Papel: Nova máquina em Três Lagoas (MS) e entrada no mercado de embalagens seguem sem prazos definidos
Embora tenha planos "sólidos" para expandir a operação na América Latina, a International Paper (IP), uma das maiores produtoras de papel do mundo, analisa com cautela novos investimentos neste momento no Brasil, principal mercado da companhia na região. Câmbio favorável à importação, custos em ascensão, competitividade comprometida e incidência de impostos sobre aportes produtivos têm pesado de forma significativa nas decisões da matriz relativas ao país e levado ao adiamento de projetos, entre eles o de construção de uma segunda linha de papel na fábrica de Três Lagoas (MS).
Assim, a implantação da nova máquina, cujos investimentos poderiam somar cerca de US$ 300 milhões, e a entrada da companhia no mercado brasileiro de embalagens, além da manutenção das margens da operação diante de um cenário desafiador, seguem como principais temas do presidente da IP Brasil, Jean-Michel Ribieras, que assumiu o cargo há quase um ano. "Nossa estratégia é clara: queremos ser líderes na América Latina. Mas o avanço dos importados e custos dificultam novos investimentos", afirma o executivo, que substituiu Maximo Pacheco, oficialmente, em janeiro. "Nossas estratégias são verdadeiras táticas para controle de custo."
Enquanto não vem o aval do conselho para a duplicação da fábrica de Três Lagoas - hoje, a capacidade de produção é de 200 mil toneladas anuais, porém a máquina chega a rodar à velocidade de 210 mil toneladas -, a IP Brasil administra seu orçamento com vistas à manutenção das margens da operação. Entre 2007 e 2008, foram investidos no país US$ 187 milhões por ano, incluindo valores direcionados à operação sul-mato-grossense. No ano passado, os aportes recuaram a US$ 87 milhões, nível que deve ser repetido em 2010.
Vendas de papel a partir do Brasil devem atingir este ano 1 milhão de toneladas e receita pode superar US$ 1 bilhão
Neste ano, destaca-se a conquista do selo FSC ( Forest Stewardship Council ) para toda a operação brasileira. Em 2011, importante aporte deve ser executado na área de eficiência energética, com a provável implantação de uma caldeira de biomassa na unidade de Mogi Guaçu (SP). Ali, a IP Brasil poderá aproximar-se da autossuficiência em energia.
Conforme Ribieras, um dos principais desafios no mercado brasileiro é fazer frente ao papel importado que entra sob a condição imune (isento de impostos) e acaba desviado da finalidade prevista em lei, que é a de uso exclusivamente editorial. Neste ano, exemplifica o executivo, o consumo nacional de papel para impressão e conversão cresce à taxa de 11%, o equivalente a cerca de 120 mil toneladas adicionais, e todo o incremento será absorvido pelos importados. "Não dá para dizer que todo papel imune importado é desviado de finalidade, mas isso acontece e é muito difícil crescer com essa concorrência", afirma Ribieras, apesar de reconhecer que o endurecimento das regras de fiscalização por parte da Receita Federal já surte efeito.
Outro fator de preocupação da IP no país é o avanço dos custos, sejam operacionais sejam administrativos, com encarecimento significativo da mão de obra. "Houve uma guerra por talentos, que acabou elevando demais os custos em determinados níveis e levou à escassez de profissionais. Em certos casos, é mais atraente trazer um executivo de fora", conta Ribieras, que ainda é o único expatriado na operação brasileira. Somado ao câmbio, esse cenário tem se refletido na perda de competitividade do papel produzido no país frente ao de outras operações da companhia mundo afora, onde os custos estão denominados em dólar.
A IP, ressalta Ribieras, não tem planos de importar papel de outras fábricas para fazer frente à concorrência, porém reforçou esforços comerciais e de marketing para não perder participação de mercado. Uma das iniciativas foi sair do mercado à vista de papel, que predominou durante muito tempo na América Latina. Hoje, praticamente todos os contratos da IP Brasil são de longo prazo, o que confere maior estabilidade às vendas, que neste ano devem ficar em 1 milhão de toneladas. Desse volume, 45% corresponde ao mercado brasileiro, 25% é exportado para outros países latino-americanos, 25% para a Europa e 5%, Ásia.
Neste ano, a IP deverá vender ainda 150 mil toneladas de celulose, produzidas nas fábricas de Mogi Guaçu e Luiz Antônio, também no interior paulista, o que acaba por compensar o valor desembolsado na compra de 150 mil toneladas de celulose da Fibria em Três Lagoas. As condições de compra, lembra Ribieras, foram estabelecidas em contrato de 90 anos, à época da troca de ativos com a Votorantim Celulose e Papel (VCP), e serão replicadas para a matéria-prima que for utilizada na segunda máquina de papel a ser instalada em Mato Grosso do Sul, desde que a decisão da IP seja tomada entre janeiro de 2012 e janeiro de 2013.
Para a entrada no mercado nacional de embalagens - esse é um dos principais negócios da IP considerando-se a operação global - falta ainda um parceiro, ou fornecedor de papelão ondulado, ou ainda um vendedor. "Não temos o ativo ou o parceiro e não é tão simples erguer um projeto do zero", diz Ribieras. "Temos todo o interesse, mas não dá para falar em prazos." A empresa realizou um estudo detalhado sobre o mercado brasileiro de embalagens e, a partir do levantamento, vai desenhar a estratégia para estreia no país - na Ásia, outro mercado considerado estratégico pela matriz, conta com mais de 40 fábricas.
No segundo trimestre, a IP registrou no mundo lucro líquido de US$ 93 milhões, uma queda de 32% na comparação anual. A receita global da companhia, entretanto, subiu 5,5%, para US$ 6,12 bilhões. Nó país, em 2009, o faturamento se aproximou da marca de US$ 1 bilhão. "Trata-se da região que mais cresceu nos últimos 10 anos", ressalta Ribieras. "Mais que dobramos de tamanho entre 2007 e 2010."
Veículo: Valor Econômico