Com as restrições ao crédito anunciadas pelo governo, o segmento de eletroeletrônicos e as concessionárias de veículos são os que devem sentir o maior impacto do anúncio do Banco Central (BC), que calcula que R$ 61 bilhões em crédito deixarão de circular com o aumento do compulsório. Quem chama a atenção de forma positiva é o setor de vestuário e o de alimentação fora do lar, que não devem sentir o arrocho do crédito, segundo dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio).
De acordo com a entidade, a previsão é de um crescimento que não passará de 6% para o comércio em geral. Em um cenário mais otimista, a entidade acredita que este número pode alcançar no máximo mais dois pontos percentuais contra o crescimento deste ano, que varia entre 10% a 12% devido a incentivos governamentais como a redução do IPI e a ampliação do número de parcelas com compra sem entrada.
Para driblar o clima de crescimento menor, algumas redes, por outro lado, têm encontrado saída. É o caso da Marisa, que atua no vestuário. Visando ao momento do mercado, a rede de lojas da marca amplia agora o prazo de pagamento das compras de Natal para as clientes que fizerem o pagamento com os cartões Marisa e Marisa Itaucard.
A venda é dividida em até 10 vezes, sem juros, e a primeira parcela é paga até 100 dias depois. A promoção é válida em todas as lojas Marisa, exceto a loja virtual. A rede Riachuelo segue a mesma linha estratégica para aumentar as vendas, e joga a primeira parcela para 40 dias depois da compra - em cinco vezes sem juros. Quem mantém a linha para pagamento, porém de maneira personalizada, é a rede Lojas Renner, que não estica o tempo para pagamento, mas em contrapartida o cliente parcela em até oito vezes com juros.
Ajustes fiscais
Apesar das ações do segmento de roupas e acessórios, para a Fecomércio-SP, o varejo paulista deverá crescer em torno de 4% em 2011. O resultado será um reflexo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que, segundo a entidade, chegará a 4,5%, em decorrência da base de comparação mais forte deste ano. Irão contribuir para esse resultado a provável alta dos juros ao longo de 2011 e a possibilidade de crescimento mais modesto de emprego, renda e crédito. "O primeiro semestre de 2011 deve ser ainda de aumento mais forte baseado no efeito carry over [crescimento acumulado no passado], com desaquecimento gradual a partir da segunda metade do ano", afirmou a entidade, em comunicado.
Segundo o diretor executivo da Fecomércio, Antônio Carlos Borges, o governo federal não deve aumentar a taxa básica pelo menos no primeiro trimestre de 2011 visto que o capital de giro do varejo já foi retirado para conter os gastos. Quem discorda desta análise, em termos, é o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz, que acredita que inflação em alta pode levar BC a aumentar taxa da Selic. Segundo o especialista, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) "facilmente ultrapassará o nível de 6%" este ano, prevê Braz. "Eu acho que quanto antes o BC fizer um ajuste, melhor será, até porque uma mudança nos juros agora só terá efeito sobre a economia daqui a alguns meses. Melhor tomar logo um posicionamento para colher os frutos lá na frente", defendeu.
Crescimento
O primeiro semestre de 2011 ainda vai registrar crescimento mais forte baseado no efeito carry over, com desaquecimento gradual a partir da segunda metade do ano. Esse resultado ocorrerá devido a pressões sobre os preços que devem impulsionar os juros em 2011, além da possibilidade de queda nos preços das commodities. Este ano o crédito já começou a ser dilatado o prazo médio de financiamento foi dilatado de 390 para 460 dias, com inadimplência estável.
A entidade afirma ainda que tudo vai depender de como o governo irá se organizar e que é contra qualquer tipo de taxas tanto para o comércio quanto para a indústria, como o retorno da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
"Na minha avaliação, esse projeto de lei é inconstitucional, desnecessário, ineficaz, e ainda aumenta a carga tributária, portanto não há razão nenhuma no mundo para se dar apoio a algo desse tipo", disse o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, referindo-se à proposta de retorno da CPMF na forma de Contribuição Social para a Saúde (CSS).
Veículo: DCI