O setor citrícola brasileiro prevê uma produção maior em 2011 e a manutenção de preços mais elevados. Já para a safra deste ano as opiniões são divergentes, mas todas apontam queda. Segundo levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção esperada é de 292 milhões de caixas de 40,8 quilos, contra os 330 milhões de 2009.
Para a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), a previsão não ultrapassa os 286 milhões de caixas de laranja. Para Christian Lohbauer, presidente da entidade, apesar da redução, este ano foi muito melhor para o produtor se comparado a 2009, quando a caixa era vendida a R$ 4 no mercado spot. "Este ano pagou-se em média R$ 15 por caixa, que é um preço inédito. O citricultor conseguiu melhorar os seus rendimentos. O cenário melhorou porque diminuiu a quantidade de fruta ofertada tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil", comemorou.
A Associação Brasileira de Citricultores espera uma quebra de safra ainda maior (260 milhões de caixas de laranja este ano). "Acreditamos que esta safra ficará entre 250 e 260 milhões de caixas; se compararmos com os 330 milhões de 2009, a queda foi grande. Mas os produtores ficaram felizes", comentou o presidente da entidade, Flávio Viegas.
Apesar das discordâncias, ambos acreditam em uma safra pouco maior em 2011, dado principalmente o desenvolvimento da fruta e o clima. Para Viegas, a expectativa de recuperação é grande: embora a primeira florada não tenha rendido o esperado, a segunda se desenvolveu bem. "É provável que tenhamos uma certa recuperação porque o clima não foi dos piores. Agora dependemos muito de como será o clima daqui para a frente", disse.
Em relação aos preços para o próximo ano, o presidente da CitrusBR acredita em manutenção de valores mais elevados, descartando qualquer possibilidade de um ano de baixos rendimentos.
Representatividade
A união entre produtores e indústrias em uma única associação, visando a regular o setor cítrico, parece ainda indefinida. Depois de nove reuniões este ano entre ambos para definir as diretrizes da Consecitrus, como será chamada, um protocolo de intenções foi finalmente assinado. No entanto, o que parecia encaminhado ganhou novo entrave, já que a indústria elegeu a CitrusBR como representante na nova associação, mas as três associações do lado dos produtores, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), a Associtrus e o Sociedade Rural Brasileira, agora divergem sobre como criar uma única entidade, para complementar a Consecitrus.
O secretário de Agricultura do estado, João Sampaio está otimista de que a situação será resolvida em breve e que as discussões fazem parte do processo. "O que temos hoje é uma discussão sobre o modelo do Consecitrus que eles querem construir, é imprescindível esta discussão", comentou.
Para o representante da Sociedade Rural, Gastão Crocco, formar uma única associação de é um processo longo, tanto pelas diferentes opiniões quanto pelos interesses. "Nós ficamos 40 anos sem entidade, e podemos esperar mais para fazer a coisa certa. O produtor, quando planta a semente de laranja, espera três anos para colher uma fruta. Por que estão com pressa?" minimizou.
Repercussão
Em meio a estes conflitos, a Associtrus, que já mantém um processo contra as indústrias de suco de laranja alegando a criação de cartel, acredita que o interesse repentino das fábricas em criar o Consecitrus tem como foco tirar as atenções e melar o processo. Para Viega, essa intenção ficou clara depois do pedido da desembargadora responsável pelo recebimento de papéis do processo. "Ela autorizou a inclusão do protocolo de intenções que assinamos para criar o Consecitrus: isso é a prova que a indústria não tem boas intenções", disse.
De acordo com uma fonte que preferiu não se identificar, este é um processo judicial que corre em paralelo ao principal e apenas analisa as provas. "Não há qualquer ligação entre o pedido da desembargadora e as indústrias", declarou.
Veículo: DCI