Cresce importação de substitutos para algodão

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Fibras artificiais devem ocupar 10% do mercado da pluma na indústria têxtil e de fiação

 

Com preços até mais altos que as cotações internacionais recordes, o algodão no Brasil começa a ganhar substitutos na indústria. Mais baratos do que a pluma, o poliéster e o raiom, duas fibras artificiais não fabricadas em larga escala no país, avançam nas estatísticas de importação, e a estimativa é de que ocupem em 2011 pelo menos 10% do mercado que seria do algodão.

 

Em 2010 o Brasil importou 167 mil toneladas de poliéster, já 17% mais do que em 2009, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) compilados pela Safras & Mercado. Outras 62,5 mil toneladas de raiom também entraram no país em 2010, um alta de 5,2% sobre o registrado no ano anterior.

 

Essa movimentação é só a ponta do iceberg, diz Ivan Bezerra Filho, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Com os preços ainda mais altos da pluma em novembro e dezembro, a procura pelos sintéticos cresceu, o que deve se refletir nas estatísticas de importação de fevereiro e março.

 

Em 2010, a indústria têxtil consumiu 1 milhão de toneladas de algodão, informa Bezerra, 11% mais do que em 2009. Neste ano, a demanda industrial pela pluma alcançaria 1,1 milhão de toneladas, mas deve empatar com 2010 por causa da entrada forte de poliéster, raiom e viscose, segundo Bezerra, que também preside a TBM Têxtil. "Há um ano, o poliéster valia 20% a 30% mais do que o algodão. Agora, seu preço é 20% menor", diz.

 

Nos últimos 12 meses, o indicador Cepea/Esalq para o algodão valorizou-se 136%, com a libra-peso saindo do patamar de 144 centavos de real para 340 centavos de real. Desde o início de novembro, a alta já é de 40%. Na bolsa de Nova York, o algodão teve ontem limite de alta (400 pontos), fechando a 140,37 centavos de dólar por libra-peso.

 

"Há um descolamento. Os preços no Brasil estão mais altos do que em Nova York", diz Camila Machado, analista da Safras & Mercado. Aqui, explica ela, a libra-peso está em 340 centavos de real. Em Nova York, a mesma libra-peso vale o equivalente a 242 centavos de real. "Mesmo com o acréscimo do frete, o valor é inferior", afirma a analista, lembrando que até abril não haverá incidência de imposto de importação de algodão, por uma concessão feita pelo governo.

 

Ela não acredita que a entrada das fibras substitutas vá trazer impactos aos preços internos do algodão. "Isso porque neste momento a diferença entre o quilo do poliéster e da pluma não é tão grande". Além disso, tudo indica para uma alta das fibras artificiais. "Já há indústrias com dificuldades de comprar poliéster no mercado internacional, provavelmente, resultado de um movimento mundial de substituição", acrescenta.

 

O Brasil, lembra a especialista, é exportador de algodão. Mas está precisando importar volumes maiores da commodity porque houve quebra na colheita. A previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) era de uma produção de 1,238 milhão de toneladas de algodão em pluma na safra 2009/10, colhida no segundo semestre de 2010.

 

No entanto, o clima desfavorável levou a uma colheita de 1,1 milhão de toneladas. Com um consumo interno de 1 milhão de toneladas e uma exportação já fechada em contratos antecipados de 350 mil toneladas, restou à indústria nacional importar 250 mil toneladas para fechar a conta até que chegue a próxima colheita, a partir de agosto deste ano.

 

Nesta temporada, em plantio, o Brasil deve ter uma safra recorde, de 1,8 milhão de toneladas, segundo a Conab. Já estão comprometidas para exportação 400 mil toneladas desse volume, apenas com base em registros da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) informados pela Safras & Mercado. Segundo estimativas da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), o volume da produção deste ano já comprometido (mercado interno e externo) está na casa de 1,1 milhão de toneladas.

 


Veículo: Valor Econômico


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