Como o setor de venda de medicamentos e produtos de higiene e beleza cresce a passos largos, e especialistas estimam, inclusive, que pela primeira vez na história grandes redes do segmento devem ultrapassar faturamento de R$ 2 bilhões este ano, e como aumenta a concorrência com redes como o Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart, que começaram a atuar mais agressivamente ao ter farmácias dentro de e fora de suas lojas, estratégias como buscar capitalizar-se para fazer frente ao cenário de disputa é algo que tem crescido no varejo farmacêutico, agora com a Droga Raia, que tentará levantar cerca de R$ 768,5 milhões com uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações.
Segundo analistas do setor, a empresa deve investir o dinheiro em crescimento orgânico geográfico das lojas, na reformulação dos pontos de venda e na expansão do setor de higiene e limpeza dentro das farmácias. Em setembro, a Droga Raia encerrou o mês com 326 farmácias em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. A previsão da companhia é terminar 2010 com 350 unidades. Concluída a oferta, a empresa será a segunda varejista de medicamentos listada na Bovespa, juntando-se à Drogasil. Procurada pelo jornal, a Droga Faia diz encontrar-se em período de silêncio.
Para o sócio diretor da consultoria GS&MD Gouvêa de Souza, Adriano Pagnone, os recursos captados devem ser investidos em crescimento orgânico da empresa, que também deve focar no setor de higiene e limpeza dentro das farmácias. "Este mercado tornou-se muito atrativo, pois começa agora a se consolidar por meio de fusões e aquisições e um crescimento orgânico", como explicou Pagnone.
Quem concorda com ele é o coordenador do núcleo de varejo da ESPM Ricardo Pastore, que afirmou: o setor de farmácia caminha rumo à consolidação do segmento para fazer frente às drogarias de hipermercados, que já admitem a possibilidade de abrir mais pontos-de-venda de fármacos em ruas. "É necessário que um movimento aconteça para que o setor não fique tão pulverizado como está, fator que hoje é visto pelo mercado como um dos grandes problemas."
Pastore ainda diz que as empresas do ramo podem ser assediadas, ou assediar, no próximo ano, as redes Pague Menos e Drogaria São Paulo, líderes do setor, que apresentaram bons resultados. "Elas podem querer a consolidação para brigar com suas concorrentes nacionais e regionais pela nova classe emergente que a cada dia ganha mais poder de compra no mercado", enfatizou o especialista.
Quem não quer ficar para trás neste boom é a Drogaria São Paulo, que anunciou investimentos em pontos dentro de shopping e em lojas de rua no interior de São Paulo. A rede recentemente abriu duas novas filiais nos shoppings Higienópolis e Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. As lojas integram a série de lançamentos iniciada há 15 dias, com a abertura de outra filial em São Paulo.
O diretor de Marketing da rede de farmácia, André Elias, afirmou, recentemente, da importância de ampliar a presença no estado, principalmente dentro de centros comerciais. "Essa é a nossa segunda loja dentro do Shopping Higienópolis e na Avenida Paulo Faccini, em Guarulhos, pois vimos nesses locais a necessidade e a oportunidade de ampliarmos nossa presença. São regiões muito importantes para o nosso negócio, tanto que em Guarulhos já somamos oito unidades", disse.
Mercado
Dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) afirmam que o setor cresceu 20% nos últimos cinco anos. Segundo o presidente da entidade, Sérgio Mena Barreto, no próximo ano o segmento deve ter seu foco voltado a crescimento orgânico e manter a forma de fusões e aquisições em segundo plano. Ao contrário da opinião de analistas, ele acredita que o foco ainda serão os medicamentos, que hoje correspondem a 70% do faturamento das lojas.
"Hoje os medicamentos pagam as contas das farmácias e os não-medicamentos ajudam a manter a rentabilidade do local", explicou. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, a expansão do varejo de artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria foi de 11,8%, enquanto o comércio de forma geral cresceu 5,9%.
Mena Barreto, quando questionado sobre a entrada dos supermercadistas no setor, afirmou que os investimentos para ganhar espaço não são algo a temer, pois a participação das lojas de bandeira nos supermercados ainda é pequena.
As grandes redes, como Drogaria São Paulo e Droga Raia, têm-se destacado, com crescimento perto de 20%, "já que elas acabaram consumindo as redes menores", explicou a professora de Economia da Universidade São Judas, Maria Conceição Fagundes.
Veículo: DCI