Logística de Ambev, Nestlé e Sadia, entre outras, já inclui entregadores com bicicletas e triciclos e venda porta a porta
Empresas contratam entregadores nas comunidades para facilitar identificação de endereço irregular
As classes C e D estão indo às compras na internet. E as transportadoras se virando para entregar. De barco, bicicleta, triciclo, carrinho de mão ou mesmo a pé, as empresas estão chegando a localidades onde nem mesmo os Correios se aventuram.
Em maio deste ano, quando as favelas da zona norte do Rio de Janeiro ainda eram dominadas por traficantes, a transportadora Direct Express montou uma base na Vila Cruzeiro, na Penha.
A operação -que hoje contabiliza 500 entregas por dia- só foi possível a partir de uma parceria com um projeto de inclusão social de jovens, o Atitude Social, ligado à ONG Ibiss.
Os entregadores da Direct, muitos ex-traficantes, usam uniformes e trabalham de bicicleta, a pé, de moto ou furgão. São 20 entregadores, que percorrem todas as favelas do Complexo do Alemão.
Antes da parceria, a Direct contabilizava 18 assaltos e R$ 180 mil de perdas com mercadorias roubadas no caminho da entrega em um ano na região. "Nunca ninguém tinha conseguido fazer entregas regularmente no Alemão", diz Luiz Nascimento, sócio da Direct.
Com uma cobertura de 500 cidades em todo o país, e 1 milhão de entregas por mês, a Direct Express deve faturar R$ 130 milhões neste ano, alta de 60% ante 2009. A alta, diz Nascimento, foi impulsionada pelo aumento do poder de compra das classes C e D.
"Temos percebido uma mudança no perfil da entrega", diz. Há dois anos, 80% dos endereços eram em condomínios, em bairros nobres e com CEP estruturado, e 20% em bairros periféricos. Hoje, a conta é 60% e 40%.
A demanda das classes mais baixas também leva a um aumento de "ocorrências": quando uma entrega não acontece por problemas de endereço ou ausência do morador. Para reduzi-las, a empresa implantou uma tecnologia que agiliza a comunicação com o cliente.
Enquanto o entregador segue a sua jornada, a central tenta localizar o cliente e, sempre que possível, o entregador pode fazer uma nova tentativa no mesmo dia.
Levantamento da empresa de pagamentos digitais MoIP mostra que 52% dos consumidores de e-commerce são da classe C.
"Os lotes diminuíram de tamanho e hoje é preciso entregar menos volumes em um número muito maior de pontos", avalia Adalberto Pazan, presidente do conselho da Aslog (Associação Brasileira de Logística).
Segundo Pazan, essa mudança de perfil tem pressionado as margens no setor. "As transportadoras terão de encontrar nichos de especialização ou crescer para ganhar em escala." Essa pressão de custos explica a onda de fusão no setor.
No primeiro semestre de 2010, foram realizadas oito operações de fusão e aquisição, segundo levantamento da consultoria PricewaterhouseCoopers. Juntas, somaram cerca de R$ 1 bilhão.
NESTLÉ
As inovações para atender ao novo consumidor da classe C e D não se limitam ao varejo. As indústrias também estão inventando novas formas de levar seus produtos para essa população.
A Nestlé conta com um sistema de microdistribuidores que ficam na "entrada" das periferias das grandes cidades e que abastecem um time de revendedoras.
O programa Nestlé Até Você começou há quatro anos de forma restrita em São Paulo e hoje já conta com mais de 7700 revendedoras em 19 Estados. Elas são abastecidas em 235 centros de microdistribuição e vendem os produtos em seus próprios bairros, em carrinhos de mão.
Veículo: Folha de S.Paulo