Riachuelo parece não ter medo de nadar contra a corrente. Enquanto suas principais adversárias, Renner e Marisa, apostam em formatos compactos para acelerar a expansão, a varejista de vestuário que pertence ao grupo Guararapes anuncia a abertura de 66 lojas até o fim de 2013 (22 por ano), todas no formato tradicional, entre 3 mil e 4 mil metros2. Diferentemente das rivais, que olham cada vez mais espaços nas ruas, a fim de diminuir custos de operação, todas as 66 novas lojas da Riachuelo serão abertas em shopping centers.
"Já testamos duas lojas compactas no passado, de 1,7 mil metros 2, e temos um estudo sobre um formato segmentado de loja, com a bandeira Pool, para o público jovem", diz o presidente e diretor de relações com investidores da Riachuelo, Flávio Rocha. "Mas este será o nosso plano B. Ainda acreditamos que há muito espaço para ser preenchido pelas lojas tradicionais", diz Rocha que, diferentemente de outros empresários do setor, considera mais caro ir para as ruas. "É difícil encontrar um ponto que possa ser alugado. Em geral, é preciso comprá-lo para adaptá-lo ao nosso modelo".
Os planos de expansão da Riachuelo, que devem consumir mais de R$ 500 milhões nos três anos, foram anunciados ontem, na divulgação dos resultados do terceiro trimestre. No período, a empresa registrou receita líquida de R$ 629,5 milhões, com alta de 21,2% sobre o terceiro trimestre de 2009. As vendas em mesmas lojas aumentaram 8,4%. O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) aumentou 12,5%, para R$ 118,5 milhões. Já a margem lajida ficou em 18,8%, contra 20,3% do trimestre de 2009.
O recuo, segundo o controller da Riachuelo, Tulio Queiroz, ocorreu devido ao efeito não recorrente registrado no terceiro trimestre do ano passado, de R$ 9,4 milhões, referente à quitação do passivo relacionado à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). "Desconsiderando esse crédito, a margem lajida teria crescido 0,4 ponto percentual", diz Queiroz. Pelo mesmo motivo, o lucro líquido cresceu 23,1% no trimestre, para R$ 63,7 milhões, mas a alta seria de 54,5%.
As despesas com vendas cresceram 11,3%, para R$ 177,1 milhões, enquanto as despesas gerais e administrativas tiveram um aumento ainda maior, de 24,5%, atingindo R$ 95,5 milhões. A alta em ambos os indicadores deriva, segundo Queiroz, do ritmo de expansão da Riachuelo. "Foram abertas sete lojas nos primeiros nove meses do ano, o que aumenta as despesas com marketing, colaboradores e áreas de suporte, como tecnologia da informação", diz. O último trimestre do ano, no entanto, deve concentrar um número ainda maior de novos pontos de venda: dez. "Mas as despesas serão mais do que compensadas com o aumento das vendas de Natal".
O apetite da Riachuelo cresce a partir do ano que vem. "O plano de expansão, de 22 novas lojas por ano, é agressivo", diz a analista da Ativa Corretora, Juliana Campos, que considera a meta difícil, uma vez que parte da suposição de que "nada vai desacelerar". "Este ano já foi fantástico", lembra.
Flávio Rocha aposta que o público alvo da Riachuelo, as classes C e D, vai manter seu poder aquisitivo e desejar, cada vez mais, roupas sofisticadas a preços acessíveis. "Quem parte para esse segmento de público com uma visão distorcida do gosto deles, mais vulgar ou de baixa qualidade, erra completamente", diz o empresário, que está animado com a mais nova investida da Riachuelo nesse sentido.
A rede firmou parceria com o estilista Oskar Metsavaht, fundador da Osklen, cujas primeiras peças chegaram às lojas na terça-feira. "Gerentes de algumas lojas, como a do Bourbon Shopping (em São Paulo), me ligaram dizendo que não havia mais uma peça no início da tarde de terça", diz Rocha, que explica a receita do sucesso: "Pedi para o Oskar desenhar uma coleção como se estivesse criando para uma loja da Oscar Freire".
Veículo: Valor Econômico