Bebidas: Venda cresce 19,3% até outubro, mas produção de polpa caiu
De janeiro a outubro deste ano, as vendas de sucos prontos para beber cresceram 19,3% em volume e 22% em faturamento, segundo a Nielsen. A alta já era esperada pela indústria, mas não com tamanha intensidade. Depois de terem sido pegas de surpresa pelo pico de vendas e pela falta de latas no fim de 2009, a maioria das indústrias de sucos prontos para beber investiu para aumentar a capacidade produtiva. Agora, há um outro gargalo: a produção de frutas. Por isso já começam a faltar alguns sabores de suco no varejo - laranja e uva, principalmente.
"Quando fazemos pedidos, a quantidade é atendida, mas o sortimento de sabores não. Os mais populares, laranja e uva, são os que costumam faltar mais", diz o diretor de uma grande rede de supermercados.
A maior parte dos produtores de fruta sofreram quebra na safra neste ano, por conta do clima. Na laranja, a safra 2009/2010 vai ficar em 292,7 milhões de caixas (40,8 quilos cada), segundo a Companhia Nacional de Abastecimento. A quantia está abaixo das estimativas mais pessimistas do mercado, que previa produção superior a 300 milhões de caixas.
Com a uva, a quebra é de 30% no interior de São Paulo. No Rio Grande do Sul, a safra da fruta até cresceu, em 3,9% neste ano em comparação com 2009, para 480,2 mil toneladas, conforme dados preliminares do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Mas as vendas de suco de uva avançaram 22% de janeiro a outubro em relação ao mesmo período do ano passado e somaram 24,9 milhões de litros. "O problema é que a uva disponível é de má qualidade", diz Isael Pinto, presidente do Grupo GB, dono das marcas de suco Camp e Top Orange. "Para fazer um quilo de polpa, era preciso cinco quilos de uva. Com a fruta de agora é necessário ter oito quilos para o mesmo um quilo de polpa", afirma.
Situação parecida vivem os produtores de caju. A quebra na safra do Ceará, maior produtor nacional, está estimada entre 30% e 50%, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Estado. No ano passado, foram colhidas 130 mil toneladas da fruta. Neste ano, os mais otimistas falam em 91 mil toneladas.
O pêssego também teve menor produção. A fruta para fabricação de suco é importada do Chile, onde a cultura sofreu com o terremoto ocorrido no início do ano. "Já estamos sofrendo com essa falta de fruta e do jeito que está, vai haver desabastecimento", diz Isael Pinto. "As maiores indústrias de suco fizeram contrato de fornecimento com as processadoras de suco concentrado, como a Citrosuco, a Cutrale, a Golden e a Tecnovin", explica o presidente do Grupo GB. "Elas terão prioridade no fornecimento porque compram em maior escala. Mas os menores fabricantes vão ficar sem fruta", diz ele.
Nos supermercados de São Paulo, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas), há sucos em quantidade. "O que não tem é a mesma variedade de sabores", diz Martinho Paiva Moreira, vice-presidente da entidade. "O consumidor de sucos é mais flexível e menos fiel a marcas que o de refrigerantes, por exemplo", diz ele. "Se falta um sabor, ele compra outro."
O reflexo dessa falta de sabores será uma alta de preços. Os fabricantes preveem um percentual entre 5% e 6%. Neste ano, até o fim de outubro, os sucos no varejo já acumulavam alta de 7,68%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Fipe).
Na Wow! Nutrition, dona das marcas Sufresh e Feel Good, além da demanda em alta e da menor oferta de fruta, houve problemas com a instalação de novas máquinas para aumento da capacidade de produção em 30%.
"Na hora de instalar, elas não funcionaram como deviam e nossa produção ficou abaixo do esperado entre agosto e setembro. São as dores do crescimento", diz William De Angelis Sallum, presidente da empresa e também da Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Néctares e Sucos (Abrasuco).
Com a produção afetada nesses meses, o varejo sentiu a falta dos produtos entre outubro e novembro. Procurada, a Coca-Cola Brasil, dona da marca Del Valle, não deu entrevista.
Veículo: Valor Econômico