A entrada em operação das eclusas da hidrelétrica do Tucuruí, no Estado de Tocantins, esperada para este ano, é a comprovação de que o governo brasileiro acredita no transporte hidroviário para compor a logística, especialmente considerando a descentralização da produção brasileira.
Essa é a opinião de Adalberto Tokarski, superintendente substituto da Associação Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), para quem a solução hidroviária está mais do que nunca em pauta, a exemplo do que está acontecendo em países europeus como alternativa ao uso de um modal de transporte mais sustentável. "Ao contrário do que se imagina, o aproveitamento dos rios para a hidrovia está longe de trazer riscos ao meio ambiente, sendo alinhado à visão do uso múltiplo das águas, que norteia as decisões da Agência Nacional das Águas (ANA)", diz.
Do potencial brasileiro hidroviário é de 60 mil km, dos quais apenas 13 mil são utilizados, Takarski afirma que, diferente de países europeus, no Brasil não há necessidade de mudar cursos de rios. O investimento se limita a tornar navegável os cursos existentes, com obras para dragagem e desassoreamento. "Podemos dobrar a extensão atual", diz. Ele afirma, no entanto, que a construção das eclusas tem que estar presente em todos os projetos de hidrelétricas, para que os trechos de maior dificuldade, que exigem transposição de desnível, sejam equacionados e deem fluidez à navegação de interiores.
No caso de Tucuruí, as duas eclusas, de 210 metros de comprimento e 33 metros de largura, estão vencendo um desnível de 72 metros de altura. Junto delas há um canal de água intermediário, alinhado em um eixo de navegação, que permite o cruzamento e a manobra de embarcações. Será possível o tráfego de comboios transportando até 20 mil toneladas de carga.
Outras obras estão sendo construídas, na região, para aproveitamento da navegabilidade que se abre com o funcionamento das eclusas de Tucuruí. Segundo Takarski, a Vale está construindo um píer que permitirá atracar navios de até 420 mil toneladas, e terminais modernos e de alta capacidade como o da Vale e o do porto de Vila o Conde, que opera satisfatoriamente, podem mudar a logística de exportação do agronegócios. "Pelos portos do Norte, a carga brasileira será mais competitiva para chegar aos portos europeus."
Apesar do entusiasmo da Antaq, há resistências em áreas do governo em encampar as hidrovias a ponto de exigir a construção das eclusas nos projetos de hidrelétricas. Não há consenso entre os interessados que as usinas de Jirau e de Santo Antonio, no Rio Madeira, já em construção, e a de Belo Monte, em projeto, sejam dotadas de eclusas.
A Antaq garante que vai insistir. Encomendou um estudo minucioso para mapear a movimentação de cargas pelos 74 terminais de carga existentes atualmente, incluindo 62 terminais de uso privativo, 10 portos organizados e 2 estações de transbordo de cargas. "Estamos levantando a movimentação de mais de 1600 pontos de origem e destino, para termos controle do quanto de carga existe trafegando pelos rios brasileiros", diz. Ao mesmo tempo, dúvidas e esclarecimentos têm vindo da troca de conhecimento e tecnologia com outros países usuários de hidrovia, como a Holanda e a Bélgica.(C.L.T.)
Veículo: Valor Econômico