A dificuldade das indústrias de massas de repassar a alta da farinha de trigo ao valor do produto final deve fazer com que esse segmento feche o ano de 2010 com um faturamento de 2% a 3% menor do que no ano passado, disse ontem o presidente da associação do setor (Abima), Cláudio Zanão. Em 2009, o setor faturou R$ 6 bilhões no país, com aumento de 4% em relação a 2008.
O consumidor está reagindo à alta dos preços do macarrão, diz Zanão. Neste segundo semestre do ano já foram feitos dois reajustes, cada um de 5%, segundo dados da Abima.
Os associados, diz o executivo, já estudam fazer um terceiro reajuste, mas registram, neste momento, um movimento de retração do consumo nas gôndolas. "Desde junho, o preço da farinha de trigo subiu 26%, saindo de US$ 518 a tonelada para US$ 651", diz Zanão. Por conta disso, dois repasses foram feitos e as vendas encolheram. "Também potencializa esse consumo menor o fato de os preços do arroz, produto substituto ao macarrão, estarem mais competitivos", diz Zanão.
A razão da alta da farinha está no aumento dos preços internacionais do trigo que chegaram a subir 50% desde junho. Para se protegerem das fortes oscilações que vêm ocorrendo em um espaço curto de tempo, as indústrias do setor estão elevando estoques de farinha, diz o presidente da Abima. Normalmente, os estoques que são os menores possíveis, não chegam a 15 dias de consumo da fábrica. Mas, estão agora sendo elevados para de 20 a 30 dias. "Trata-se de uma quebra de paradigma no setor, pois a política é sempre de manter os estoques da 'mão para boca', tanto de farinha como de produto final", diz Zanão.
O Brasil consome cerca de 10 milhões de toneladas de trigo, que, após processados, se transformam em 7,5 milhões de toneladas de farinha de trigo. Metade desse volume segue para as padarias e 17% para produção de massas e pães industriais
Veículo: Valor Econômico