Mercado de TVs de LCD salta 83% até setembro e linha branca cresce 1,7%, mesmo sem desconto no IPI
O diretor-geral da GfK Retail e Technology, José Guedes, se surpreendeu ao encontrar, há algumas semanas, uma TV LCD de 32 polegadas de uma grande fabricante em promoção no free shop do aeroporto de Montevidéu. "O produto custava US$ 480, um pouco abaixo do limite permitido de US$ 500 para consumo na área, e qualquer um poderia colocar a TV debaixo do braço e embarcar para o Brasil", diz o executivo, que comanda na manhã de hoje a 7ª Conferência Anual da consultoria, especializada no acompanhamento das vendas de eletrodomésticos e eletroeletrônicos em todo o país.
No Brasil, um produto semelhante sairia o dobro, cerca de R$ 1,6 mil, mas foi-se o tempo em que os brasileiros atravessavam a fronteira em busca de pechinchas eletrônicas. A combinação de inflação de um dígito, dólar em queda, oferta generosa de crédito e confiança do consumidor em alta faz com que o mercado de eletroeletrônicos registre um dos melhores momentos da sua história. O consumidor vem acelerando a troca por aparelhos mais sofisticados, que lhe proporcionem maior mobilidade, entretenimento e interatividade - do computador de mesa para o notebook, do celular comum para o smartphone, da TV de tubo para a de tela plana. Animada com a demanda, a indústria aumenta o índice de nacionalização da produção e o preço cai, criando um novo motivador para o consumo.
Segundo dados da GfK informados com exclusividade ao Valor, as sete principais categorias de eletroeletrônicos registram vendas em alta em 2010 (ver tabela). "É fantástico, porque dificilmente em outro país do mundo o faturamento cresce em tudo", diz Guedes. "Para ser melhor, só faltou o Brasil ganhar a Copa", brinca. No acumulado de janeiro a setembro, o mercado de TVs de LCD deu um salto de 85% em unidades e 68% em valor sobre o mesmo período de 2009, movimentando R$ 8,2 bilhões. A maior arrancada foi nos smartphones, que cresceram três dígitos, com vendas de R$ 2,6 bilhões nos primeiros nove meses.
Em linha branca, favorecida em 2009 pela redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), as vendas apresentam ligeira alta: 1,7% em unidades e 3% em valor. "O que já é um ganho enorme, porque as vendas desse segmento saltaram 30% no ano passado", afirma Oliver Römerscheidt, consultor da GfK, lembrando que, este ano, a linha branca sofreu a "concorrência" da Copa do Mundo, uma vez que o consumidor priorizou a compra da TV de tela plana.
O mercado de fogões apresentou a única queda entre as principais categorias medidas pela GfK. "É um produto com menor índice de inovação em relação aos refrigeradores e às lavadoras de roupa", diz Guedes. Ainda assim, conforme antecipou o Valor na semana passada, as coreanas Samsung e LG se preparam para instalar fábricas de linha branca no país e a líder Whirlpool começa a fabricar lava-louças na Zona Franca de Manaus, produto antes importado. O interesse não acontece por acaso: no acumulado de janeiro a setembro, as vendas de lava-louças cresceram 19% em volume e 38% em valor.
E mesmo com a oferta de celulares com recursos de imagem cada vez mais sofisticados, cresce a venda de câmeras digitais: 48% em unidades e 37% em receita. "O consumidor dá muito valor para os seus momentos de lazer e quer o aparelho que melhor registre isso", diz Guedes, que também destaca o ótimo desempenho dos consoles de video game no período: alta de 56% em volume e 36% em valor.
A busca por entretenimento portátil é a grande tendência, que tem puxado categorias até então inexistentes ou pouco expressivas, como os navegadores (GPS) que também funcionam como TV digital. Este é o mercado em que a filial brasileira da italiana Tele System vem apostando. A empresa, que atende o mercado corporativo com aparelhos para TV por assinatura e recepção de sinal via satélite, criou há três anos uma divisão de produtos eletrônicos para o consumidor final. A área já responde por 20% da receita da empresa, que deve ser de R$ 70 milhões este ano.
"Começamos com o GPS, mas hoje nosso carro-chefe no segmento é a TV portátil, produzida aqui", diz o diretor-geral da Tele System, Marco Szili, que aumentou em 35% a produção do item este ano. Para dar conta da demanda, a empresa começa a fabricar no Brasil em 2011 o conversor digital. "Ainda há uma grande base instalada de TVs de tubo e este consumidor vai querer aproveitar o sinal digital."
Veículo: Valor Econômico