Estoques praticamente zerados de lácteos e demanda forte mantêm firmes os preços do leite ao produtor no país em pleno início de safra. O valor médio pago em novembro ao produtor - pelo leite entregue em outubro - subiu 1,7% no mês, para R$ 0,718 por litro, em média, mostra levantamento da Scot Consultoria. O acompanhamento do Cepea/Esalq indica aumento ainda maior, de 2,4%, para R$ 0,7142 por litro, em média.
A matéria-prima em alta e o consumo elevado também sustentam a valorização de produtos finais como o leite longa vida e queijos. No primeiro caso, a alta no varejo foi de 7,9% de outubro para novembro, mostra acompanhamento da Scot. Já o queijo tipo mussarela, por exemplo, saiu de R$ 21,05 o quilo no varejo em julho para R$ 23,32 o quilo em novembro, segundo a consultoria.
"A expectativa é não ter estoque de passagem [de lácteos]", observa Laércio Barbosa, diretor do Laticínio Jussara, referindo-se ao período entre o fim deste ano e início de 2011. Ele afirma que apesar da safra de leite, não há sobra de matéria-prima no mercado.
Para entender o comportamento atípico do mercado nesta época do ano é preciso voltar ao começo de 2010, quando o leite subiu no período de safra. "As indústrias saíram em busca de matéria-prima no início do ano. No segundo e terceiro trimestres, houve aumento dos estoques e queda dos preços", explica Cláudio Teixeira, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV) e da Italac.
O que não se esperava era que as chuvas atrasassem, por causa do fenômeno climático La Niña, postergando também o aumento da oferta de leite a partir do último trimestre. Sem chuvas, a oferta de pastagens para alimentação dos animais foi prejudicada. "Os estoques [de lácteos] acabaram e a safra atrasou", conta Teixeira. Geralmente, em outros anos, há excedente de leite em outubro, mas hoje o mercado está equilibrado, acrescenta.
A menor captação de leite em outubro também explica a alta dos preços. O Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-Leite) caiu 1,7% em relação a setembro, conforme pesquisa feita em seis Estados produtores. Segundo o Cepea, a redução se deve principalmente à menor captação no Sul do país - nas outras regiões, houve crescimento. Em comparação com outubro de 2009, a queda na captação é de 4,6%. No acumulado até outubro, porém, o índice ainda registra alta, de 4,3%, em relação a igual período do ano passado.
Neste ano de mercado atípico para os lácteos, o segmento também viu uma recuperação da demanda por leite longa, cujo consumo havia caído quase 1% em 2009. De acordo com a ABLV, o consumo do produto deve aumentar 4%, para 5,5 bilhões de litros este ano. "O consumo foi forte e houve crescimento da demanda nas classes C, D e E", diz o presidente da ABLV. Ele afirma que o segmento ganhou novos consumidores em função do aumento da renda da população. Só no Nordeste, o consumo de longa vida cresceu 57% nos últimos três anos, estima a associação.
O bom desempenho do mercado interno, ao lado de um câmbio desfavorável, acabou desestimulando as exportações brasileiras de lácteos este ano. Com os preços estáveis no mercado internacional e o custo alto da matéria-prima, o produto brasileiro perdeu competitividade, diz Barbosa, da Jussara.
De janeiro a outubro, as exportações totalizaram US$ 113,312 milhões e as importações, US$ 230,709 milhões, segundo dados da Secex. O número está bem distante de 2008, quando país exportou US$ 509,1 milhões no ano graças a demanda elevada e dólar mais valorizado em relação ao real. "O câmbio prejudicou as exportações", reforça Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria.
Para Ribeiro, a tendência para os preços do leite ao produtor é de estabilidade neste mês, quando os pecuaristas receberão pela matéria-prima entregue em novembro. Além de a oferta já começar a aumentar, neste período do ano costuma haver redução do consumo por causa da chegada das férias.
Veículo: Valor Econômico