As classes C e D são a nova meca dos comerciantes de Ribeirão Preto. Segundo pesquisa do Índice de Potencial de Consumo (IPC) Target, esse estrato tem um potencial de consumo que corresponde a 47% da movimentação econômica da cidade. Pela metodologia, integram o grupo pessoas cujo salário varia de R$ 1 mil da R$ 5,1 mil, ou dez salários mínimos. Estima-se que cerca de 150 mil moradores de Ribeirão Preto estejam nas classes C e D.
Diante um cenário tão vigoroso, os investimentos para atrair o público consumidor dessas classes vai de vento em popa. Tanto que a cidade recebeu, nos últimos meses, investimentos de mais de R$ 100 milhões para instalação de estabelecimentos comerciais com esse público. É o caso do grupo Pão de Açúcar, que acaba de abrir duas lojas das bandeiras Extra e Assaí direcionadas para esse público. Os investimentos superaram os R$ 40 milhões.
Para a economista Rosalinda Pimentel, o reforço em políticas públicas voltadas para abertura de crédito contribuiu para a expansão de renda das classes menos favorecidas.
"Ribeirão replica o que acontece nacionalmente e o poder de compra da população está maior", afirmou. Ela acredita, inclusive, que a cidade deve receber novos investimentos de empresas de olho nesse setor ao longo de 2011. "Tanto no comércio de bens quanto de serviços, a tendência é que a situação se mantenha favorável ao consumo dessas classes", informa.
Disputa
As classes C e D representam metade dos 300 mil moradores de Ribeirão Preto que estão na população economicamente ativa, ou que está apta a trabalhar. No total, a cidade possui 605 mil moradores, segundo o Censo 2010 recém-concluído pelo IBGE. Os demais 150 mil ribeiropretanos economicamente ativos se dividem entre as classes A e B (renda mental de até R$ 20 mil) e na E, que recebe até R$ 1 mil por mês.
O consumidor C e D atrai o varejo supermercadista porque, segundo apurado junto ao setor, além do poder de compra revigorado, esse nicho da população tende a manter em alta o ritmo de consumo. A avaliação é que ao longo de 2011 esses moradores podem até comprar menos bens duráveis, mas vão manter o consumo dos supermercados. Isso porque, no ano passado, a maior parte dos trabalhadores desse segmento teve aumento real, como o caso de comerciários, metalúrgicos e operários da construção, ao contrário de algumas profissões graduadas, que tiveram aumento de salário apenas com base na inflação.
Mercado imobiliário
Essa nova classe média, com maior poder de consumo, também está impulsionando as vendas no mercado imobiliário de Ribeirão Preto. Os imóveis para esse público já ultrapassam os 60% dos lançamentos na cidade. Segundo especialistas, essa classe se tornou o poder de compra do setor.
"Hoje o número dessas unidades está acima de 60% dos lançamentos e deve crescer ainda mais. Há demanda, gente para comprar. E as pessoas dessa classe ainda estão percebendo que possuem esse potencial de compra", afirma o diretor de imobiliária João Paulo Fortes Guimarães.
E em Ribeirão Preto, os imóveis destinados a essa classe variam entre R$ 80 e R$ 140 mil, sendo que a prestação gira na casa dos R$ 500 mensais. Um mercado inflacionado na opinião de alguns empresários. Ainda assim, analisam os industriais, esse nicho continua a ser o mais beneficiado com as medidas de fomento. "Essa classe está com uma capacidade de endividamento maior, por conta das linhas de créditos dilatadas e das taxas mais acessíveis. Isso coloca o empreendedor de olha na base da pirâmide, já que aí está o maior déficit habitacional", afirma Alexandre Melão, sócio-diretor da Ecoesfera.
Demanda
A demanda da classe C e D por imóveis, no entanto, pode sofrer uma queda. Essa é a avaliação do diretor regional do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) de Ribeirão Preto, José Batista Ferreira, que acredita que o boom registrado nos últimos anos teve como causa fatores incomuns na economia. Segundo ele, houve a união de um período de crescimento econômico a um projeto consistente do governo federal para o setor de habitação. "As classes mais populares estão atendidas pelo projeto 'Minha Casa, Minha Vida'. Mas esse é um projeto, precisam de continuidade para que a demanda não caia", avalia José Batista
Batista ressalta que as instituições que congregam a indústria do setor, como o Sinduscon e a Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC) lutam para que sejam perenes. "De concreto, podemos dizer que houve a viabilização desse boom por conta de uma eleição. É preciso que esse projeto seja não de um governo, mas de vários governos, para sustentar o mercado. Que há demanda, não há dúvida. Mas sem incentivo e políticas eficientes do governo ela tende a não ser suprida", avalia.
Veículo: DCI