísticas da GfK, aparecem neste ano com fatia de 0,6%.

 

O vice-presidente da divisão de eletrônicos de consumo da Samsung, José Fuentes Molinero Júnior, confirma que houve surpresa com a expansão das vendas de DVD. A coreana, segundo o executivo, detém 50% do mercado local de Blu-ray. "As vendas [da Samsung] devem ficar em 150 mil peças este ano. Esperávamos que ultrapassassem 300 mil", afirma Molinero. Os resultados para a empresa, de janeiro a agosto, atingiram 50 mil unidades.

 

Na avaliação do executivo, a dificuldade de concorrência do Blu-ray com o DVD está no preço da mídia. Um disco de Blu-ray é vendido por R$ 90 a R$ 120 por unidade, enquanto um de DVD é encontrado até por R$ 10 no mercado formal. Molinero observa que o número excessivo de DVDs pirateados e vendidos muito baratos também estimula as vendas do aparelho de DVD em lugar do Blu-ray.

 

A LG Electronics também errou nas suas projeções. Segundo Raquel Martins, gerente de produto de áudio e vídeo, a expectativa da companhia era de que o setor registrasse queda em torno de 3% a 5% nas vendas do DVD no varejo. Para Blu-ray, a companhia previa uma expansão mais acelerada, em ritmo semelhante à transição do VHS para o DVD, embora Raquel não cite percentuais.

 

Apesar da redução no preço médio dos aparelhos de Blu-ray, Raquel entende que só agora esses valores estão chegando a um patamar mais próximo dos aparelhos de DVD, o que pode explicar o comportamento dos consumidores.

 

A executiva ressalta que o número ainda reduzido de filmes e títulos disponíveis em Blu-ray, bem como o preço dessas mídias contribuíram para tornar esse processo mais lento. Porém, ela acredita que as vendas desses aparelhos ganharão força neste fim de ano.

 

"A venda de TVs de alta definição atingiu índices expressivos ao longo do ano. A tendência é que essa busca por qualidade de imagem se estenda agora ao Blu-ray", diz Raquel. Segundo dados da Suframa, a produção de televisores com tela LCD no país foi de 5,07 milhões de unidades de janeiro a agosto, ante 1,93 milhão de aparelhos no mesmo intervalo de 2009.

 

Raquel não revela números, mas diz que a LG pretende triplicar a produção e as vendas dos aparelhos de Blu-ray no período para atender a essa expectativa de demanda.

 

Renata Batista, gerente de produto da linha Bravia Theater da Sony Brasil, também acredita na aceleração das vendas de aparelhos Blu-ray a partir deste trimestre. Nesse sentido, afirma que a empresa está investindo em parcerias com grandes estúdios e locadoras para ampliar esses índices e divulgar o produto aos consumidores.

 

A executiva não divulga dados referentes à produção e venda, mas opina que o segmento será beneficiado pela maior procura dos consumidores por produtos de alta definição: "O segmento de entretenimento em casa está crescendo em todo o mundo."

 

Renata cita ainda a chegada da tecnologia 3D ao Blu-ray, a integração dos aparelhos aos 'home theaters' e os recursos de interatividade e conexão com a internet como diferenciais que deverão contribuir para o início da expansão do Blu-ray no país.

 


Veículo: Valor Econômico


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