Títulos negociados na Bolsa de Paris chegaram a perder 8% ontem pela manhã, fechando em baixa de 6,09%
A Bolsa de Valores de Paris sancionou com rigor ontem as ações do Grupo Carrefour no primeiro pregão após o "profit warning" que revelou um rombo de R$ 1,2 bilhão da filial no Brasil. Às 17h, quando do encerramento dos negócios na capital francesa, as ações do grupo haviam caído 6,09%. Além do impacto do prejuízo em sua sucursal brasileira, pesou na decisão dos investidores a perspectiva de que as perdas globais acumuladas em 2010 cheguem a ? 3 bilhões.
A reação alérgica dos investidores ficou clara já na abertura das transações. Pela manhã, as ações chegaram a ? 31,35, em queda de 8%, antes de fecharem cotadas a ? 32,74. No apanhado da última semana, o grupo já havia perdido 4,25%, e no mês de novembro, 10,59%. A queda ainda contrastou com um pregão mais otimista em Paris, onde o índice CAC 40 subiu 1,63%.
O rombo nas contas do grupo francês veio à tona ao fim do trabalho de auditorias interna e externa realizado pela consultoria KPMG. O choque nos mercados foi provocado porque a cifra real do prejuízo é três vezes maior do que o anunciado em outubro, quando a estimativa era de R$ 400 milhões. A auditoria indicou falhas "de ajustes de depreciação e inventário e provisões para litígios trabalhistas e fiscais", além de erros na contabilização de "bonificações do varejo", descontos oferecidos pela indústria a clientes corporativos.
Segundo o jornal Le Figaro, a administração brasileira do grupo teria despencado no conceito da sede do grupo, em Paris. "A filial comprava mercadorias demais, sempre negociando diretamente, sem passar pelas centrais de compras do grupo. Os dirigentes do Carrefour Brasil negociavam com seus fornecedores locais descontos condicionados a objetivos de vendas muito ambiciosos", explicou o jornal, citando uma fonte anônima na empresa. "Se o Carrefour não atingia estes objetivos em um ano, em lugar de reembolsar o desconto prometia-se outros (objetivos) para o ano seguinte, a fim de obter novos descontos."
Credibilidade. Outra preocupação em Paris foi quanto ao abalo na credibilidade do plano de desenvolvimento 2013-2015, apresentado em setembro. Na quarta-feira, Lars Olofsson, diretor-presidente do Carrefour, afirmou que o buraco nas contas não altera os planos trienais, que preveem investimentos da ordem de ? 1,5 bilhão para relançar o modelo de negócios dos hipermercados. Mas, para os investidores europeus, o prejuízo no Brasil é uma carga pesada para a credibilidade do plano, em especial por atingir um braço rentável da companhia, a América Latina, e um país no qual o volume de negócios foi de ? 9,5 bilhões em 2009.
Além disso, o prejuízo estimulou rumores no mercado. Um deles fala sobre a possibilidade de que o grupo concentre seus investimentos em bandeiras populares, como o grupo ED, na França, e Dia, na Espanha, em detrimento dos projetos para a marca Carrefour. Outro temor é de que as falhas possam relançar a ideia do fundo de investimentos Blue Capital, dono de 13,5% das ações do Carrefour, que em outubro de 2009 pressionou pela saída do grupo do País. Nem Carrefour, nem o Blue Capital comentam a crise na gestão da empresa ou os rumores no mercado.
Veículo: O Estado de S.Paulo