Crise tira R$ 1,5 bi das mãos de agricultores do Mato Grosso

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A menor disponibilidade de crédito no mercado por conta da crise financeira global vai retirar R$ 1,5 bilhão dos produtores de grãos do Mato Grosso, recursos que viriam do principal financiador privado do setor, as tradings companies, e comprometerá a produção da safra 2008/09 de soja, milho e algodão do estado. A estimativa é dos produtores.

 

O produtor mato-grossense precisa de R$ 4 bilhões - já somados os reflexos da alta de custos, dívida e a redução do poder de financiamento das tradings - para o plantio. Na safra anterior, esse desembolso foi de R$ 1,16 bilhão. Mesmo com o recuo estimado, as tradings devem fornecer recursos na ordem de R$ 6,2 bilhões.

 

No caso da soja, o cultivo está no início e as áreas de milho (segunda safra) e de algodão ainda não começaram a ser plantadas. Boa parte dos insumos foi adquirida, no entanto, é necessário capital de giro para, entre outros, pagar os funcionários. Na busca por dinheiro, as alternativas discutidas ontem entre o setor produtivo e representantes do Ministério da Fazenda, em Brasília, para ampliar os recursos, são a liberação de linhas de Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACC) para as tradings e a postergação das dívidas renegociadas em julho, da ordem de R$ 1 bilhão. "Não vai resolver, mas facilitaria. Mesmo com a injeção de recursos para capitalizar as tradings e a prorrogação da dívida, a produtividade vai cair pelo menor uso de tecnologia", afirma Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja).

 

Ontem, o diretor de agronegócio do Banco do Brasil (BB), José Carlos Vaz, esteve em São Paulo em evento direcionado às empresas de private equity, com o objetivo de atrair a atenção dos investidores privados para ampliarem aportes no agronegócio.

 

"Mesmo em atual momento de crise, que deve se estender para os próximos dois ou três anos, vão surgir ótimas oportunidades para os investidores. Entre os segmentos de 'fora da porteira' promissores estão as destilarias de álcool, frigoríficos, laticínios e reflorestadoras", citou Vaz.

 

Também presentes ao evento, o frigorífico Mercosul e a Calyx Agro foram exemplos de companhias que não estão se deixando levar pelo pânico da crise financeira. Ambas pretendem manter os planos já traçados. A Calyx quer investir US$ 57 milhões. "É claro que as análises serão feitas com mais cuidado, devido ao cenário", avalia Harald Brunckhorst, COO da Calyx Agro no Brasil. A empresa atua na compra terras, preparo, cultivo e comercialização de soja, algodão e cana.

 

O frigorífico Mercosul investiu R$ 100 milhões na aquisição e estruturação de novas plantas nos últimos dois anos, após o ingresso do AIG Investments na estrutura da companhia. A crise financeira chega em um intervalo do ciclo de aportes. "Concluímos a fase I um agora e a próxima etapa será agregar valor ao produto. O cenário não atrasará planos", disse Claudinei Perez, diretor financeiro do Mercosul.

 

Safra menor

 

Menos capitalizados e endividados, os maiores produtores de grãos do País, os do Mato Grosso, estimam que a área de soja em seu estado deverá ficar estagnada, a do o milho cairá em 20% e a área do algodão será 19% menor, na safra 2008/09. Segundo os produtores, o estado produzirá 3 milhões de toneladas a menos, referente às três culturas, na comparação com a safra 2007/08.

 

De acordo com previsão da Aprosoja, a produção de soja deverá somar 17,1 milhões de toneladas, redução de 600 mil toneladas, e o milho somará 5,3 milhões de toneladas ante as 7,7 milhões de toneladas produzidas na safra anterior. Os recursos totais necessários para o plantio da safra atual somam pouco mais de R$ 12 bilhões - aumento de 43% em relação à safra passada, principalmente por conta da alta dos fertilizantes. A maior parte ainda virá das tradings, segundo Silveira, da Aprosoja.

 

O adiantamento de R$ 5 bilhões do governo não ajuda esses produtores, pois o acesso ao crédito é restrito pelo alto grau de endividamento. Além disso, as linhas financiam no máximo R$ 500 mil e possibilitam o cultivo de apenas 300 hectares. Em média, as propriedades do estado têm mil hectares.

 

Veículo: DCI


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