Depois de cancelar a venda de supermercados na Malásia, o diretor-presidente do Carrefour SA, Lars Olofsson, disse que em vez disso a varejista vai investir neles, mantendo sua presença num mercado em expansão e aumentando sua ênfase em países emergentes.
O Carrefour, segundo maior varejista do mundo, atrás da empresa americana Wal-Mart Stores Inc., tem se concentrado em suas operações europeias, para crescer onde a empresa já é uma das líderes da concorrência. Como parte da estratégia, a empresa vendeu na semana passada sua subsidiária na Tailândia, onde várias concorrentes eram mais fortes, por 868 milhões de euros (US$ 1,17 bilhão).
Mas a concentração na Europa gerou preocupações, já que a estagnação dos gastos do consumidor e outros problemas econômicos na região contiveram o potencial de crescimento da maioria das empresas.
Olofsson disse ontem ao Wall Street Journal que a venda programada da subsidiária malaia não atraiu ofertas que justificassem a venda. Por isso, a empresa decidiu manter o negócio na Malásia e dois supermercados em Cingapura. O Carrefour não disse quanto esperava conseguir com os supermercados.
"Podemos criar muito mais valor tocando o barco nós mesmos", disse Olofsson. "Temos algumas perspectivas de crescimento muito promissoras na Malásia."
Os mercados emergentes constituem 30% das vendas do Carrefour, e Olofsson disse que espera que esse porcentual suba à medida que também suba o poder de compra dos consumidores da América Latina e Ásia. "Os mercados emergentes vão ser um importante motor de crescimento no médio e longo prazo para nossa empresa", disse Olofsson.
O executivo sueco, entretanto, não está dando as costas para a Europa. Olofsson revelou em setembro um redesenho de 1,5 bilhão de euros dos hipermercados do Carrefour, que vendem uma vasta gama de produtos, desde hambúrgueres até ferramentas. Ele espera que o investimento aumente as vendas rapidamente."Quem quer ser forte em outras regiões precisa ter uma base forte em casa", disse. "Quando você estiver sólido e sereno, aí dá para investir."
O Carrefour esteve entre os primeiros grandes varejistas a expandir sua presença na Ásia e outros mercados emergentes. Em meados dos anos 90, a empresa abriu seu primeiro supermercado em países como Malásia, Tailândia e Turquia. Mas nos últimos anos a empresa vem se retraindo de alguns desses mercados. O predecessor de Olofsson vendeu subsidiárias deficitárias no Japão e México, por exemplo.
Olofsson, que entrou para a varejista dois anos atrás, vindo da gigante suíça de produtos alimentícios Nestlé SA, concentrou-se em mercados nos quais o Carrefour pode ser um dos dois maiores concorrentes. Foi por isso que o Carrefour saiu da Rússia no ano passado, somente quatro meses depois de abrir sua primeira loja.
E embora o Carrefour tenha sido o primeiro grande varejista a ter presença na Tailândia, a empresa desperdiçou essa vantagem por não investir o suficiente, disse Olofsson. Outros concorrentes - como o grupo britânico Tesco PLC e o francês Groupe Casino SA - entraram na Tailândia, empurrando a posição do Carrefour para quinto lugar, com 42 supermercados. "Quem entra em muitos, muitos países não tem recursos ilimitados", disse. "Em vez de entrar a fundo em um país, estávamos com pequena presença em vários países."
O cenário é diferente na Malásia, onde o Carrefour tem 23 supermercados, porque o varejista conseguiu manter o terceiro lugar. Olofsson disse que a empresa pode chegar aos dois primeiros lugares. Graças aos recursos da venda na Tailândia, "temos uma maior musculatura financeira para crescer mais rápido, especialmente na Malásia", disse.
Olofsson disse que também vai considerar investimentos em outros países da Ásia. O Carrefour tem uma posição de liderança na Indonésia, onde seu maior concorrente, a PT Matahari Putra Prima, está à venda. "Não creio que essa seja uma oportunidade espetacular, mas estamos examinando", disse. O primeiro supermercado do Carrefour na Índia deve ser aberto até o fim do ano.
Olofsson disse que decidiu manter o pé em outros mercados onde o Carrefour não é um dos dois maiores, entre os quais a Polônia.
Enquanto isso, Olofsson está fazendo o ajuste fino da cara reforma dos hipermercados na Europa. Quatro das cinco lojas-piloto na França, Espanha e Bélgica estão tendo um bom desempenho, mas Olofsson disse que um hipermercado em Ecully, perto de Lyon, na França, ficou aquém das expectativas. Ele também adiou a reforma de cinco hipermercados na França para janeiro, para evitar interferências nas vendas de Natal. O grosso da reforma dos 500 hipermercados vai começar em abril, disse.
Veículo: Valor Econômico