Setor de embalagem vê crescimento de 10%

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Ao superar um crescimento inexpressivo no ano de 2009, o setor de embalagens espera ter este ano, no País, um avanço que beira os 10%. Em situação semelhante a de vários ramos industriais brasileiros, o setor de embalagem convive com as importações de matérias-primas, bem como as de produtos embalados, que têm prejudicado o seu desempenho. E o câmbio, mais uma vez, é apontado como responsável por afetar o mercado interno .

 

O presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre) e também diretor da fabricante e distribuidora de embalagens Antilhas, Maurício Groke, é o entrevistado desta semana do "Panorama do Brasil". O executivo vê a questão da inovação como um braço fundamental da competitividade e do posicionamento de mercado. Nos últimos dois anos, a empresa da qual Groke é diretor empreendeu cerca de R$ 20 milhões em investimentos em equipamentos, inovação e reposicionamento de marca.

 

A entrevista desta edição do programa "Panorama do Brasil" foi conduzida por Roberto Müller, jornalista da TVB (afiliada do SBT), por Milton Paes, repórter da rádio Nova Brasil FM, e por Márcia Raposo, diretora de Redação do jornal DCI.

 

Roberto Müller: O setor de embalagens é tido como um termômetro da economia. Isto é verdade?

Maurício Groke: Realmente, é um termômetro. Todo produto, praticamente, sai embalado. Então as embalagens contemplam quase todos os setores da indústria. E como vai hoje? Nós tivemos, de 2008 para 2009, momentos um pouco mais difíceis, apesar de o Brasil ir bem, mas não com crescimentos expressivos em toda a cadeia de embalagens. Em 2010, este ano, a gente está tendo um crescimento bastante significativo.

Em qualquer setor, quando a gente fala em Abre, a gente divide a associação com os materiais, com os diversos materiais de embalagem, sejam eles vidro, alumínio, lata, papel cartão, plástico, papelão ondulado... Então é lógico que existe alguma variação entre um material e outro, mas, de um modo geral, o crescimento apontado para este ano deve chegar em torno de 9% a 10% no setor em geral, com alguns segmentos puxando um pouco mais forte.

 

Roberto Müller: E como foi o ano passado?

Maurício Groke: No ano passado a gente teve um crescimento muito baixo. A gente veio também de uma comparação de um ano ainda bom para depois um ano ruim, e daí foi um crescimento inexpressivo, também puxado para baixo por alguns setores.

 

Roberto Müller: Mas cresceu?

Maurício Groke: Praticamente nada. E este ano, apesar do fenômeno importação de embalagem e importação de produtos embalados, a gente ainda está tendo um crescimento significativo, que é este, na casa dos 10%, que foi revisto inclusive no meio do ano. Antes do meio do ano a expectativa estava talvez em 4% a 6%, e foi revisto agora, pelo que aponta esta curva.

 

Milton Paes: A embalagem é o cartão de visita de um produto, e muitas vezes tornar o produto atraente para o consumidor demanda investimento e pesquisa. Como estão os investimentos em tecnologia e pesquisa?

Maurício Groke: O setor de embalagem investe bastante. Existem empresas em patamares iguais às do mundo todo. Com a globalização, equipamentos, feitos no Brasil ou não, são acessíveis, existem linhas de crédito para estes financiamentos e se investe muito em tecnologia. Como a economia, neste caso, é uma economia aberta e a gente tem aqui, em nossos clientes -os usuários de embalagens-, empresas multinacionais que conhecem o que é feito lá fora e também são usuárias aqui, nós temos que acompanhar isso. É lógico que em momentos como o que tivemos, de crise, antes mesmo de atingir -ou quase não tendo atingido- o Brasil existiu um certo freio dos próprios empresários na incerteza. Alguns não, alguns até investiram porque viram oportunidade nisso.

Mas alguns setores dentro da área de embalagens frearam um pouco porque talvez tivesse alguma dependência de exportação. Então isso fez com que desse uma parada.

Isso se acelerou rapidamente. O que existe hoje é até um tempo para se adquirir equipamento e para adquirir estas tecnologias; um tempo bastante grande. Porque muitos fabricantes de equipamentos importados também frearam pela própria crise. Mas a indústria nacional de embalagens se compara às indústrias de embalagens do mundo todo.

É lógico que temos algumas carências, mas os líderes deste mercado, esses players maiores, estão num patamar de qualidade, tecnologia e inovação como o de qualquer um no mundo.

 

Milton Paes: No caso das multinacionais clientes, elas seguem uma padronização internacional corporativa?

Maurício Groke: Isso cada vez mais, porque existe um fenômeno cada vez mais comum: o das compras regionais, falando globalmente. Então este usuário de embalagem... hoje as grandes multinacionais procuram a melhor condição de compra no mundo todo. Isso é fácil de se fazer hoje, é muito ágil. Então exige-se um padrão mundial de embalagem. É lógico que existem diferenças regionais, assim como o próprio produto de alguns clientes tem diferenças regionais, por características próprias da população, de consumo. Mas a embalagem segue um padrão mundial.

Então é muito comum -e nos últimos anos vem-se acelerando- que você tenha que seguir estes padrões e que você participe também das concorrências mundiais, ou seja, que você possa ser também um fornecedor para esta multinacional fora do Brasil.

 

Márcia Raposo: Você tem dito muito que nós temos esta capacidade de competição, mas temos agora um momento de dólar muito baixo e de uma guerra cambial no mundo. Como fica isso em 2011? Com a concorrência global, existem fabricantes de embalagem na China, por exemplo. E, neste meio está o Brasil, com produtos que podem chegar aqui, embalados, mais baratos ainda.

Maurício Groke: O panorama é este mesmo. Por um lado, pode ser um pouco assustador, muito também por causa do que está acontecendo com o câmbio. Vimos recentemente noticiado que este câmbio, no nível que está, no Brasil, deve ficar. Historicamente, em abril de 2008, estava perto de R$ 1,50, então é natural este movimento pós-crise. E neste ínterim o Brasil se tornou claramente a bola da vez. Nós somos procurados todo o tempo para [fazer] parcerias, ou por empresas estrangeiras que estão vindo para cá.

O que se espera para 2011? Temos uma mudança política que particularmente eu acho que trará mudanças. O momento político é diferente, e o momento econômico é diferente. Também fica claro o que a própria Abre vem falando, que é a desindustrialização. A Abimaq [Associação Brasileiras de Máquinas e Equipamentos] também, e outras associações têm dito a esse respeito.

Este aquecimento interno está escondendo um pouco o fato de que poderia estar crescendo muito mais se não houvesse importações. A desindustrialização está vindo muito forte, está muito complicado trazer para o Brasil uma competitividade maior. Importamos muito mais e o câmbio não deve mudar. Nós vamos precisar criar novos mecanismos para a indústria de embalagens ter uma atividade um pouco maior.

Uma delas é a nossa pauta de exportação. Os dez principais itens da exportação brasileira são essencialmente commodities ou de origem puramente extrativista. O Brasil é o maior exportador de carne in natura do mundo e agora está tendo a exportação de boi vivo. O que a gente quer fazer é que, ao invés de exportar café em grão para a Itália e Alemanha para depois comprar café solúvel -ou, ao invés de exportar soja para a China para depois compramos óleo de soja-, que a gente industrialize aqui.

A carne tem parte que é industrializada, mas ainda é muito pequena. Então, dentro desta pauta de exportações, de dez, oito eram questões de insumos básicos. E a gente quer reverter isso. Produzir aqui e agregar valor.

 

Roberto Müller: Seja como presidente da Abre ou como diretor da Antilhas, que impacto está sofrendo o setor em razão das crescentes exigências do mercado consumidor com as questões de sustentabilidade?

Maurício Groke: Só para pontuar, sustentabilidade é um tema que começou a ser discutido há pouco tempo e é o tema do momento. E quem não estiver comprometido com manter um ciclo sustentável em seus produtos ou em sua atuação como empresa vai estar fora do contexto de mercado no mundo todo. Como diretor da Antilhas, e até como presidente da Abre, a gente participou da assinatura do marco regulatório da política nacional de resíduos sólidos. Isso foi em agosto. A Abre está acompanhando de perto isso para que nenhum setor ou material seja beneficiado ou prejudicado, porque a embalagem tem sido um alvo desta preocupação ambiental. Porém também não se olha para o outro lado, que é o lado de conservar o alimento, promover o alimento. O problema da embalagem é o descarte correto. E o descarte correto não depende do fabricante, mas do consumidor final, que está descartando.

O fabricante hoje já é muito regulamentado. Os resíduos são controlados, tudo isso. No caso específico do consumidor final, ele precisa ser cada vez mais educado para as coletas seletivas e o poder público também.

A Antilhas faz embalagem. Ela tem uma linha de embalagens muito extensa. Ela atende o varejo, a indústria e recentemente nós reafirmamos este nosso posicionamento, com um reposicionamento de marca, mas resgatando o que a gente já faz há 21 anos: que é entender o negócio do cliente. Entender qual é o foco deste meu cliente no mercado em que ele atua. Então hoje a gente está muito focado no que é a intimidade com o cliente. É a nossa disciplina de valor, que a gente chama, e reafirmamos e lançamos isso agora para reafirmar com um novo logotipo e tudo mais. E o que é ter esta intimidade com o cliente? É conhecer aquilo que o cliente precisa e o que a embalagem significa para ele.

 

Roberto Müller: Este movimento é recente?

Maurício Groke: Neste mês fizemos o reposicionamento. Estes 21 anos são um número significativo. E é engraçado, porque quando se reposiciona uma marca, às vezes você tem que esconder algumas coisas ou reinventar alguma coisa. e para nós, com todo este trabalho que foi feito de pesquisa e de aprofundamento, o que aconteceu foi resgatar e aprofundar alguns conceitos desde a nossa fundação, há 21 anos atrás.

Para nós foi muito bom, e mostrou que a gente estava muito bem alinhado com aquilo que vinha acontecendo. O que precisava era dar uma cara nova e reforçar alguns pontos que começam a figurar como culturais dentro da empresa.

Neste sentido, a Antilhas sempre se diferenciou neste tempo todo. Ela nunca só vendeu embalagem. Ela sempre agregou serviço à embalagem. Ela não fornece para o varejo a embalagem; ou para o fabricante do produto. Não, ela entrega em cada ponto de venda. Ela entrega a quantidade que o lojista precisa naquele ponto-de-venda.

Pegando o exemplo nacional, têm redes de 2 mil pontos ou de 100 ou 200 pontos, então nós fazemos todo o desenvolvimento interno - temos uma área de inovação e desenvolvimento que agrega valor àquele produto, conhecendo novas matérias-primas, novas tecnologias. E este produto é adequado para aquele varejo, naquele segmento de mercado. E a gente faz este trabalho como operador logístico; estoca, distribui e atende a cada um deles no ponto de venda. E sempre com tendências mundiais, trazendo as tecnologias, porque embalagem às vezes é moda...

 

Márcia Raposo: Esta questão de atender no ponto-de-venda é um desafio muito grande, porque nós temos visto um deslocamento muito grande de grandes redes de varejo para o nordeste e para o centro-oeste, com esta nova fase de redistribuição de renda. Para fazer isso, você tem de buscar suportes fora da sua área de produção. Nesta pulverização da economia brasileira, como fica a sua logística? Como fica a sua capacidade de entregar o que precisa, na hora em que precisa?

Maurício Groke: A gente já atende, neste crescimento dos últimos anos, pouco mais de 12 mil pontos no Brasil. O ponto que eu digo é: uma loja numa rua de comércio ou uma loja num shopping center. Então a pulverização da nossa distribuição já é bastante grande. Hoje ela é centralizada em São Paulo, porque os maiores volumes ainda estão na Região Sul e na Sudeste.

 

Milton Paes: Você tem um percentual de quanto isso representa?

Maurício Groke: Hoje, se eu for falar em volume de embalagem atendido no varejo, chega à metade, ou um pouco mais da metade, somando todas as redes, é sul e sudeste. E o restante é nas outras regiões.

Algumas regiões têm crescido muito. No nordeste mesmo. tem algumas redes que estão investindo muito nesta região, ou no centro-oeste também. Agora, o nosso modelo de distribuição é muito dinâmico.

Então, hoje, eu tenho toda a parte industrial, ou seja, para a fabricação dos produtos a gente tem uma série de softwares para controlar a demanda, por que eu recebo de cada ponto-de-venda essa inserção do volume que ele pediu e do volume que ele vai precisar.

Então neste encadeamento eu tenho a indústria fabricando, o estoque regulador e distribuição para o Brasil todo. É lógico que nós queremos hoje e cada vez mais é frequência de carga para atender. Porque você imagina uma loja em Tefé, no interior do Amazonas: eu tenho percursos que são de caminhão, balsa e barco. E o lojista nos avisa o dia em que o barqueiro vai passar, porque o barco não passa todo dia para abastecer a loja dele.

Então, do mesmo jeito, nós distribuímos para o nosso vizinho no Shopping Tamboré [em Barueri, interior de São Paulo].

Mas é lógico que estamos pensando em ter outros centros de distribuição regionais para que a gente possa melhorar. Mas hoje é atendido assim, e tem funcionado.

 

Roberto Müller: Você investe muito em inovação?

Maurício Groke: Sem dúvida. A gente vive trazendo inovação. Nestes últimos dois anos -apesar da crise nós investimos muito em equipamentos- nós tivemos mais de R$ 20 milhões investidos. Tivemos agora, a partir de 2009, a criação de uma empresa do grupo, a TecnoSolutions, que desenvolve tecnologias que estão disponíveis, às vezes adormecidas, nas universidades. Detectamos alguma expertise, alguma coisa que a universidade está fazendo, os técnicos da TecnoSolutions transformam isso num negócio. Um deles, que nós pusemos no mercado recentemente, é uma nova tinta de impressão chamada EasyWratch, que tem a parte de "secagem", ou cura, por feixes de elétrons.

 

Veículo: DCI


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