Por quase três anos, a rede Elektra , do empresário Ricardo Salinas, parecia estar adormecida no mercado brasileiro. Maior varejista de móveis e eletrodomésticos no México, a empresa desembarcou no país no início de 2008 e hoje tem meros 28 pontos de venda. Mas Salinas quer provar que tem fôlego para enfrentar os megacompetidores locais: vai injetar R$ 150 milhões em 2011 para abrir 80 lojas no Nordeste, onde está a rede Elektra, segundo apurou o Valor. Animado com o momento vivido pelo Brasil, o empresário estuda inclusive instalar uma fábrica de motos na região metropolitana do Recife para oferecer a Italika, marca de motocicletas do grupo, que seria lançada no mercado nacional pela metade do preço da Honda.
Dentro desse contexto, a possível aquisição de pontos de venda da rede Baú Crediário, do Grupo Silvio Santos, seria apenas uma das iniciativas de Salinas para mostrar de vez o potencial do grupo, que também é dono do Banco Azteca.
A Elektra ainda não sabe com quantos pontos deve ficar do Baú, com quem está negociando há 15 dias, mas já deixou claro que não deseja ter a marca, muito vinculada à figura do empresário Silvio Santos. Com cerca de 140 lojas em São Paulo e no Paraná, o Baú seria um canal rápido para a Elektra atingir mercados mais ricos. Mas nenhum lugar do país cresce tanto quanto o Nordeste na venda de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, daí a preferência pelo crescimento orgânico na região.
É uma nova etapa na história da Elektra no país, onde já foi acusada de constranger consumidores inadimplentes, inclusive com invasão de domicílio e ameaça de retomada de bens.
Nos últimos doze meses, a Elektra viu os maiores varejistas brasileiros ganharem ainda mais peso via aquisições, enquanto a expansão da rede ficou restrita. O Pão de Açúcar se associou à Casas Bahia, atingindo a liderança absoluta em móvel e eletrodomésticos. As redes regionais Ricardo Eletro, Insinuante e City Lar se uniram para formar a Máquina de Vendas, o segundo maior competidor nacional. O Magazine Luiza consolidou a terceira posição e desembarcou no Nordeste com a compra da Lojas Maia.
Segundo fonte ligada à Elektra, a crise mundial que estourou poucos meses depois da sua chegada ao país fez a varejista rever seus planos de expansão. A meta em 2009, por exemplo, era atingir 50 lojas. "Mas a empresa perdeu seis meses negociando a compra da Lojas Maia, que não aconteceu porque eles não aceitaram descontar o valor das suas dívidas fiscais, de R$ 30 milhões, do preço que seria pago pela rede, R$ 200 milhões", diz a fonte.
Antes da Maia, a única tentativa de aquisição se deu com a Lojas Colombo, líder no Rio Grande do Sul. A Elektra a cortejou antes de desembarcar no país. "Houve forte empatia entre Salinas e Adelino [Colombo, fundador da rede], mas não se chegou a uma definição em torno do preço", afirma a fonte.
Com as últimas movimentações do mercado, Salinas se convenceu de que só vai sobreviver no mercado brasileiro se ganhar escala. Daí a sua pressa em encerrar 2011 com 110 lojas, fora as possíveis aquisições, como os pontos do Baú, uma negociação que vem sendo intermediada por Antonio Defim Netto, ex-ministro da Fazenda.
No mundo, o grupo mexicano fatura US$ 54 bilhões e tem 61 mil empregados. No mercado brasileiro, quase todas as suas lojas são próprias, diferentemente da maioria dos varejistas, que alugam os pontos de venda.
Veículo: Valor Econômico