O inferno astral do Carrefour

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Desde que o executivo sueco Lars Olofsson assumiu o comando da rede varejista francesa, os resultados só pioram. A solução agora pode ser dividir a empresa em três

 

Bernard Arnault, o homem mais rico da França, fica muito irritado quando vê frustradas suas expectativas de grandes lucros. Dono de marcas como Louis Vuitton, Moët Chandon e outras grifes do mundo do luxo, Arnault conhece bem os tigres do fundo de investimentos Colony Capital. 

 

Em 2007, ele e o fundo se encontraram em uma nova aposta: o sempre promissor mundo varejista. Arnault e o Colony compraram 14% do capital do Carrefour, a maior varejista da Europa e número dois no mundo.

 

Até hoje, porém, não só estão longe dos lucros prometidos, como contabilizam desvalorização de quase 40% de suas ações. As pressões por resultado são tantas que ambos chegaram a sugerir venda das operações do Carrefour em mercados emergentes, como China e Brasil.
 


Mais recentemente, a pedido dos parceiros, o banco BNP Paribas desenhou o que pode ser a solução para ativos tão desvalorizados: a divisão da empresa em três unidades de negócios: a bandeira popular Dia % e a Carrefour Property, companhia que gerencia os imóveis do grupo, seriam empresas independentes e teriam ações negociadas em bolsa.
 


A notícia, divulgada na semana passada pelo jornal francês “Le Figaro”, foi confirmada em nota enviada à DINHEIRO pela direção do Carrefour na França. Se a ideia será levada adiante ainda não se sabe.
 


O que é possível afirmar é que os astros definitivamente não conspiram a favor do CEO da empresa, o sueco Lars Olofsson, escolhido exatamente por Arnault e pelos homens do Colony para fazer do Carrefour uma máquina de cuspir notas de euros, tal qual um cassino.
 


O caminho de Olofsson, Arnault e Colony cruzaram-se em meados de 2007. Com uma sólida carreira construída na Nestlé, maior fabricante de alimentos do mundo, Olofsson era um dos nomes cotados para substituir Peter Brabeck, CEO da companhia suíça.

 

Ele trabalhou por quase 30 anos na Nestlé e chegou ao cargo de diretor mundial de marketing da empresa. Nessa função, Olofsson era o homem da comunicação de uma das maiores anunciantes do mundo.
 


Quem trabalhou com o sueco nos tempos de Nestlé garante que, apesar do prestígio e poder, ele sempre foi um executivo próximo de seus colaboradores. “Olofsson exerce a liderança de forma muito natural.
 


Impõe respeito sem precisar mandar. Ouve, realmente com atenção, e faz questão de deixar o interlocutor à vontade”, diz um executivo  brasileiro que teve contato com  Olofsson.
 


O despojamento do atual comandante do Carrefour é tanto que, há cerca de cinco anos, quando ainda era da Nestlé e esteve pela última vez no Brasil, ele não só foi ao Mercado Municipal de São Paulo como ainda provou o tradicional sanduíche de mortadela, uma das iguarias culinárias do local.
 


“Não dispensou uma dose de cachaça quando o dono de uma barraca ofereceu”, afirma o executivo. De acordo com um dos muitos amigos que cultivou na França, Olofsson está sofrendo com os rumos do Carrefour.
 


“Ele vem de uma cultura diferente e, embora seja um dos melhores de sua geração, se sente frustrado por não entregar os resultados cobrados”, diz um empresário francês, amigo de Olofsson.

 

Quem conhece a trajetória do Carrefour acha pouco provável que Olofsson possa ser bem-sucedido na empreitada. Não só porque o mercado varejista tenha mudado em todo o mundo e encolhido, particularmente na Europa.  O gigante francês, na verdade, enfrenta uma séria crise de identidade. Segundo o empresário que trabalhou com Olofsson, quando as coisas não iam bem na Nestlé, evocava-se a alma de Henry Nestlé, o fundador da empresa.
 


O Carrefour, que nasceu da associação de duas famílias de comerciantes, os Defforey e os Fournier, perdeu as referências e muito de sua alma quando as famílias se afastaram do negócio.
 


No Brasil, não bastassem as pressões de Arnault, há um problema adicional. A contabilização errada de bônus concedido pela indústria abriu um rombo de R$ 1,2 bilhão no balanço da companhia e complicou ainda mais o caminho trilhado pelo sueco.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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