Mesmo em um cenário de preços em alta histórica no mercado externo, e após embolsar R$ 1,32 bilhão em subsídios nos últimos três anos, os produtores de algodão reivindicam a criação de um novo mecanismo permanente de subvenção à fibra no país.
Sob o argumento de "garantir renda para cobrir custos", a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) informa que negocia uma espécie de "Pepro Cambial" com o governo. O mecanismo, chamado de programa de equalização de preços em vendas futuras, serviria para cobrir eventuais descasamentos entre o preço mínimo no Brasil e as cotações internacionais da pluma.
"O governo pode bancar um 'hedge' [proteção] ao setor. Queremos a garantia do preço mínimo. É lei", disse ontem o novo presidente da Abrapa, Sérgio De Marco. "O governo salvou o algodão nesses últimos anos. Mas se não houver essa garantia, não conseguimos exportar".
Os produtores afirmam que "mais de 60%" da nova safra, que começou a ser plantada nesta semana e será vendida em julho de 2011, foi comercializada abaixo do preço mínimo de R$ 44,60 - a média teria sido de R$ 38, segundo De Marco.
As causas são o dólar barato e a comercialização antecipada, que obriga os produtores a vender para cobrir os custos cada vez mais elevados. "Esse mecanismo de 'hedge' cobriria esse risco cambial. Se o preço ficar acima do mínimo ou de uma referência, o governo poderia ficar com a metade dessa diferença", explicou. "Não precisamos ganhar demais, mas temos que ter renda para cobrir custos".
O Ministério da Agricultura é favorável ao pedido, mas a equipe técnica da Fazenda resiste a conceder mais subsídios a grandes produtores. Além disso, os sinais políticos indicam que o governo Dilma Rousseff fará um esforço fiscal maior, o que travaria a expansão dos gastos públicos federais.
Pelas contas da Abrapa, foram vendidas 700 mil toneladas de algodão a US$ 0,75 por libra-peso. Outras 300 mil toneladas saíram a US$ 1. Haveria, ainda, mais 800 mil toneladas a comercializar, mas a média dos preços recebidos, sobretudo pelos grandes produtores, ficará "bem abaixo" do pico histórico de US$ 1,50.
O Brasil deve elevar suas exportações em 2010, chegando a 520 mil toneladas da pluma e a US$ 684,5 milhões. A China passará a ser a segunda maior compradora.
De Marco disse, ainda, que a Abrapa negocia com a associação da indústria têxtil (Abit) e os ministérios da Agricultura e da Fazenda uma modalidade de crédito para financiar a antecipação das compras de algodão pelas indústrias. Seria uma espécie de "EGF antecipado" para evitar eventuais urgências na importação de algodão em tempos de oferta insuficiente. Até maio de 2011, a indústria obteve autorização do governo para importar 250 mil toneladas de algodão sem impostos.
Eleito novo presidente da Abrapa para os próximos dois anos, o catarinense Sérgio De Marco, produtor radicado há 27 anos em Rondonópolis (MT), afirmou ontem que concentrará esforços para ampliar experiências de redução de custos nas lavouras. A principal delas é o algodão adensado, cujo potencial de redução do ciclo da cultura ajuda a diminuir as aplicações de agrotóxicos.
A Abrapa também terá o marketing do produto pelo mundo como um de seus aliados. "Fazendo isso, em uma década apenas, passamos a ser o quarto maior exportador mundial", disse o ex-presidente Haroldo Cunha, que passa a comandar o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), criado para administrar a indenização devida pelos EUA por subsídios ilegais aos produtores locais.
Veículo: Valor Econômico