Produtividade maior atrai agricultor

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No meio de tanta espiga de milho descascada, com grãos graúdos à mostra, como escolher a melhor opção para o plantio? O mesmo vale para a soja, com diversas opções de variedades disponibilizadas pelas empresas de sementes, que exibem placas com propaganda ao lado de plantas viçosas e carregadas com vagens. A oferta de tecnologia cresce a cada ano e, mais do que saber plantar e colher, o agricultor, de pequena ou grande propriedade, precisa aprender sobre biotecnologia, um dos termos mais usados hoje no campo.

 

O assunto atrai até gente que, no dia a dia, atua em outras áreas. O diretor geral brasileiro de Itaipu Binacional, Jorge Samek, esteve no primeiro dia do Show Rural, em Cascavel (PR), em busca de novidades na área de soja. "Estou atrás de maior produção, menor custo e uso de menos veneno", disse, ao chegar ao estande da Coodetec, cooperativa de pesquisa. O interesse por tecnologia tem razão de ser. No passado, ele colhia 100 sacas de soja por alqueire na propriedade de 400 alqueires que a família tem na região oeste do Estado. Em 2010, conseguiu 204 sacas.

 

Num auditório lotado, o vice-presidente da Monsanto, Robert Fraley, mostrou no Show Rural o que vem pela frente com frases de impacto, como "não dá para imaginar um momento mais interessante", "o futuro da agricultura vai ser acelerado" e "a curva de produtividade vai aumentar".

 

Para vice-presidente da Monsanto, Robert Fraley, curva de produtividade crescerá e futuro da agricultura será acelerado

 

Melhor controle de insetos e plantas daninhas e culturas mais resistentes a secas por meio da transgenia são as promessas. "É difícil entender tudo, mas estamos entrando no ritmo", disse, na saída, Gilnei Dela Libera, que planta soja, milho e trigo em 12 alqueires na região. E, em cada estande que ele fosse em seguida, receberia mais informações, revistas e propagandas de produtos.

 

Para Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, cooperativa que organiza o evento há 23 anos, a possibilidade de ter várias tecnologias dentro de uma mesma semente representa o grande salto do momento. Ele destaca também outras inovações que resultaram em ganhos ao longo do tempo, como estudo da época certa para o plantio e o espaçamento das sementes - no caso do milho, usava-se 90 centímetros entre linhas e, agora, alguns usam 45, o que permite que seja utilizada a mesma máquina que semeia a soja.

 

"Aqui o produtor fica sabendo o que vai comprar na hora do plantio", diz. Questionado sobre o que o mais atrai o agricultor, Grolli é rápido na resposta. "Aumento na produtividade."

 

Mas como decidir o que é melhor? Ivo Carraro, diretor da Coodetec, observa que o agricultor está sendo disputado e levando um "banho de marketing". Por isso, corre o risco de tomar "decisões equivocadas". Mas ressalta que há similaridades entre os produtos que estão no mercado. "Se ele escolher uma entre as dez melhores opções, está bom", acrescenta.

 

De acordo com Carraro, muitas vezes a diferença está no serviço prestado pelas empresas e na proximidade com o agricultor. "Todo ano surgem novidades e o agricultor é beneficiado com isso. Daí ele aprende e comprova na prática o que está sendo oferecido."

 

Na opinião de Marcelo Gravina de Moraes, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), a competição é saudável. "No sentido técnico, é bom manter a diversidade de cultivares, para eliminar riscos", explica. "No campo comercial, a competição é boa." Segundo ele, o que se percebe é que o produtor não muda de tecnologia de uma única vez. É comum observar o que o vizinho está fazendo com sucesso e usar o mesmo em parte da área.

 

Divania de Lima, pesquisadora de transferência de tecnologia da Embrapa Soja, ressalta que é preciso "qualificar a informação" e ter um bom planejamento. Ela lembra que os períodos foram divididos entre antes e depois da Lei de Proteção de Cultivares, em 1997, que atraiu o interesse de multinacionais pelo Brasil. "Eu gostaria que, além de produtividade, o agricultor buscasse o menor custo", diz. Ela também cita o desejo cada vez maior por variedades precoces, com soja de ciclo curto, que permite o plantio de milho safrinha, para ter aumento de renda e menor risco - exceto em caso de estiagens.

 

Além do discurso de aumento de renda e redução de riscos, há também o que fala da necessidade de produzir mais para combater a fome no mundo. E, animados pela boa safra, produtores de perto e de longe, até do exterior, decidiram conferir de perto o que está à disposição. Ouviram, em palestra do ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, que o preço médio da soja deve aumentar 48% em 2011. A previsão de aumento para o milho é de 28% e, de açúcar, 25%. "Está havendo uma inversão da tendência de excesso de oferta e preços baixos", afirmou Reinhold Stephanes, ex-ministro da Agricultura.

 

Mesmo que a tecnologia ligada a grãos seja a grande estrela, há no Show Rural, que acaba amanhã, uma ala diferente. Adilson Marzurkiewicz quer diversificar a produção e destinar meio hectare ao plantio de uva. Técnicos da Emater, focados no desenvolvimento com inclusão social, orientam que a fruticultura pode render até 10 vezes mais que a soja. Em outro espaço, ela faz o visitante lembrar o cheiro da comida da vovó e ver a transformação da produção em doce de banana. Ou ensina a maneira correta de usar bicos de pulverização da lavoura e de coletar esporos de fungos, uma arma contra a ferrugem da soja.

 

Em outro ponto, a Embrapa apresenta o que chama de "a nova arca de Noé", destinada não apenas à preservação de animais, mas também de plantas que correm riscos com o aquecimento global, erosões, queimadas e outros problemas. Sementes e vegetais são armazenadas em condições especiais e sem modificações em bancos genéticos. Uma maneira de conviver com a tecnologia sem perder a memória.

 

Veículo: Valor Econômico


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