Quase um ano depois do anúncio da compra da Quattor pela Braskem e Petrobras, a Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plásticos), uma das entidades que representa a terceira geração do setor petroquímico, questiona o fortalecimento da petroquímica brasileira, controlada pelo grupo Odebrecht, no mercado nacional e os impactos negativos à cadeia.
Ontem, o presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho, reuniu-se com o conselheiro do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Vinícius de Carvalho, para discutir os impactos do setor após essa aquisição. A entidade pediu para ser incluída como parte interessada no processo em dezembro, que está em análise pelo Cade.
A entidade não questiona o movimento de consolidação em si, reconhecendo até ganhos de eficiência e sinergia com a criação da gigante petroquímica nacional, segundo apurou o Valor junto a fontes familiarizadas com a operação. A Abiplast afirma, contudo, que a aquisição "não pode servir para fortalecer a posição local da Braskem e prejudicar a cadeia, que não se beneficia desses ganhos de eficiência".
Segundo a Abiplast, os preços das resinas brasileiras estão entre os maiores do mundo e "a Braskem só consegue isso porque está se tornando a monopolista da oferta local, tem medidas de defesa comercial contra a importação de resinas e ainda possui contratos de fornecimento com cláusula de exclusividade com importantes fornecedores estrangeiros". A cotação da resina plástica fechou cotada a US$ 1.250 a tonelada, valorização de 7,3% sobre os últimos 12 meses, de acordo com dados da Bloomberg, compilados pela LME (London Metal Exchange).
Roriz afirmou, em comunicado, que a entidade está se manifestando por obrigação legal e pelo dever de defender os 350 mil empregos gerados pelo setor que representa. Segundo ele, "a consolidação da posição da petroquímica Braskem como único fornecedor local, sem algumas obrigações, poderá gerar efeitos nefastos ao mercado, prejudicando principalmente beneficiários de programas sociais do governo federal e consumidores de baixa renda".
Procurada, a Braskem informou que a consolidação do setor não tem impacto sobre a formação de preços, uma vez que o setor petroquímico é global. Os preços são definidos pelo equilíbrio entre oferta e demanda no mercado internacional.
Ainda de acordo com a Abiplast, 95% das indústrias da terceira geração petroquímica (11 mil indústrias) são empresas com menos de 100 empregados, e sem competitividade para importar as matérias-primas para transformação de plásticos.
Veículo: Valor Econômico